22 julho 2017

os Brasis: esfinge sem enigmas

22/07/2017

nunca houve neste país nenhuma Direita unida. a luta de classes é também uma luta entre frações de classe. a cleptocracia brasileira não hesitou em demolir as empreiteiras e tentar conduzir a JBS ao abatedouro. o Almte. Othon e o programa nuclear estão encarcerados, sem nenhuma manifestação do Clube Militar ou qualquer vôo rasante de jatos despedaçando vidraças do STF. a indústria naval jaz encalhada, enferrujando. enquanto Aécio dá seguimento a sua carreira elogiável, Cabral em Bangu admite ter exagerado. cadeia produtiva de óleo e gás desarticulada, desindustrialização, queda no consumo arrasando com o mercado interno, setor de serviços insolvente, recessão, estagnação, deflação, ainda assim nenhuma reação coletiva empresarial. na guerra de famiglias, as grandes empresas de mídia começam também a se devorar;

a Globo nunca mandou neste país. nascida do Golpe de 1964, a Globo sempre foi sócia do capital financeiro internacionalizado, portanto do grande negócio da economia mundial: o Black Market. apontar a Globo como quem manda no Brasil, nunca passou de um ardiloso e conveniente diversionismo do Lulismo, pois nomear banqueiros e grande empresários como o núcleo da plutocracia brasileira seria também inviabilizar sua principal fonte de recursos de financiamento de campanhas. apesar da narrativa reducionista na qual a luta de classes se converte numa briga contra a Globo, esta sempre pode contar com generoso patrocínio público e com fartas verbas publicitárias. sem nunca ter investido na criação e no fortalecimento das mídias alternativas e independentes, com um movimento autônomo sendo capaz de produzir autonomamente seus meios de expressão e comunicação, o Lulismo manteve paralisada esta enorme energia criativa. mantendo os olhos fixos na telinha televisiva, dando audiência para o Jornal Nacional e o Fantástico, mesmo sendo apenas para mais uma vez repetir uma tediosa confirmação: a Globo distorce, omite e mente. em vez de construir uma mídia que somos nós, manteve cativos espectadores revoltados, mas sempre espectadores;

a mídia produz modos de viver. todo o poder da Globo não consiste exclusivamente em ser uma grande empresa de mídia, e sim por se constituir na agência de propaganda e marketing da plutocracia brasileira e de seus sócios internacionais. a Globo não é apenas uma arma de controle, e sim uma fábrica de modelos de comportamento, uma geradora de estilos de vida. o negócio da Globo, enquanto mídia, é produzir subjetividades: criar e moldar a legião uniforme de insaciáveis consumidores, mas sem nenhuma apetência para se tornarem cidadãos. com a web esvazia-se irrecuperavelmente o espaço de atuação tanto da Globo como de todas as mídias tradicionais. cada usuário se converte também em produtor de conteúdo. produção, consumo e circulação convivem simultaneamente no mesmo circuito. não que isto tenha tornado o problema menor. ao contrário, ao deslocá-lo e descentralizá-lo, o mesmo efeito produzido antes pela Globo, agora está disseminado pelas bolhas das redes sociais. temos agora livre acesso a comunicação. e quanto mais nos comunicarmos por este acesso, menos livres seremos;

uma superação da crise exige a superação do Lulismo. a Ex-querda e o Lulismo agem como se estivessem negociando um acordo, mas na verdade não estão. mas ainda que estivessem, seria uma inútil solução para o impasse atual. já não existe qualquer viabilidade para um Pacto à la Brasil. tanto à Direita quanto à Esquerda, todas as máscaras caíram. em situações limite todos se revelam como realmente sempre foram: esfinges sem enigmas. meros personagens desorientados em busca de autoria. da mesma forma que o setor dominante no Brasil revelou sua completa incapacidade de gerir com a mínima funcionalidade o país, também o Lulismo deixou patente seu fracasso. ambos não tem nada a oferecer, senão mais do mesmo. ainda mais fundo num poço interminável. se Moro tornou-se cabo eleitoral de Lula, este por sua vez se gabarita como o maior eleitor de Bolsonaro. Lulinha Paz e Amor nada propõe além do mesmo Lula-Lá de antes. foi este Lula-Lá que nos arrastou até a crise atual, não será por este Lula-Lá que a superaremos. estamos numa estranha contagem regressiva. quanto mais chega ao seu término, mais distante ficava de seu objetivo. 2018 é para sempre um ano longe demais.
.

Nenhum comentário: