04/02/2017
eram muitas as análises acerca de quando aquilo tinha acontecido. alguns
até defendiam que sempre fora assim, desde o primeiro desembarque dos conquistadores.
ou talvez fossem ruínas acumuladas ao longo de séculos.
seja como for, ninguém mais podia negar, pois estava escancaradamente à
descoberto: já não existia apenas um único Brasil.
aquele Brasil de palmeiras e sabiás, da miscigenação inzoneira, da
abençoada cordialidade tropical, aquele Brasil já não há – e para ele jamais
iremos voltar. o Brasil tal qual o imaginávamos conhecer, está morto!
agora múltiplos
Brasis ocupam um mesmo espaço geográfico, mas isto é tudo que compartilham:
apenas o território. no mais só existem diferenças irreconciliáveis. são tão
incompatíveis que agora se enfrentam num estado de guerra civil de baixa
intensidade.
o Brasis da Lava Jato & Associados
e o Brasis de São Paulo Ltda. se
tornaram a principal coalizão
supra-regional do BrasilPar.
BrasilPar vem a ser uma gestora
de participações acionárias em diversas empresas e empreendimentos, uma holding
estrategicamente associada a USA Incorporation.
São Paulo Ltda. abriga a sucursal
brasileira da Tirania Financeira Global,
e tem principal commodity de exportação a taxa SELIC.
a Lava Jato & Associados
fornece a blindagem jurídica da Democracia sem voto. na qual todo poder emana
do Judiciário e de sua interpretação arbitrária das leis, para garantir a conformidade
com uma constituição cujo fundamento são os juros pagos aos especuladores.
ainda alguns outros Brasis compõe o conglomerado gerido por BrasilPar, como a Vale do Rio Lama Tóxica. cartel exportador agropecuário,
especializado na pilhagem do subsolo, extinção de biomas, desertificação de
florestas tropicais, genocídio indígena e reabilitação de doenças
infecto-contagiosas consideradas erradicadas.
BrasilPar possui também uma
sofisticada agência de operações psicológicas, responsável por sucessivas
campanhas de choque e pavor midiático,
com objetivo de manter a população nativa sob permanente controle mental.
como um dos mais mórbidos fenômenos decorrente da morte do Brasil, ocorre
a saída da semi-clandestinidade do BrasiNazi.
o Brasis do povo superior da “raça Planaltina”, herdeiro do empreendedorismo
colonial dos Bandeirantes, em busca do Eldorado da matança dos miseráveis e do
holocausto do contraditório.
com a morte do Brasil, restaram apenas negócios, negócios e negócios.
nenhum projeto de país. sem qualquer esperança de Nação. a cidadania se
convertera em empreendedorismo de si mesmo. o Direito Público em Direito Privado
Corporativo. o trabalho em desemprego estrutural. a verdade em fake news. o passado em pós-futuro.
então, sob a luz asfixiante de um sol negro imóvel no meio de seu curso, um
outro insuportável descobrimento aconteceu.
mas por acaso ainda existiriam os brasileiros? todos nós que um dia fomos
brasileiros? morto o Brasil, como ainda podiam estar vivos os brasileiros? existem
os indivíduos isolados da sociedade da qual fazem parte?
uma extinção em massa povoara aquele vale dos mortos com criaturas bizarras
e monstruosas. corpos sem almas vagando por uma escuridão sem forma. os
anteriormente chamados de brasileiros
padeciam de vários os tipos de patologias. diversas enfermidades físicas e
múltipos transtornos mentais.
com o fim do Brasil, era inevitável para os ex-brasileiros a dissolução de seu ego denominado de “normal”. mas sem
a loucura que é o homem mais que a besta sadia, cadáver adiado que procria?
num mundo surreal e numa sociedade hiper-normalizada, pode aquilo que é
denominado de “loucura” ser um
processo em direção a cura natural?
enquanto os necrófilos saboreiam seu banquete, somente os antropofágicos
atravessarão o despenhadeiro das sombras. neste tempo de aniquilamento, a
questão de todas as questões: tupi or not
tupi?
ou fazemos nossa própria cremação com muita dança, música e alegria, ou
continuaremos padecendo neste inferno que se tornaram os Brasis e nossas
próprias vidas.
“há apenas uma
história: a história dos abutres contra nós. eles têm casas maiores que a
Disneylândia, nós temos aviso de execução hipotecária. eles têm jatinhos
particulares para irem a ilhas particulares, nós pagamos suas dívidas de
apostas financeiras com nossas pensões. eles têm redução de impostos, nós temos
créditos de risco. eles financiam os candidatos que nas eleições nós devemos
escolher. eles têm as minas de ouro, nós ficamos com os buracos.”
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário