26 agosto 2019

Foi Legal: 30 anos da greve de 21 dias no BB em 1989


em 23/08/2019, o Sindicato de Bancários do Rio (SEEB-RJ) realizou evento para marcar os 30 anos da greve de 21 dias no Banco do Brasil, em 1989.

estiveram presentes, entre outros, Cyro Garcia, Fernanda Carísio e Fernando Amaral, todos ex-presidentes do Sindicato e também integrantes da Executiva Nacional do movimento em 1989.

foi exibido um vídeo gravado na época, documentando tanto a linha de frente quanto os bastidores da greve.

após 19 dias de paralisação, o TST decidiu que a greve foi legal e determinou o pagamento dos dias parados. contudo, 2 dias depois um novo julgamento declarou a ilegalidade da continuidade do movimento.

para Cyro Garcia, presidente do SEEB-RJ em 1989, no vídeo ficam claramente colocadas as divergências existentes então na direção do movimento:

"Esta greve, se tivesse uma unidade maior na direção, ela poderia ter terminado com vitória. Só que esta greve foi dividida durante grande parte. Havia claudicações no meio dela, antes do 19o. dia, antes do julgamento.
O que expressou ali, companheiros, foi uma diferença de concepção. Concepção de direção do movimento. E nós temos estas diferenças entre nós. Essa é a questão."

Fernando Amaral vê a divergência como surgida a partir dos informes recebidos da base, os quais colocaram em dúvida a capacidade de sustentação do movimento:

"Apesar de concordar com a tese de que a direção deve sempre apontar para a luta, perfeito! O problema é se eu enxergo a luta só hoje, ou também no longo e mesmo no médio prazo.
Esta greve de abril/maio de 1989 foi fora da data-base. Em setembro daquele mesmo ano fizemos uma outra greve, já na campanha salarial dos bancários. E no segundo dia de greve, o Tribunal chamou. E nós ganhamos todas as cláusulas sociais e todas as cláusulas econômicas."

Cyro Garcia argumentou sobre as limitações da luta exclusivamente econômica, o que coloca a necessidade de uma perspectiva de luta política contra o Capitalismo:

"O sindicato passou a ser um instrumento de adaptação ao regime capitalista. Você ganha hoje e o patrão tira amanhã. Você ganha aqui, e ele te tira ali.
O que pode servir, e o que tem que servir, para quem está dentro do sindicato é uma disputa ideológica da consciência da classe sobre um projeto de sociedade."

Fernando Amaral enfatizou como as diversas correntes políticas participantes do movimento sempre procuraram preservar um relacionamento respeitoso e preservar a unidade na luta:

"Vocês viram o grau de tensão e de polêmica que a gente tinha em reunião nesse vídeo. O grau de tensão se espelhava igualzinho na reunião de comando, igualzinho na Assembléia. Mas é como foi colocado aqui, a gente saía dali e sabíamos que estávamos todos do mesmo lado.
Criticando uns aos outros, criticando quem tem opinião divergente da minha, recebendo críticas de quem diverge. Mas nós não tínhamos dúvida de que lado nós estávamos."

Luís Carlos, importante liderança sindical e membro da Executiva Nacional, caracterizou aqueles anos de luta política de massas como constando entre os melhores anos de nossas vidas.

Para ele, é imprescindível analisar a greve de 1989 à luz da greve 1979, e as duas greves à luz da conjuntura atual:

"Em 1979 estávamos apenas há 10 anos do sequestro do embaixador norte-americano. Há 10 anos do assassinato de Marighella. Nós estávamos apenas há 20 da Revolução Cubana.
Então as referências da Esquerda eram muito vivas. E a Esquerda tinha feito, cada um ao seu modo, uma profunda autocrítica do período anterior. E no centro desta autocrítica estava a questão do vanguardismo.
Uma parte da Esquerda, que aderiu à luta armada, fez uma crítica profunda e consistente em relação ao vanguardismo. E o Partidão fez uma avaliação equivocada do vanguardismo.
Esta avaliação fez com que o Partidão saísse do jogo. A autocrítica que o Partidão fez o inviabilizou com o movimento, que estava ascendente."

De modo brilhante, Luís Carlos explicitou o impasse no qual o movimento mergulhou ao esbarrar em seu limite:

"Toda e qualquer categoria poderia derrotar seus patrões sem derrotar o governo. Nós do Banco do Brasil só poderíamos derrotar a política econômica do governo derrotando o governo. E o governo não iria permitir isto.
Nós teríamos que peitar não apenas a Direção do Banco, não apenas o governo, mas uma instituição de Estado, chamada TST.
Então eram estes os encargos que recaíam sobre os ombros de uma única categoria. Que categoria poderia ter sobre os seus ombros esses encargos e levar uma luta isoladamente?
Aí é o ponto!
Nós não conseguimos em todos esses anos, apesar de todos os esforços, unificar nossa luta com a luta dos demais setores."

se é verdade que uma categoria sozinha não pode derrotar o Estado, é verdade também que o Estado Burguês só pode ser derrotado por uma Revolução.

cada geração tem sua tragédia histórica. se para a geração da luta armada foi a Revolução ter faltado ao encontro, para nossa geração faltou a ela irmos ao encontro.

e neste impasse giramos em falso até hoje.

são as massas que fazem a Revolução, mas as massas não se movem espontaneamente. é preciso uma vanguarda que catalise e coordene o movimento.

se lembram do futuro que combinamos?

com certeza não é este futuro que agora temos no presente. por isto mesmo, só nos resta agora no presente construir um outro futuro.

e este futuro não terá outro nome, senão: Revolução!

vídeo: Foi Legal: 30 anos da greve de 21 dias no BB em 1989


vídeo: Foi Legal: A Greve no BB em 1989


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Um comentário:

Unknown disse...

Nesta greve estava em Recife no governo Arraes. Fizemos 21 dias de greve lá.