30 outubro 2010

o PT e a sola dos sapatos de FHC [1]

em 1978, Lula e os metalúrgicos do ABC, além de defenderem um sindicalismo desatrelado do Estado, viam com grande desconfiança a participação na política institucional e parlamentar.

 apesar disto, Lula acabou apoiando, numa dessas voltas da roda da História, a candidatura de FHC ao Senado pelo MDB.

enquanto se desenrolava uma reunião do comitê de apoio e o vaidoso candidato discorria em seu tom professoral, algo nele chamava mais atenção que suas palavras acadêmicas.

de pernas cruzadas e com o pé sobre o joelho, era impossível não reparar a sola do sapato de FHC. elas não possuíam sequer um arranhão. aqueles sapatos sempre estiveram sobre pisos atapetados. aquele homem jamais pisava na rua. sempre circulava por gabinetes e ambientes climatizados.

naquele momento, ficou patente que pessoas como aquela jamais poderiam fazer com que, furando o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio, brotasse a Rosa do Povo.

ali o PT começou a ser gerado com a certeza que poderiam arrancar mil flores, mas jamais impediriam a chegada da Primavera.

então, a roda da História se pôs a girar mais decidida do que nunca no Brasil. pela primeira vez neste país, os trabalhadores reivindicavam a condição de protagonistas.

em 10/02/1980, o PT nasceu como um partido eminentemente não parlamentar, com foco no movimento social, firmemente apoiado nas bases, com um sólido conceito de democracia interna e voltado para a criação de um socialismo libertário.

muitas reviravoltas depois e ao chegar a Presidência da República, o PT se tornou a antítese daquele que sonhava ser a Primavera. seus dirigentes se converteram em arquétipos de burocratas e políticos profissionais. e se pode dizer que em nada ficam a dever ao solado dos sapatos de FHC...

o mundo mudou? ou mudaram de idéia? e daí... [2] ninguém mudou? é a vida que muda... [3]

de um organismo vivo e a serviço dos movimentos sociais, o PT foi reduzido a uma máquina burocrática para atender ambições pessoais. a militância petista abandonou as ruas e o partido consolidou o modelo de campanha eleitoral financiado pelos grandes empresários e conduzido pelos marketeiros. [4]

hoje, restou apenas um quadro na parede. um espantoso peixe cabeludo. assinado por José Sarney. [5]

mas como dói! [6]




[1] arkx, “a sola dos sapatos de FHC e a roda da História 
[2] Zé Dirceu, 05/2003
[3] Lula, 05/2003
[4] arkx, “zé ninguém”
[5] “O Consultor”, Daniela Pinheiro, Revista Piauí, 01/2008
[6] Carlos Drummond de Andrade, “José”

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