26 janeiro 2008

daltonismo [1]


no dissimulado racismo brasileiro, todos os pardos são negros.

ou seria ao contrário?

pela insidiosa falácia da miscigenação, com os brancos impositivamente definindo quem é ou não negro, uma população de mestiços e mulatos é maquiada, embranquecida, para se dividir, enfraquecer e melhor se discriminar os negros.

afinal, quem é negro? e quem são os brancos no Brasil?

teríamos desenvolvido uma sofisticada forma de racismo?

camuflado como democracia racial, um racismo daltônico que nos impede de ver a diferença entre negros e brancos? [2]

no racismo, como na arte e no amor, o mais profundo é a pele? [3]

pois não basta uma simples olhadela na cor da pele, no formato dos lábios e do nariz e no tipo de cabelo para o racista discriminar os negros... pronto, tão simples assim... [4]

seria mesmo através deste olhar racista a melhor maneira de se chegar a ver a solução para o fim da discriminação racial?

ou é ao enxergar o mundo pelos olhos do racista que introjetamos sua visão, legitimando-a numa consagração às avessas?

a raiz do racismo é a crença em raças humanas. e o racismo jamais será superado enquanto prevalecer esta crença. embora combatam os efeitos, políticas públicas baseadas em raças reforçam e institucionalizam a causa. [5]

“raça” não é matriz de direitos. somos humanos. e os pretos, as mulheres, os homossexuais e os deficientes são todos vítimas de discriminações. portanto, a matriz de direito é o fato social da discriminação. e meu direito a igualdade é minha condição humana e não a crença na raça. [6]

muito embora daltônicos não sejam capazes de ver algumas cores, possuem visão noturna acima da média. também distinguem com total nitidez o amplo espectro de tons de cinza unindo o branco ao negro.

entretanto, o pior tipo de daltonismo talvez seja o político, por reduzir a complexidade das relações sociais a uma maniqueísta abordagem preto no branco.


[1] sobre post e comentários no blog do Luis Nassif, “Somos racistas?”, 24/01/2008
[2] Orlando, comentário no blog do Luis Nassif, “Somos racistas?”, “[...]o racismo é daltônico e não percebe a diferença.”
[3] Paul Valery
[4] Pyotr Konstantin Schitikoff, comentário no blog do Luis Nassif, “Somos racistas?”
[5] J. Roberto Militão, comentário no blog do Luis Nassif, “Somos racistas?”
[6] J. Roberto Militão, comentário no blog do Luis Nassif, “Somos racistas?”

Nenhum comentário: