18/12/2018
os Generais jamais chegaram ao poder pelo voto. em 1964 o
fizeram com as tropas e os tanques. o bloco dominante julgava que após a
"limpeza" os militares voltariam aos quartéis. rigorosamente falando,
desde então jamais voltaram. por que agora o fariam?
os Generais estão em êxtase com o mito Bolsonaro,
pois lhes dá algo que nunca tiveram: carisma popular.
apesar de seus os Três
Primeiros-Filhos, apesar do escândalo
do WhatsApp, apesar do Bolsogate dos assessores, apesar dos
apesares, todos os Generais do Capitão o manterão
inexpugnavelmente blindado. mas o mesmo não se pode afirmar acerca de seus
entornos...
temos diante de nós a arquitetura em andamento
de um novo sistema de poder. como em 1964, as mudanças institucionais que a
Esquerda não pode, não soube e não quis fazer, serão agora os Generais
seus executores.
e a Esquerda, tal qual existia até as Eleições
de 2018, tornou-se irrelevante.
mais uma vez cercados pelo eterno retorno das
espirais de farsa e tragédia da História, estariam os Generais em forma, por assim dizer, para vencer a circularidade
e impor a diferença?
Golpe de 1964: abre-se um novo
ciclo de acumulação capitalista no Brasil baseado na concentração,
internacionalização e superexploração (Programa de Ação Econômica do Governo - PAEG).
Salário
Mínimo: perda real de mais de 33% entre fevereiro de 1964 e março de 1968.
Concentração
de Renda: 5% mais ricos aumentaram sua participação na renda nacional de 27,4% em
1960 para 36,3% em 1970.
Carga
Tributária: 16% do PIB em 1963 para 23,8% em 1968.
Inflação: 25% em 1967 e
25,4% em 1968, bem acima dos 10% planejados e muito abaixo dos 79,3% em 1963.
PIB: abaixo dos 6%
projetados, cresceu 3,4% em 1964, 2,4% em 1965, 6,7% em 1966, 4,2% em 1967, contra
8,5% a 10% durante o Plano de Metas de JK, 8,6% em 1961, 6,6% em 1962 e 0,6% em
1963.
Internacionalização: revogação dos
artigos da Lei de Remessa de Lucros, que fixava um limite de 10% ao ano.
empréstimos externos cresceram 65% entre 1964 e 1965, e os investimentos
externos diretos triplicaram. abertura da exploração mineral a capitais
privados e estrangeiros, com exceção do petróleo, do carvão e dos minérios
ligados à área nuclear.
{fonte: "1968: O Ano I do 'Milagre Econômico' da Ditadura", José Luís Fevereiro}
o caráter recessivo da política econômica leva
ao acirramento da insatisfação social, inclusive entre setores da classe
dominante, com a eclosão de grande manifestações de rua e a articulação da Frente Ampla de oposição.
o contra-ataque da Ditadura vem em pinça por duas
frentes: o AI-5 aprofunda o estado policial e a repressão, enquanto aumenta a ênfase no crescimento econômico.
sintomaticamente o Plano de
Desenvolvimento Econômico (1968) não faz
referências a metas de inflação. o PIB cresce 9,8% em 1968, iniciando-se o Milagre Brasileiro.
se o bolo cresceu sem nunca chegar a ser dividido, antes mesmo do impacto do Choque do Petróleo (1973) a solidez do "Brasil Grande" já começara a se
dissolver no ar com o Crash das Bolsas no
Brasil e o fim do padrão
monetário Dólar-Ouro, ambos ocorridos em
1971.
de "grande" restou a hiper-inflação, uma faraônica dívida externa e o brutal aumento
da desigualdade social.
além, é claro, a gigantesca incapacidade de
trazer à luz do meio-dia as infâmias ocorridas nas trevas dos porões da
Ditadura Civil-Militar.
Paulo Guedes, Roberto Campos, Delfim Netto,
Mário Henrique Simonsen, Reis Veloso. Maluf. Paulo Maluf, o candidato civil do
General-Presidente João Figueiredo - o último Ditador.
Paulipetro. Lutfalla. Camargo Corrêa. General
Electric. Capemi. Coroa-Brastel. Grupo Delfin. Itaipu. Ponte Rio-Niterói.
Transamazônica. Fraude do Farelo. contrabando na PE. Kruel. Amaury Kruel e
suas malas de dinheiro.
Rua Tutóia. Ultragás. Operação Condor. Fleury.
Malhães. Molina. Baumgartem. Tenente Odilon. Zé do Ganho, Pejota, Mariel
Mariscot. todo grupo de extermínio acaba exterminando seus próprios membros.
a tortura que jamais houve, mas sempre
existiu. a corrupção que não havia, mas sempre esteve lá. um Brasil feito por nós, mas desfrutado por eles. Ditadura nunca mais, ainda que
perdure.
o maior e decisivo erro dos militares sempre foi
supor ser possível desenvolver um país sem acionar o seu mais valioso recurso:
o Povo.
muito mais do que pelo voto anti-PT, Bolsonaro
foi eleito por uma profunda e generalizada rejeição "contra tudo que
está aí". um voto eminentemente anti-sistema.
entretanto, ninguém melhor do que Bolsonaro
para representar o que há de pior na classe dominante no Brasil: elitista,
autoritária, machista, homofóbica, racista, discriminatória, preconceituosa, servil
aos interesses externos, reacionária e de forte viés fascista.
ainda mais: quem tem sido os Generais
senão o braço armado deste sistema? sempre um sistema político subordinado ao
sistema econômico, do qual os Generais são a Garantia da Lei e da
Ordem a serviço do grande Capital.
não importa quantos sejam os Generais
do Capitão, eles já estarão de antemão derrotados caso não compreendam a
especificidade de uma conjuntura completamente diferente de 1964 e de
1968, frente a qual não há viabilidade
para qualquer estratégia "lenta, gradual e segura".
as justas e urgentes demandas de uma população
com pouco rendimento mas muito endividamento não lhes baterão continência,
tampouco serão superadas na base do "prendo
e arrebento" e "cadeia ou
exílio".
estariam os Generais dispostos a
quebrar seus próprios paradigmas e implementar medidas anti-sistema?
uma impiedosa, mas sempre magnânima História
lhes estende a mão. afinal o que os Generais querem? mais uma vez tristemente se apagarem?
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