15/11/2018
"Eu pensei... Estamos aqui apontando armas para a população
brasileira. Nós somos uma sociedade doente!"
(sobre a Ocupação do Complexo da Maré - Rio de
Janeiro)
a cabeça ordena, mas o corpo recusa-se a obedecer a voz de comando. a
mente permanece lúcida, mas a carne jaz entorpecida. o pensamento viaja veloz,
mas a musculatura se entreva na imobilidade.
progressivamente a paralisia se impõe às funções motoras. é imperativo
agir. mas como se colocar em ação sem deflagrar rupturas? como suportar
rupturas se tudo deve mudar apenas para permanecer o mesmo?
10/07/2018: situações-limites expõe a necessidade de
se romper com aquilo que já está morto, para poder renascer para a vida,
rompendo com a paralisia progressiva imposta pela estagnação e pelo impasse de
uma morte em vida.
pensei. pensei. pensei. então, acabou sendo tudo o que conseguia fazer...
"Apuradas
todas as opiniões e vontades do oficialato, Villa Boas, com dificuldades
notórias até para falar, naquela noite, altas horas, buscou aplacar os ânimos,
porque já tinha oficial graduado pronto para pôr a tropa na rua em direção à Brasília.
Passava das altas
horas quando a solução provisória foi sugerida por um pequeno colegiado de
militares moderados:
Colocar um general
da reserva, porque se fosse da ativa, ofenderia e o clamor seria muito maior,
que conhecesse a tropa e o oficialato, e fosse calmo, convincente, culto,
político e cerebrino, no seio do STF, recaindo a escolha sobre Fernando Azevedo
e Silva."
em mais um Dia da Proclamação da República o que há para comemorar? uma
quartelada de oligarcas? uma Independência que nunca houve? uma
redemocratização incompleta? uma soberania tutelada?
uma Democracia de poucos, para poucos e por poucos? a Res-pública dos homens de bens?
não há nenhuma onda reacionária, assim como não haverá nenhuma Democracia
a restaurar. estamos onde sempre estivemos. nunca tivemos de fato relações
sociais democráticas. e sempre estivemos mergulhados num oceano reacionário,
violento, misógino, homofóbico, racista, elitista, autoritário...
"Tem mais
presidente dos EUA nome de rua aqui no Brasil que no país natal deles! Tem
general da ditadura em cada canto do pais eternizado em prédios, ruas, pontes e
monumentos!!!!"
contemplai o crepúsculo de uma era. em seu último por
do sol surge uma terrível mensagem: o Brasil precisa passar por Bolsonaro.
quem quer avançar para além de neo-colônia semi-escravocrata, tem que
passar por uma Guerra de Independência.
algo sim que jamais tivemos. não obstante uma História repleta de levantes
populares e rebeliões dos oprimidos.
a soberania e a independência só podem ser conquistadas e nunca
outorgadas.
02/10/2018: Bolsonaro não
é um caso isolado, não é um ponto fora da curva, não é uma aberração
materializada do nada. Bolsonaro encarna fidedignamente as idéias e valores não
apenas do grande empresariado, como de seus associados e serviçais, deixando
exposta a face horrenda da lumpenburguesia brasileira.
com a chegada do
Capitão não é mais possível fingir não estarmos em plena grande
extinção. nenhuma paralisia
progressiva conduzirá a qualquer descanso em paz. nenhuma pax nos salvará. só a Antropofagia
nos une.
em 1971, a ALN e o MRT efetuaram uma operação
até hoje pouco conhecida: a captura do então comandante do II Exército. o grupo
chegou a render o general e sua escolta. mas foram traídos. a informação vazara
e quatro viaturas do DOI-Codi os cercaram.
com todos sob a mira de armas, o sucessor de
Marighela e Toledo, Carlos Eugênio Paz ponderou apontando um fuzil: "-
General, vai morrer muita gente hoje aqui. E a primeira rajada será no seu
peito."
ao que o General Humberto de Souza Melo
retruca por duas vezes em voz alta, num tom de comando para os soldados: "-
Hoje não vai morrer ninguém aqui."
o "diálogo" e a
"negociação" com a lumpenburguesia no
Brasil só se viabiliza por uma coexistência nada
pacífica garantida por uma permanente dissuasão "armada".
a força só entende a linguagem da força. o poder só teme o poder. a
hegemonia só pode ser derrotada pela contra-hegemonia.
fora disto, continuaremos em paralisia progressiva.
“E é assim que a consciência nos transforma em covardes, é assim que a
força inicial de nossas resoluções se debilita na pálida sombra do pensamento e
é assim que as empreitadas de maior alento e importância deixam de ter o nome
de ação.”
em algum trecho de “Hamlet”, eis a questão:
poderíamos ter sido, mas nunca seremos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário