08/06/2016
a crise atirou a política no revolto e incessante movimento multipolar. a
incontrolável complexidade do curso dos fatos destroça as falsas dicotomias que
interditavam o debate político: governismo x contra-governismo, Lulismo x anti-Lulismo, PT x PSDB. rompeu-se o paralisante paradigma do pensamento
binário.
enquanto um caleidoscópio de multifacetadas forças políticas lutam entre
si para conquistar uma nova hegemonia, no deserto pátio dos milagres do Lulismo os sinos já não conseguem
repicar. desmascarou-se a lenda da inclusão social pelo consumo: o
endividamento consumiu a renda das famílias, a economia derrete no fundo do
poço e os lucros dos bancos se elevam em picos recordes.
do pacto perverso entre o Bolsa Família e a Selic Banqueiro não nasceu a
redenção dos miseráveis, mas uma monstruosa criatura que nos encara fixamente nos olhos, sem que
consigamos compreender exatamente o que vemos.
já não mais funciona o velho truque da solução à la Brasil. daí o quase
intransponível bloqueio em analisar uma crise que tornou obsoleto o modelo
anterior de abordagem. desenvoltos da camisa de força do sectarismo a que
estavam reduzidos, os personagens atuam agora num cenário turvo e movediço,
exibem com toda a ênfase sua dubiedade e heterogeneidade.
o jogo duplo impera soberano nas intenções dissimuladas. quem é quem?
quem serve a quem? quem está no comando?
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entre as ruínas da estrutura de poder e os destroços do sistema político,
o país está à deriva no vácuo de poder formado. neste mar de lama tóxica, as
ondas de vazamentos dos grampos e das delações premiadas se sucedem,
arremetendo-se incessantemente para destruir o Brasil tal como o conhecíamos
até então.
mas num cenário envolto por incerteza e indefinição, jamais se deve negar
a flagrante evidência dos fatos:
1. o golpimpeachment de Dilma é uma tentativa de pacto à la Brasil para
dar uma solução para estancar a sangria da Lava Jato. conforme o vazamento das
gravações de Sérgio Machado confirmam, Dilma sempre foi a pedra no meio do
caminho do acordo de salvação nacional das elites;
2. Eduardo Cunha tem envolvimentos demais para ser preso. é a caixa preta
viva do comprometido sistema de poder exposto pela Lava Jato. sua delação
premiada será a pedra lapidar das instituições: Executivo, Legislativo e
Judiciário enterrados na vala comum da lumpen burguesia brasileira;
3. o pedido de prisão de Jucá, Cunha, Renan e Sarney, e a autorização das
investigações sobre Aécio, Eduardo Paes e Clésio Andrade, encurralam cada vez
mais uma casta política, inviabilizando sua renitência no auto-engano de alguma
ponte de volta para o passado das coalizões alimentadas pelos velhos e
conhecidos propinodutos;
4. a parte central do núcleo do PSDB, a Opus Dei paulistana, se deleita
em sua parva ilusão de que será poupada. apesar de ser a última na fila, ainda
assim é certo que será comida melhor quem é comida por último;
5. na cena do crime do golpe, por
toda parte se descobre o DNA da USA Inc. os EUA já não são um país,
converteram-se em mera base territorial e foro jurídico dos interesses das mega
corporações transnacionais. seu poder militar e meios de controle e vigilância
são os fiadores da segurança de um
ambiente de negócios definido pelos acordos supra nacionais.
6. o Lulismo morreu. Dilma
renasce. foi através do passo a passo dos sucessivos e deliberados erros do Lulismo que mergulhamos na maior de
todas as crises de nossa História. foi pela empedernida negativa de Dilma em
referendar o acordo de cúpula que o golpimpeachment se tornou o último recurso.
o cada vez menos improvável retorno de Dilma se dará num contexto em que nada
mais será o mesmo: nem ela própria, nem cada um de nós e muito menos o Brasil;
7. no vácuo de poder, o perigo não mora na radicalização, mas na ausência
dela. é a radicalização do Povo sem Medo nas ruas a principal força de resistência
ao golpe. os projetistas da arquitetura do caos se esqueceram de combinar com
os russos, inclusive literalmente. guiados pelo marketing das pesquisas de
opinião, davam como líquido e certo que o Brasil explodiria num quase uníssono
foguetório, com a vitória do impeachment na votação na Câmara. mas o show de
horrores daquela celebração de hipocrisia provocou na sociedade um choque de
realidade;
8. na República do Paraná, os cruzados de Curitiba permanecem em stand
by, aguardando instruções. sempre marionetes, tropa de elite nunca serão.
investem contra a liberdade de imprensa, num trailer do que seria sua almejada
Ditadura do Judiciário: todo poder emana dos juízes e de sua conveniente
interpretação das leis;
9. nunca houve saída para esta crise. apenas portais de entrada. um
conduz ao neo fascismo da Tirania Financeira globalizada, com seu permanente
Estado de Exceção. o outro consiste na radicalização do compromisso com a
Democracia e a refundação da República. o fim da política nos conduzirá a uma
brutal opressão e espoliação. ou na política do fim de uma era tomaremos o rumo
de um outro Brasil.
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