20 maio 2007

tudo a R$ 1,99

o Brasil vive o melhor momento de sua história. ainda melhor do que os anos dourados de JK e superior ao “milagre” econômico da década de 70. [1]

mesmo que estejamos “fracassando miseravelmente há 27 anos e ficando para trás, para trás e para trás” [2], os indicadores macroeconômicos vistos pela ótica do mercado financeiro não mentem: "o Brasil vive hoje um círculo virtuoso de crescimento" [3]

convidados de honra ao banquete especulativo [4], banqueiros, grandes investidores e empresários festejam o negócio da China: dólar a R$ 1,99. e descendo a ladeira...

deslizando na onda de euforia provocada pelo colossal apetite chinês por commodities, os mega exportadores brasileiros fazem rugir seu espírito animal. não se acanham em declarar que suportam um dólar bem mais barato. [5]

os maiores empresários que o Brasil já teve, por maiores que sejam, como empresários eles têm apenas um projeto de empresa - mesmo que seja um enorme conglomerado - e não um projeto de pais. para eles, projeto de pais é coisa de estadista. [6]

historicamente resignados a um medíocre, porém rentável, modelo de desenvolvimento dependente e associado, o grande empresariado brasileiro sempre privilegiou o comércio exterior. são voltados para as exportações. não necessitam desenvolver um mercado interno forte. por isto não se preocupam com um projeto de país. o país é mera plataforma de seus negócios. um acidente geográfico.

um projeto de país é para todo e qualquer cidadão do país. e deveria constar dos interesses prioritários dos grandes empresários e do planejamento estratégico de suas empresas. sem projeto de país, toda grande empresa, por maior que seja, sempre será pequena no âmbito internacional. relações comerciais internacionais exigem muito mais do que contratos de compra e venda, são assunto de segurança nacional, envolvendo política de governo e esforço integrado da máquina estatal.

o câmbio está bom para as commodities. é isto. não se poderia resumir e ilustrar melhor. bom para os negócios particulares. pouco importa se está péssimo para o Brasil.

o crescimento sustentado só será alcançado com competitividade sistêmica, com inclusão social e industrial e trabalho colaborativo [7], com as grandes empresas entendendo que sua competitividade depende do grau de competitividade sistêmica da economia, substituindo a relação de subordinação entre a grande empresa e seus fornecedores pelo conceito de cadeia produtiva. [8]





[1] Consultoria Tendências, Folha de São Paulo, 20/05/2007
[2] Luiz Carlos Bresser-Pereira, Folha de São Paulo, 20/05/2007
[3] Guido Mantega, Ministro da Fazenda, Folha de São Paulo, 20/05/2007
[4] Marco Antonio Cintra, “Banquete especulativo”, 20/05/2007
[5] Antonio Ermírio de Moraes, 19/05/2007
[6] Blog do Nassif, comentários dos leitores, 19/05/2007
[7] Luís Nassif, “Cooperação e inovação”, 14/07/2004
[8] Luís Nassif, “O papel da grande empresa”, 15/07/2004

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