09/06/2018
a vidência é quase sempre compreendida como a
capacidade de se antever o futuro. mas do futuro nada há a se ver, a não ser
uma nuvem fugidia de possibilidades em incessante alteração.
longe de ter a ver com o futuro, a vidência é "a
visão do que está tomando forma" aqui e agora. ver neste exato
instante aquilo que apenas tarde demais todos acabarão também por ver.
assim, ver é a capacidade de perceber os
processos em sua forma dinâmica, tanto em seus efeitos intoleráveis quanto nas
suas possibilidades de transformação.
por outro lado, há também o fenômeno da
cegueira coletiva, pela qual grupos inteiros recusam-se voluntariamente a
encarar a própria realidade.
um golpe só pode ser derrotado por um
movimento de massas.
como o melhor exemplo histórico no Brasil temos o processo de
redemocratização a partir do 1977, com a retomada do movimento estudantil, o
ressurgimento das lutas sindicais, a fundação do PT e da CUT e a campanha pelas
"Diretas Já".
apesar disto, a maior parte de todos os que se
opõe ao Golpe de 2016 insiste na prioridade das Eleições de 2018
e na centralidade do papel de Lula.
é impossível substituir o poder das massas
ocupando as ruas, em greves e todo tipo de manifestações, por um pleito
viciado, facilmente manipulável através da urna eletrônica, sujeito a todo tipo
de ingerência jurídica e submetido ao peso do poder econômico.
do mesmo modo, o trabalho vivo das massas em
movimento é irredutível ao capital eleitoral de uma única pessoa.
ainda mais encerrada numa cela para onde se
deixou conduzir não opondo resistência, sem qualquer proposta definida de como
superar o atual impasse brasileiro, e, mais grave, alheia à completa mudança de
circunstâncias em relação aos seus governos anteriores.
não há mais qualquer solo por onde possa
trilhar uma reedição da conciliação permanente de Lulinha Paz e Amor: já não se pode dar
a uma classe sem tirar de outra.
as famosas conquistas sociais do Lulismo nunca passaram de esparsos pontos brilhantes numa vasta e
opaca superfície acobertando a concessão de quase todas as demandas do grande
capital.
quanto a estes milagres sempre celebrados mas nunca
realizados, o mais recente desmascaramento se fez pela própria Ermínia
Maricato sobre o incensado "Minha Casa, Minha Vida". um programa
muito mais a serviço das farra das empreiteiras do que de fato ensejando melhor
qualidade de vida para a população carente em nossas caóticas cidades.
tudo o que aparentava solidez se volatizou num ar irrespirável de tão
denso e putrefato. impiedosamente todas as ilusões serão descarnadas fibra por
fibra, não restará pedra sobre pedra. tudo está em avançada decomposição.
a mãe de todas as nossas catástrofes atuais já
aconteceu: a incapacidade de sequer se tentar resistir e superar o Golpe de
2016. desta se procriam todas as demais catástrofes por vir.
enquanto isto, a visão do que está tomando
forma é assustadora, tenebrosa, macabra, maligna.
antes que todos acabem por ver, quando então
será tarde demais, a Esquerda precisa urgentemente virar a página do Lulismo
e abandonar todas suas últimas fantasias quanto a saídas eleitorais e institucionais
para um golpe de Estado.
mas todos já sabemos muito bem que
infelizmente isto não vai acontecer...
se ainda resplandece a miragem da última quimera, as Eleições de
2018, com sua chegada ao invés da enxurrada de votos tão piamente aguardada,
acontecerá uma avalanche recorde de não-voto (nulos, brancos e
abstenções) e uma epidemia avassaladora de depressão e suicídio.
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário