21 maio 2016

o Brasil & o Brasil (8)

21/05/2016



“A trilha que levava sempre de volta a Orciny sugeria uma transgressão sistêmica, um pararregras secreto, uma cidade parasita onde não devia haver nada a não ser nada, a não ser Brecha.
Se a Brecha não era Orciny, o que ela era, a não ser uma paródia de si mesma, para aceitar isso por séculos? “
“A cidade & a cidade”, China Miéville

como um carma político, o Lulismo governista completa sua amaldiçoada viagem redonda. a espiral encerra um ciclo completo: 2016 com a Lava Jato é o retorno da Satiagraha de 2008.

em 2008, com a repercussão da divulgação de um acordo entre o governo Lula e Daniel Dantas, através da Editora Abril, para anular a Operação Satiagraha, os Ministros Dilma Roussef e Tarso Genro foram compelidos a um desmentido: seria mais fácil nascer dente em galinha.

como logo em seguida os fatos confirmaram, Tarso e Dilma foram então os arautos de uma das mais  peculiares realizações do Lulismo: nos bicos das galinhas nasceram dentes. com a demolição controlada da Satiagraha, Paulo Lacerda foi exilado para o ostracismo, Protógenes condenado e demitido e Daniel Dantas passou de réu a verdugo.

então todo um galinheiro dentuço mastigou com voracidade a justiça brasileira. agora artífices e arautos do acordo de 2008 são despedaçados pelos dentes das galinhas por eles mesmos criadas...

o Brasil do crônico golpismo & o Brasil da conciliação permanente, o Brasil do Lulismo & o Brasil do anti-Lulismo, o Brasil da Selic banqueiro & o Brasil do Bolsa Família, este Brasil & o Brasil sempre foram irmãos siameses, criaturas xifófagas, impossíveis de serem separadas, sempre um parasitando  o outro.

um jogo binário de espelhos refletindo o estreito círculo girando no vazio de uma polarização ilusória. interditando o debate político e aprisionando as alternativas numa camisa de força.

este Brasil & o Brasil teriam sido superados em 2008, com a Satiagraha. ou em 2010, na primeira eleição de Dilma, num contexto de crise econômica mundial, com a quebradeira das grandes empresas brasileiras, pegas o contra-pé da financeirização. ou ainda em Junho de 2013, com a retomada das ruas sob a bandeira de mais direitos, mais participação, mais Democracia.

mas no pátio dos milagres do Lulismo outra e outra vez os sinos repicaram, anunciando seus milagres sempre celebrados, mas nunca realizados. a santa aliança capaz de conciliar interesses antagônicos, como se pela manutenção do pacto perverso entre o Copom e as políticas sociais compensatórias pudesse nascer a redenção dos miseráveis, e não apenas dentes nos bicos das galinhas...

nas brechas e interstícios entre o Brasil & o Brasil, um outro Brasil sempre resistiu. e hoje mais uma vez ele se materializa nas ruas, nas praças, na web e nas ocupações. mais uma vez a multidão vem ao deserto do real. mais uma vez não queremos ser o Povo que falta.

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