08/11/2017
muito embora não se esbarrassem, o pato amarelo e o pato vermelho viviam
se encontrando.
e nem poderia ser diferente, afinal pertenciam ao mesmo setor social.
aquela camada amorfa, sempre em crise de identidade, perdida em suas insuperáveis
contradições. a abominável classe que odeia a si mesma: fascista,
violenta e ignorante.
apesar do pato vermelho se imaginar muito diferente do pato amarelo, seus
modos de vida não eram assim tão dessemelhantes. o terno elegante no cabide. o
carrão reluzente na garagem. a mesinha de centro com tampa de vidro na sala. os
segredinhos sujos dentro do armário.
ao notar que o pato amarelo estava acabrunhado, o pato vermelho
pataqueou:
- "bem feito. não era só tirar
a Dilma... agora aguenta!"
- "mas quem votou no Temer foi
você", retruca prontamente o pato amarelo. "eu não tenho culpa. eu votei no Aécio!"
- "vai lá bater panela, vai.
por que agora não está batendo panela prá tirar o Temer?", provoca o
pato vermelho.
- "vai prá Cuba! e leva
contigo a corja esquerdista!", berra cada vez mais exaltado o pato
amarelo.
- "eu te odeio, fascistinha de
merda!", grita o pato vermelho, ao se proteger da investida do pato
amarelo.
- "tá com peninha de pobre e
bandido? leva eles prá sua casa!", com o bico em riste avança o pato
amarelo.
sabendo ser inútil intervir, nosotros
observávamos aquela dupla de patinhos no atoleiro. se antes o pato amarelo achou
que bastava tirar a Dilma, agora era a vez do pato vermelho acreditar piamente ser
apenas uma questão de colocar de novo o Lula-lá.
mesmo com toda sua pataquada, a pataria só engana a ela mesma. estão
todos em busca de um candidato para chamar de seu. um Salvador da Pátria a quem possam delegar a responsabilidade sobre
suas vidas.
e nem adianta o pato vermelho perdoar o pato amarelo, para reunir todos
os patos sob o mesmo refrão: "pato
unido, jamais será vencido!"
pouco importa a cor do pato, no fim das contas seríamos outra vez nós
todos, os patos, quem iriam pagar a conta.
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