06 dezembro 2007

óbvio ululante

nada é mais cansativo do que tentar demonstrar o óbvio.
[1]

para Fabio Giambiagi, um dos “expurgados” do Ipea, o Brasil não cresce porque não merece. não passamos de um país com "mentalidade de funcionário público acomodado”.
[2]

talvez as correntes aprisionando nossa economia sejam mesmo as despesas com a previdência e os gastos sociais. e por causa da Constituição de 1988 nos tornamos cidadãos de mentalidade indolente, espírito acomodado e satisfeitos em depender do Estado.

também já houve época, no inicio do século XX, em que não podíamos crescer por causa do determinismo geográfico e racial. diziam que o desenvolvimento só era possível nos climas frios e por obra de grupos étnicos superiores.

talvez sejamos mesmo um povo de índole corrompida, sem caráter, padecendo no calor dos trópicos de triste sina, irremediavelmente inscrita pela mestiçagem em nossos genes, sem que jamais sejamos capazes de superar nossa preguiça e atraso ancestrais.

se assim for, como então conseguimos ser, até 1980, a economia mais dinâmica do mundo, dobrando o PIB cinco vezes seguidas em cinqüenta anos?

o descontrole do endividamento do Estado veio após o Plano Real (1994), com a dívida interna disparando de 7% do PIB em 1993, para 13% em 1994, até chegar aos 50% em 2006. apesar de sucessivos superávits primários, desde 1994, a taxa de juros reais se manteve a mais alta do mundo.
[3]

dissimulado sob a marca do Ipea, Giambiagi dedica-se em tempo integral a destruir o que restou da previdência pública brasileira. é também co-autor de um projeto de reforma previdenciária elaborado por encomenda de um conjunto de entidades do setor financeiro.
[4]

em 1989, quando Giambiagi estava em Caracas, como membro da equipe do BID que assessorava o governo de Andrés Pérez, a Venezuela foi sacudida por intensos protestos em reação a um pacote de medidas neoliberais inspirado pelo FMI .

iniciada em 27 de fevereiro daquele ano, a explosão social ficou conhecida como El Caracazo e sofreu repressão brutal. números oficiais admitem 300 vítimas. estima-se que entre 3.000 e 10.000 pessoas foram assassinadas.

referindo-se ao episódio, Giambiagi comenta da “perplexidade” que ele e seus colegas “sentiram na Venezuela vendo como as ruas reagiam diante daquilo que no resto do mundo pertencia ao terreno da obviedade”.
[5]

a quem serve Giambiagi? não é preciso ser profeta para se enxergar o óbvio ululante...
[6]



[1] Nélson Rodrigues, citado por Fabio Giambiagi, “Raízes do atraso - As dez vacas sagradas que acorrentam o país”
[2]
Fabio Giambiagi, Folha de São Paulo, 04/03/2007
[3]
arkx, “o que merecemos”
[4]
Henrique Júdice Magalhães , “A quem serve Giambiagi?”
[5]
Henrique Júdice Magalhães, “A Previdência e o Caracazo”
[6] Nélson Rodrigues: “Só os profetas enxergam o óbvio”

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