15 setembro 2016

Brasil em transe

15/09/2016


após a estonteante queda no abismo, retornamos à superfície do espelho. com tudo desmascarado, enfim enfrentamos a nossa face.

somos um território e uma população dominados por uma plutocracia que vendeu a alma do país ao Diabo, sem se dar conta que sua própria alma também fazia parte do pacto. agora chegou o momento do acerto de contas.

o surrealismo tropicalista vivido por um Brasil delirando num transe entre o Baile da Ilha Fiscal e a Queda da Bastilha.

desde a farsa dantesca encenada pela insurreição dos hipócritas no teatro de horrores da Câmara, na votação da admissibilidade do processo de golpeachment, até o apoteótico desnudamento dos cruzados de Curitiba, com sua “Lava Jato e Associados” fundamentada num ato de fé e não em provas.

não sem antes passar por um admitido golpe de Estado, através de um impeachment sem crime de responsabilidade, numa decisão reconhecidamente criminosa tomada em prol da governança dos negócios e não da Democracia.

ainda assim, a posse da nova presidente do STF, ao som do Hino Nacional por Caetano Veloso no violão, se dá como uma cerimônia no âmbito de um grande acordo  de conciliação nacional das elites. a travessia para tempos pacificados, através de águas em revolto e cidadãos em revolta.

mesmo sem estar fisicamente presente, a voz de Cunha ecoava: “Que Deus tenha misericórdia desta nação”.

um enredo farsesco e bizantino sob a benção de um PGR carregando os Dez Mandamentos contra a corrupção: a tábua de salvação do MPF para purificar o capitalismo de compadrio tupiniquim.

como se fosse possível transformar em confortáveis colinas, de onde se contempla um vasto horizonte, as cavernas na quais se esconde uma certeza inquebrantável: a oligopolização, a financeirização e a corrupção sistêmica são endógenas ao capitalismo.

não podem ser corrigidas, portanto, pela via policial ou judicial. sua superação exige uma solução política.

enquanto os investigados, indiciados, acusados, condenados, encarcerados, torturados, difamados, perseguidos e monitorados ainda insistem numa súplica pelo pacto à la Brasil, nada resiste ao colapso. o arcabouço institucional foi implodido. não resta pedra sobre pedra.

com a falência institucional fica exposta a fratura entre o poder instituinte e os poderes constituídos.

já não há Brasil. mas Brasil houve algum dia? aquela visão do paraíso de uma Ilha de Hy-Brazil, repleta de sabiás, palmeiras e amores... não haverá retorno deste exílio.

o conchavo com o inimigo de classe só pode levar a isso: traição, descompromisso com a causa pública e pilhagem do patrimônio comum. e a Lava Jato acabou se revelando não maior do que todos nós, ela só podia ser enorme para os que se apequenaram no seu dever de questionar a aberta sabotagem à Democracia.

entre o querer ser e o já ser, vai a distância entre o ridículo e o sublime.

esta distância, entre o pesadelo do ridículo país de uma plutocracia colonial e escravocrata e a sublime Nação de nossos sonhos, só pode ser superada pelos milhares de pés anônimos marchando pelas ruas.

jamais o Brasil que sonhamos será urdido através dos pactos palacianos e dos acordos de gabinete. o Brasil que sonhamos é este Brasil que já é, com este povo sem medo que agora se levanta.

o povo que previamente fal­tava. pois não é “o povo” que produz a luta e a resistência, é a luta e a resistência que geram o seu povo.

uma estratégia para ser vitoriosa deve visar não ao adversário, mas a estratégia dele, fazendo com que esta se volte contra ele mesmo – assim sua crença no êxito é seu inevitável caminho para a derrota.

do incêndio ateado, as chamas se propagaram. já não conseguem controlá-las. agora serão  as labaredas da luta de classes que incendiarão o país.
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