não através de alguma mensagem instantânea,
pois esta logo postada é diluída de imediato no oceano anônimo do Big Data.
escrevo como um marinheiro que em meio ao naufrágio
global foi acolhido numa ilha desconhecida, de onde atira ao mar uma mensagem,
para ela flutuar dentro de uma garrafa em direção ao seu destino.
neste momento de pandemia, a morte se
aproximou de todos nós. postando-se a um palmo de nosso nariz, nos encara
fixamente nos olhos. e diz:
"- aqui estou. mas ainda não os toquei.
vivam! vivam cada singelo instante de suas preciosas vidas!"
que tipo de vida temos vivido?
confinados por semanas naquele exíguo e
solitário espaço, ao qual por costume se denomina como "lar", já não
há como negar uma condição de prisão domiciliar.
mas antes nossa própria existência já não era
um cárcere privado?
definhávamos sequestrados por um vírus parasitando nosso corpos, até ser sugada
toda nossa energia vital, findando por nos expelir como dejetos descartáveis.
a quarentena nada mais fez além de expor uma obviedade: já estávamos mesmo mortos...
é a este mundo para o qual pretendemos
voltar? esta é a "normalidade" que desejamos restaurar?
mesmo se assim fosse, não haverá retorno.
aquele mundo de antes esgotou seu
prazo de validade. e um intrépido mundo novo se anuncia. ainda mais
brutal, desigual, excludente e opressor.
o Capitalismo colidiu com a fronteira
terminal de suas contradições intrínsecas. a queda insustentável da taxa de
lucro já não pode ser contida, nem mesmo com a selvagem expropriação dos
recursos humanos e naturais.
embora tenhamos a sensação de estarmos
vivendo num apavorante filme de terror, a COVID-19 é apenas um trailer frente
ao colapso ecológico.
junto com o armagedon climático virão
pandemias ainda mais mortíferas, acompanhadas de inevitável decomposição sócio-econômica:
peste, fome, guerra e morte...
estamos fadados à extinção?
em meio às nuvens tóxicas do grande naufrágio
global, seria possível navegar ao encontro de ilhas de utopia?
aquele mundo de horror está moribundo. como
um dragão mortalmente ferido, se contorce entre urros aterrorizantes,
recusando-se a morrer.
com ele também falece seu fundamento
primordial: o antropocentrismo.
se quisermos construir um futuro, devemos nos
recolocar em nosso devido lugar: não somos o ápice da criação, não somos o topo
da cadeia evolutiva, os mundos não giram ao nosso redor.
ou nos reencontramos com a Terra, ou
desapareceremos juntos com o abominável mundo que criamos.
não há como re-existir sem o resgate
de uma esquecida sabedoria ancestral: somos uma pequena parte da vida, e nem
mesmo a parte mais importante.
não para meramente sobreviver, mas enfim para
chegarmos a viver plenamente é imperativo tomar como princípio norteador de
nossas existência que a vida não nos pertence: é um breve sopro passando por nosotros.
há uma rota de navegação para as ilhas de
utopia, com as quais haveremos de tecer a Teia dos Povos. este caminho
marítimo para Hy-Brazil se inicia com uma
nova aliança, através da qual nossos pés voltam a caminhar junto com a terra.
para isto precisamos fincar raízes naquele território com o qual desenvolveremos
laços. laços com a terra, laços com a água, laços uns com os outros.
no território onde vivemos. na terra que amamos e onde sofremos. a ela
defenderemos e preservaremos, pois sem ela não poderíamos estar vivos.
queremos um futuro?
pois o futuro já não pode ser o desdobramento
do que já existiu. o futuro é o que nunca houve.
o futuro é Hy-Brazil.
um arquipélago fundado sob os
alicerces da biodiversidade e do multiculturalismo. a primeira biocivilização
da História.
não o Capital, nem mesmo o
trabalho, como eixo fundamental em torno do qual a sociedade se organiza, e sim
a própria vida.
adeus à Humanidade! bem
vindos sejam os Seres da Terra:
nossos caros amigos.
vídeo: COVID-19: caros amigos
.
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