24 outubro 2007

concessões

enquanto a grande mídia classifica o leilão de concessão das principais rodovias do país como uma vitória pessoal da ministra-chefe da Casa Civil da Presidência, é a própria Dilma Rousseff quem revela a razão do "sucesso": "aplicar regras capitalistas no capitalismo". [1]

de fato, as empresas vencedoras apresentaram preços bem abaixo do máximo estipulado pelo governo, com a proposta da espanhola OHL, que arrematou 4 dos 5 trechos leiloados, chegando a um deságio de 65% para a BR-381 (Fernão Dias).

segundo a ministra-chefe da Casa Civil da Presidência, "o governo aplicou regras de competição", e mesmo ao reduzir a taxa interna de retorno do projeto para 8,95%, ainda assim as tarifas vencedoras foram mais baixas.

Lula não pode conter seu júbilo e festejou: "pela primeira vez os pedágios ficaram mais baratos".

a questão das privatizações foi tema central no segundo turno das eleições presidenciais de 2006. encurralado pela campanha petista, Alckmin vestiu jaqueta e usou boné cobertos de logotipos das estatais ao assinar uma carta antiprivatização.

agora, segundo Lula, não se trata de privatização, e sim "concessão". por 25 anos. e sem que por ela o Estado nada receba. uma graciosa doação "não onerosa" de infraestrutura pública para ser explorada pelo capital privado internacional.

e como ironia maior, a bandeira da gestão não-ideológica, desfraldada sem sucesso pelo candidato tucano nas eleições passadas, é assumida por Dilma Roussef, já em pleno rumo da sucessão de 2010.

apesar de todos os aplausos e comemorações, ninguém no governo, ou mesmo fora dele, teve capacidade de explicar quais as justificativas técnicas e políticas para se privatizar, enquanto se prossegue transferindo cerca de 7% do PIB como juros da dívida pública interna aos setores rentistas.

logo nos primeiros dias subseqüentes ao leilão, as verdadeiras razões do "sucesso" das privatizações vieram a público:

- o BNDES financiará 70% do valor a ser investido nas rodovias;

- para estimular a internacionalização das empresas, o governo da Espanha concede incentivos e benefícios que podem alcançar 25% do total do investimento.

com tamanha felicidade em seus negócios com o governo brasileiro, os empresários espanhóis não podem deixar de se conceder um esfuziante entusiasmo:


"O Brasil é um país fantástico, com bancos fantásticos, empresários fantásticos. E teve o privilégio de contar com dois presidentes fantásticos: Fernando Henrique Cardoso e Lula, que é uma figura sensacional." [2]



[1] Dilma Roussef, entrevista à revista "Época", 10/2007
[2] Emilio Botín, presidente mundial do banco Santander, 23/10/2007

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