20 setembro 2007

os miseráveis

no pátio dos milagres do governo Lula, milagres que não se realizam, a panacéia com maior louvação tem sido o Bolsa Família.

para seus devotos, o Bolsa Família possuiria o milagroso poder de promover inclusão social.

como programa compensatório, nos moldes recomendados pelo FMI e o Banco Mundial, o Bolsa Família é o atestado de falência de uma política econômica que produz desigualdade em abundância e faz prosperar a miséria avassaladora.

na imundície do pátio dá prá ver muitos bichos. catam comida entre os detritos. não examinam nem cheiram, apenas engolem com voracidade. não são cães. não são gatos. não são ratos. os bichos, meu deus, são homens... [1]

apesar de sua guerra sem tréguas contra Lula, a grande mídia deu tratamento bastante favorável à divulgação de pesquisas recentes sobre o desempenho da economia. [2] crescimento do PIB (5,4%) puxado pela indústria (6,8%), expansão de 5,7% no consumo das famílias e "6 milhões saíram da faixa da miséria".

foi como se no pátio dos milagres todos os sinos repicassem. desvalidos, mutilados, estropiados enfim ungidos com a graça.

qual este improvável mistério glorioso de uma elite fanatizada numa cruzada para lançar Lula na fogueira dos hereges, enquanto entoa cânticos à política econômica do governo?

as pesquisas apontam que o crescimento do consumo das famílias se deu em ritmo superior ao crescimento da massa salarial, indicando como são mecanismos de crédito que sustentam esse incremento. numa clara demonstração de como tem funcionado a expansão daquilo que alguns já denominam de economia do endividamento. o aumento em 26,5% do saldo das operações de empréstimos a pessoas físicas se reflete nos extraordinários resultados dos balanços dos bancos, com as receitas de crédito embaladas pela consignação em folha. [3]

quando o paralítico atira para longe as muletas, o coxo se endireita sobre os pés e o cego encara com olhos que resplandecem, não há dúvidas de se estar no Pátio dos Milagres [4], onde cada dádiva é sempre um embuste.




[1] Manuel Bandeira, “O Bicho”
[2] IBGE e FGV
[3] Paulo Passarinho, “A economia brasileira se recupera?”

[4] Victor Hugo, “Notre Dame de Paris"

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