09/06/2016
no longínquo ano de 1993, agora tão presente no impasse da crise atual, o
escândalo dos anões do orçamento (link) é o gênesis do
pacto de governabilidade agora demolido pela Lava Jato. Lula e o PT optaram então pelo conchavo de
cúpula, por julgarem ser inevitável sua vitória nas eleições do ano seguinte.
esqueceram de combinar com FHC e o Plano Real...
apesar de usarem cartões premiados da Loteria Federal para legalizar as
comissões recebidas, a sorte grande vinha mesmo é do propinoduto das empreiteiras.
qualquer coincidência com o esquema investigado pela Lava Jato é muito mais do
que mera semelhança.
naquela época, como nos muitos casos subseqüentes, a casa trincou, mas
logo a solução à la Brasil se impôs para a salvação nacional das oligarquias e
dos poderosos caciques parlamentares. algumas poucas cabeças foram decepadas
apenas para manter intacto o organismo de um sistema político irremediavelmente
contaminado.
agora, com a crise agigantada e com todas as pontes de acordo demolidas,
as fissuras se expandem por inteiro na estrutura de poder erguida com a Nova
República. o ultimato do PGR ao STF é mais uma explosão da demolição controlada
do sistema político-partidário. a delação premiada de Eduardo Cunha será a
pedra lapidar das instituições do país: Executivo, Legislativo e Judiciário
enterrados na vala comum da lumpen plutocracia brasileira (link).
os 13 anos de Lulismo deveriam
ter sido a paciente e cronometrada, minuciosa e determinada, corajosa e
astuciosa, reengenharia de um novo pacto político de uma nova estrutura de
poder. mas Lula se dedicou a desperdiçar seu prestígio e popularidade em
postergações, hesitações, meias-medidas, apaziguamentos, conciliações,
conchavos, recuos e capitulações voluntárias.
Dilma parece ter finalmente assumido: entre se manter indefinidamente
paralisada por uma teia de laços tóxicos é menos pior parar de inutilmente
tentar que todo o edifício não venha abaixo.
“De repente, surgiu
ao longo do caminho uma luz estranha, e eu me voltei para ver donde poderia ter
saído uma claridade tão insólita, pois atrás de mim só havia a mansão com suas
sombras. O resplendor vinha de uma lua no ocaso grande e cor de sangue, que
agora brilhava vivamente através daquela fenda antes apenas perceptível, da
qual eu disse que se estendia desde o telhado do edifício, fazendo ziguezague,
até ao alicerce.”
“A Queda da Casa de
Usher”, Edgar Allan Poe
.
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