16/07/2017
Emir Sader - 13/07/2012 - artigo após a
condenação sem provas de Lula
"Senhoras da
Casa Grande, permitam que alguém da Senzala faça o que vocês não tem
competência de fazer neste país. Permita que alguém cuide desse povo, porque
este povo não está precisando ser governado pela elite."
nenhum retorno. a Constituição de
1988 foi jogada no lixo e o pacto Getulista foi assassinado. a cleptocracia
brasileira jamais se conformou nem com um, tampouco com o outro. o único pacto
por ela admitido é o das costas com a chibata. com o sistema político em estado
terminal, as instituições disfuncionais e os poderes Constituídos sem mais
qualquer legitimidade, não há nenhuma curva no caminho com algum retono a um
mítico passado dourado. além da ausência de contexto econômico internacional
favorável, o Golpeahment não deixa
margem para resgate da estratégia de conciliação de classes. a hegemonia às
avessas não mais atende os interesses de bancos e grandes empresas, que
pretendem continuar como nunca ganhando tanto dinheiro, mas agora às custas dos
direitos dos trabalhadores. já não se pode dar a uma classe sem tirar de outra.
o sistema de poder está morto e seu sucessor ainda não se consolidou. no vácuo deste
interregno proliferam as patologias sociais: criaturas monstruosas, fenômenos bizarros e sintomas mórbidos;
nenhuma saída. pela via
parlamentar e através da política institucional o Brasil chegou a um beco sem
saída. o burocrático calendário eleitoral é incapaz de dar conta dos intensos
momentos das lutas concretas cotidianas. as frias pesquisas de popularidade e
intenção de voto jamais substituirão o calor dos laços efetivos com as
comunidades. a hipocrisia do marketing político é ineficaz frente as autênticas
experiências de uma vida que valha a pena ser vivida. é preciso fazer política
onde se vive e com as pessoas com quem se convive. nas comunidades, inclusive
as virtuais. nas ruas da rede. e na rede das ruas. ocupar os espaços públicos,
para torná-los de fato públicos. construir coletivamente a única rota de fuga
viável: para a frente;
o futuro é o
presente. enquanto os movimentos sociais permanecerem imóveis, girando em falso
numa encruzilhada, hipnotizados pela miragem de um ano longe demais, 2018, não
haverá qualquer futuro. e o presente será uma perene sucessão de duras derrotas.
o futuro não está em 2018, está aqui e agora. em cada luta presente para
derrotar o golpe. nunca antes neste país foi tão claro quanto agora que o
impeachment é o golpe da plutocracia contra todos os demais. apenas mais um
episódio na longa tradição de golpes da História brasileira. está mais do que
desmascarado o Pacto a la Brasil para
estancar a sangria e manter incólume
o sistema de poder, expurgando apenas seu sócio mais recente: o PT. com a
condenação sem provas de Lula, desmoraliza-se definitivamente uma justiça
venal, corporativa, seletiva e classista. já não resta pedra sobre pedra. não
são apenas as pedras de nossa derrota. são também a ruína da cleptocracia
brasileira. seu atestado de incompetência para gerir o país. o setor dominante
é a crise;
o presente já não
é mais como costumava ser. com o colapso do sistema de poder, também se tornam
vencidos os velhos paradigmas. é todo um modo de se fazer política que perdeu qualquer
viabilidade. a política deve mais uma vez se enraizar no tecido das comunidades,
para produzir outras relações sociais e, portanto, outras subjetividades. esta crise
é fundamentalmente uma guerra de mundos. um mundo moribundo se recusa a morrer
para outros mundos poderem nascer. uma guerra travada também no coração e mente
de cada um de nós. os monstruosos estertores do velho mundo provocam
experiências bizarras e mórbidas: frustração,
raiva, impotência, depressão, anomia. tanto à Direita quanto à Esquerda,
busca-se ainda tábuas de salvação: líderes redentores e estruturas
hierárquicas, em vez da autonomia de um movimento vivo em constante
transformação. em detrimento do impulso emancipatório, as soluções
autoritárias: o stalinismo e o fascismo, o caudilhismo e a intervenção militar;
2018, para sempre um ano longe demais. o presente é o
tempo do esgotamento. o momento do fim. o aniquilamento de todas as ilusões. a
partir de agora o futuro do Brasil e o futuro de todos nós dependem de nossa
capacidade de nos reinventarmos. não há nenhuma síntese possível entre a Casa Grande
e a Senzala, entre o Bolsa Família e o Copom, entre a Selic e a redistribuição
de renda. o Senhor jamais permitirá que o Escravo seja livre. a liberdade é uma
conquista. e não a consequência do "cuidado" de algum capataz
generoso. o futuro depende de um amplo movimento de massas e de sua capacidade
de cuidar de si mesmo. a vida é agora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário