"Nunca é uma palavra forte, mas o Brasil
nunca, na minha opinião, viveu um momento em que foi tão importante a gente
sentar para discutir um pacto pelo país. Não é de governança, não. De
governança já não adianta mais. Pacto de governança já tivemos diversos e não resolveram
nada. Temos que encontrar nossa Moncloa [referência aos pactos de Moncloa
feitos por partidos políticos na Espanha, em 1970, para tirar o país europeu da
crise econômica depois do fim da ditadura franquista], quem é que vai
conduzi-la, quais são as lideranças disponíveis para apostar no país, e não na
próxima eleição."
Rodrigo Maia alerta sobre o colapso social. Gal. Etchegoyen propõe um Pacto de Moncloa. Armínio Fraga defende um Green Brasil Novo. MBL faz autocrítica...
milagres que só um Messias Bolsonaro pode
fazer?
para aplicar as “medidas
impopulares” derrotadas quatro vezes seguidas nas urnas,
foi necessário o Golpeachment e fraudar as Eleições de 2018, mas sob
pena de um inesperado efeito colateral: a ascensão BolsoNazi.
ainda que a pauta ultraliberal seja aplicada
conforme o previsto, o gênio saiu da garrafa e do controle, se tornando mainstream:
com o Capitão-Presidente os Porões da Ditadura Civil-Militar agora
ocupam o Palácio do Planalto.
do massacre do anarco-sindicalismo rela
Revolução de 1930 a Getúlio suicidado em 1954. da guerra de São Paulo conra o
Brasil em 1932 ao Golpe de 1964. do AI-5 em 1968 ao Golpeachment em 2016.
do Parlamentarismo de 1961 às eleições fraudadas de 2018.
de contra-revolução em contra-revolução, o lumpem-empresariado
brasileiro gerou as condições para a chegada ao governo da extrema-direita.
nem Alckmin, nem Dória, nem Luciano Huck, nem Amoedo... deu ruim!
e agora? como manter sob rédeas curtas o clã Bolsonaro? como fazer com que no Palácio os Porões dispam os
aventais ensanguentados de bárbaros torturadores para vestir um modelito civilizado
de estadistas?
ao se constatar o quanto o governo Bolsonaro é
tosco, grotesco, primário, improvisado e despreparado se chega a supor não se
tratar de algum tipo de tática diversionista.
puro engano! pois o governo o governo
Bolsonaro é autenticamente tosco, grotesco, primário, improvisado e
despreparado.
ao contrário do Golpe de 1964, cuja
doutrina implementada foi gestada por décadas na Escola Superior de Guerra
(ESG) e operacionalizada pelo IPES (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais),
o Golpe de 2018 carece de projeto, a não ser a pilhagem de curto prazo.
o principal são as grandes jogadas envolvendo
a expropriação do patrimônio público.
para o lumpen-empresariado brasileiro,
é abocanhar o máximo que puder no menor tempo possível.
para o capital financeiro global é assumir o
controle total da economia brasileira.
para a geopolítica do Imperium é
extirpar do Brasil a soberania nacional, agravando nossa condição subserviente,
dependente e periférica, portanto altamente excludente e desigual.
muito embora a autocrítica do setor dominante,
tipificada pelo MBL, não seja uma farsa, deve ser compreendida em sua
específica perspectiva. ou seja: uma autocrítica única e exclusivamente quanto
a eleição de Bolsonaro.
nem o MBL, nem os setores que representa -
principalmente os mega interesses globalizados - são contra o ultra-liberalismo.
ao contrário!
mas não podem compactuar com aquilo que
denominam déficit de "liberalismo democrático", ainda mais com
hiper-conservadorismo nos costumes.
só que o Capital em seu atual estágio não mais
necessita de nenhum "liberalismo democrático".
o Capitalismo se tornou impessoal. a mão
invisível do mercado já não é mais humana. todos nós, inclusive os mega
empresários, nos tornamos supérfluos. o sistema ganhou dinâmica própria.
qual poder tem de fato um poderoso CEO? sua autonomia é a de um vassalo
do Conselho de Administração, Conselhos Fiscais, órgão reguladores, compliances,
auditorias externas, associação de acionistas, escritórios de advocacia, agências
de risco, mercado...
o poder se tornou impessoal e não representativo porque não é quem o
exerce aquele que o controla.
por outro lado, o
Capitalismo se choca com os limites de seu expansionismo esquizofrênico: colonizou
a totalidade do planeta, os recursos naturais estão fadados ao esgotamento e não
há como superar sua contradição intrínseca, causadora da inexorável tendência
decrescente da taxa de lucro.
o modelo atual do Capital é o Daesh e
sua necropolítica: Viva la Muerte!
e qualquer coincidência com o regime
BolsoNazi não se trata de apenas fortuita semelhança.
apanhada numa crise apocalíptica do
Capitalismo, a burguesia brasileira também se reencontra com o seu mal de
origem.
a burguesia industrial no Brasil nasce sem ter
como base de apoio para o início da acumulação a pequena empresa industrial,
mas sim o grande comércio ligado às atividades de importação e exportação.
do mesmo modo que a exportação, a importação é
dominada em grande parte por empresas estrangeiras. por sua vez, o comércio
interno é controlado pelos importadores.
ao contrário do mito do self-made man, de
origem modesta e que constitui fortuna graças ao trabalho árduo e persistente,
o imigrante que vem a se tornar proprietário de empresas no Brasil aqui já
chega com alguma forma de capital, pertencia a famílias de classe média,
possuía também instrução técnica, e, muitas vezes, havia sido contratado como
administrador.
desse modo, o latifúndio exportador, a
importação, o grande comércio e a burguesia imigrante, que vem a ser o núcleo
da burguesia industrial nascente, estão todos intimamente conectados.
este é o mal de origem cuja maldição ainda se
faz presente.
no centro do núcleo do governo Bolsonaro estão
banqueiros e rentistas, exportadores de commodities e o grande comércio
importador. todos sócios locais e minoritários do Capital Transnacional
Financeirizado.
Bolsonaro não é apenas o momento no qual todas
as máscaras caem ao chão, expondo faces repugnantes, como o instante aterrador onde
tudo aquilo recalcado em nossa História retorna sinistramente para nos
assombrar.
Bolsonaro sabe como morreram os desaparecidos. Bolsonaro sabe como cada desaparecimento é um assassinato cometido
pelo Estado a serviço do setor dominante.
e não foram só os corpos e as pessoas que
desapareceram. foram as tribos indígenas, as etnias negras. os
"paraíbas" sepultados no insensível concreto da construção civil de
uma brutal urbanização.
desapareceram os relatos das mulheres submetidas
aos estupros sucessivos. desapareceu a infância da vida das crianças pelo
trabalho infantil.
trechos inteiros de nossa História
desapareceram.
desapareceram a Nação e o Povo que poderíamos
ter sido. e nunca estivemos tão longe de vir a ser.
não nos iludamos: nem o clã BolsoNazi,
tampouco o generalato em seu entorno e muito menos o lumpen-empresariado brasileiro,
nenhum deles do setor dominante possui uma idéia sequer de como superar a
catástrofe atual no Brasil.
pois são exatamente estes setores, e os
interesses a quem protegem, a causa primordial de todas as nossas catástrofes.
como sabem apenas brandir e usar o martelo,
assim o farão. mais cedo ou menos tarde, acabarão por acertar os próprios dedos
e cravar pregos nas próprias mãos.
sob Bolsonaro o Brasil marcha para um estado
de exceção, cuja configuração ainda não está completamente definida, mesmo
assim já se mostra indecorosamente brutal para uma elite hipócrita incapaz de
se assumir como sempre foi: bárbara.
o cotidiano do Povo Brasileiro sempre
foi a barbárie. a História da civilização humana é uma sucessão de genocídios.
tanto aqui na periferia quanto lá no centro do sistema, nunca houve tanta
desigualdade em meio a tanta abundância quanto agora.
não estamos num impasse entre civilização
versus barbárie. estamos numa irreversível crise terminal provocada pelo
Capitalismo em seu estado senil de acumulação.
situações como esta não se resolvem com
pactos. não se trata de opção mas de circunstâncias objetivas.
o Capital não fará nenhum pacto. ou o
derrotamos, ou seremos extintos.
"Todos - Estado e Igreja, nobres e
mercadores, senhores e tropas - todos se mantinham solidários, absolutamente
unificados; quando um desmoronasse, os outros viriam abaixo com certeza."
"América
Latina: Males de Origem", Manoel Bomfim
fontes a respeito da formação da burguesia no
Brasil:
- "América Latina: Males de Origem",
Manoel Bomfim;
- "Expansão cafeeira e origens da
indústria no Brasil", Sérgio Silva;
- "Dependência e mudança social, Theotônio
dos Santos;
- "História da dualidade
brasileira", Ignácio Rangel.
- “Acumulação dependente e subdesenvolvimento”,
André Gunder Frank.
- "O capitalismo tardio", João
Manuel Cardoso de Mello.
- "A industrialização de São Paulo",
Warren Dean.
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