01 outubro 2009

a ideologia do lulismo neoliberal

“Mas tem um porém: pergunto:
o senhor acredita,
acha fio de verdade nessa parlanda,
de com o demônio se poder tratar pacto?
 Não, não é não?” [1]
                                                               

o discurso ideológico

o discurso ideológico se caracteriza por ocultar a contradição.

através da  existência de lacunas a contradição é suprimida e o discurso ideológico se apresenta como coerente.

para aparentar coerência o discurso ideológico precisa pagar um preço: a existência de “silêncios” que nunca poderão ser preenchidos sob pena de destruir a coerência.

o discurso ideológico se apresenta como coerente porque entre suas “partes” há “vazios” responsáveis pela coerência.  assim, a coerência se dá não apesar das lacunas, mas por causa ou graças às lacunas.

é porque não diz tudo e não pode dizer tudo que o discurso ideológico é poderoso. o discurso ideológico se sustenta porque não pode dizer até o fim aquilo que pretende dizer. pois dissesse tudo, se quebraria por dentro.

ao se preencher todas as lacunas a contradição ressurge e o discurso ideológico é destruído. [2]

“Mas, por fim, eu tomei coragem,
e tudo perguntei:
– O senhor acha que a minha alma eu vendi, pactário?!
Então ele sorriu, o pronto sincero,
e me vale me respondeu:
– Tem cisma não. Pensa para diante.
Comprar ou vender,
às vezes, são as ações que são as quase iguais...”  [3]


a hegemonia

a dominação pelas idéias é muito mais eficaz do que a dominação pela coerção.

a dominação pela visão de mundo, pela cultura, pelo modo de vida acaba por se tornar “senso comum”, sendo assim se impondo como a única alternativa e aceita como “natural” e inevitável.

as idéias dominantes em cada época são as idéias da classe, ou fração de classe, que  domina em cada época. em nossa época são as idéias do neoliberalismo. e as idéias do neoliberalismo são as idéias da fração de classe dominante em nossa época: a burguesia financeira.

as idéias dominantes se impõe não como dominantes, mas como as únicas possíveis! não haveria alternativa, a não ser aquelas apresentadas pelas idéias dominantes.

por isto, a dominação pelas idéias (pela visão de mundo, pela cultura e pelo modo de vida como um todo) é muito mais eficaz do que a dominação pela força.

por isto a dominação pelas idéias é muito mais difícil de ser combatida, porque ela é dissimulada e insidiosa. é uma dominação que não se apresenta como tal. é uma dominação aceita docilmente como fazendo parte da ordem natural das relações sociais.

“O Arrenegado, o Cão, o Cramulhão,
o Indivíduo, o Galhardo, o Pé-de-Pato, o Sujo,
 o Homem, o Tisnado, o Coxo, o Temba, o Azarape,
o Coisa-Ruim, o Mafarro, o Pé-Preto, o Canho, o Duba-Dubá,
o Rapaz,  o Tristonho, o Não-sei-que-diga,
O-que-nunca-se-ri, o Sem-Gracejos...
Pois, não existe!
E, se não existe, como é que se pode se contratar pacto com ele?” [4]


nunca antes neste país houve tanta mistificação

o discurso ideológico lulista é um cortejo triunfante de estatísticas ufanistas para supostamente consagrar “êxitos inigualáveis” do governo Lula.

entretanto,  a arrogante retórica lulista não passa da repetição enfadonha de slogans vazios, cuja falta de conteúdo é dissimulada através de dados descontextualizados.

os números são torturados até confessarem ser a meia-verdade lulista neoliberal a mais óbvia e inquestionável verdade.

através de distorções e de omissões, lulistas neoliberais transformam uma verdade desfavorável na meia-verdade conveniente que os interessa!

o discurso do lulismo neoliberal é ideológico porque é construído com lacunas, para através daquilo que não diz, e não pode dizer, ocultar as contradições que o desmascaram.


o cortejo ufanista de meias-verdades hipócritas

“O ciclo virtuoso está implantado no País.
 O crescimento econômico verificado no governo Lula
 é qualitativamente superior
 ao de qualquer  outro período da história do Brasil.

Guido Mantega – 05/2007

cada estatística apresentado pelo lulismo neoliberal é apenas uma meia-verdade.

enquanto exibe um lado da verdade favorável a uma defesa do governo Lula, convenientemente oculta a outra metade que o revela como a mais bem sucedida operação conservadora da história do Brasil: um governo dos trabalhadores que executa magistralmente a política dos patrões.


o lulismo neoliberal

a política monetária é a matriz da política econômica e de todas as demais políticas: fiscal, cambial, rendas. mesmo as políticas sociais dependem da política monetária como matriz.

a política econômica neoliberal se baseia num tripé: juros altos, metas de inflação estreitas elevado superávit primário.

exige também um arcabouço jurídico-institucional: principalmente a independência do BC, a Lei de Responsabilidade Fiscal e as desvinculações do orçamento (permitem que se transfira recursos da saúde e da educação para pagamento de juros).

desde a nomeação de Meirelles para o BC, anunciada em Washington em 12/12/2002 após um aperto de mãos com Bush, ainda antes da posse de Lula em seu primeiro mandato, que o atual governo executa intocavelmente a política econômica neoliberal e mantém intacto seu arcabouço jurídico-institucional.

como a política econômica é o cerne do governo, o governo Lula, em seu cerne, que determina todas as suas demais políticas, tem sido neoliberal mesmo desde antes da posse!

políticas sociais compensatórias, como o Bolsa Família, fazem parte do receituário neoliberal. são recomendadas pelo Banco Mundial para mitigarem os efeitos sociais da política econômica neoliberal.

o objetivo é impedir que o aprofundamento do desemprego e da concentração de renda esgarcem o tecido social a ponto causar instabilidade política.

uma comparação de recursos destinados para o Bolsa Família e o pagamento de juros revela que os destinados aos juros são superiores em cerca de 10 vezes.

políticas sociais devem ser o centro da política econômica, e não apenas periféricas.

o governo Lula ao mesmo tempo que lança um Programa de Aceleração do Crescimento mantém inexpugnável um BC que freia a atividade econômica através dos juros altos, compromete o desenvolvimento via apreciação do Real e acentua a desigualdade social pela concentração de renda e desemprego.

em plena crise global do neoliberalismo, no governo Lula:

- o BC é independente;

- a LRF não foi alterada;

- as desvinculações do orçamento prosseguem;

- a Selic tem sido a campeã mundial;

- o superávit primário tem se mantido elevado;

- as metas de inflação continuam estreitas.

- e as políticas sociais compensatórias tem sido aplicadas nos moldes prescritos pelo neoliberalismo.

se isto não é ser neoliberal, o que mais poderia ser?


BC e a taxa de juros



“O fato concreto é que, no Brasil, temos hoje

a menor taxa nominal e real de juros da história do país.“


por 6 anos e meio de governo Lula a Selic foi a maior taxa de juros reais do mundo.

durante todo este período, lulistas sempre afirmaram que Lula não poderia intervir no BC para baixar a Selic, pois a “independência” do BC tinha que ser preservada, para manter a “estabilidade” dos mercados.

lulistas que antes afirmavam ser a política de juros altos de responsabilidade do “BC de Meirelles”, agora pretendem incorporar mais um slogan ao seu marketing político.

o feio filho bastardo dos juros altos do “ BC de Meirelles” é convertido no pródigo e bonito filho da redução da Selic por ordem de Lula!

como toda meia-verdade, lulistas omitem que a Selic prossegue como uma das mais altas taxas de juros reais do mundo!

como toda meia-verdade, lulistas omitem que se Lula mandou reduzir os juros, foi também Lula quem manteve os juros altos!

o discurso ideológico do lulismo neoliberal enfatiza o que favorece o governo enquanto suprime aquilo que o denuncia.

a meia-verdade conveniente ao governo: “temos hoje a menor taxa nominal e real de juros da história do país.“.

o que se oculta e desmascara o governo: apesar de temos hoje a menor taxa nominal e real de juros da história do país, a Selic ainda assim permanece como um das mais altas do mundo.

juros reais de 4% ainda são um dos mais altos do mundo, induzindo a movimentos especulativos contra o Real, em virtude das taxas mundiais estarem zeradas ou negativas.

além disto, juros altos induzem a apreciação dos Real, o que prejudica a qualidade da pauta de exportações brasileira. não é sem motivo que as exportações brasileiras estão se reprimarizando (voltando a ser majoritariamente de commodities, com os produtos manufaturados perdendo espaço)

a única garantia para uma taxa de juros compatível com as necessidades de desenvolvimento com inclusão social é incluir na missão do BC a preservação do nível de emprego e do crescimento econômico.

entretanto, lulistas neoliberais nunca defendem esta mudança no BC, mantendo-o voltado apenas para os interesses do mercado financeiro.

a pretexto de exorcizar falsas expectativas de inflação futura, o BC neoliberal brasileiro tem sistematicamente abortado a retomada do crescimento econômico.

em 2004 o BC o iniciou um ciclo de alta da Selic. como resultado a variação do PIB Brasileiro caiu de 5,7% em 2004 para 2,9% em 2005. a recuperação em 2006, de 3,7%, foi insuficiente para retomar o patamar de crescimento anterior!

em setembro de 2008, o BC elevou a Selic de 13% para 13,75%. e isto mesmo num cenário de uma brutal crise global se acentuando!

taxa de juros reais desalinhada com o restante do mundo induzem a movimentos especulativos contra o Real, provocando apreciação artificial da moeda brasileira. como conseqüência o Brasil se encontra em processo de reprimarização das exportações e desindustrialização da economia.

a verdade sobre a taxa de juros é que enquanto o BC neoliberal de Lula prosseguir adotando o modelo neoliberal de “metas de inflação”, o crescimento da economia brasileira permanecerá refém dos interesses do capital especulativo!


“metas de inflação”



”No governo Lula, controlar a inflação não é um fim em si mesmo,
mas um meio para se poder implementar políticas pró-crescimento,
pró-distribuição de renda 
e em favor da redução das desigualdades sociais.”


o modelo de metas de inflação foi baixado por decreto por FHC, em 1999.

de acordo com este modelo o único objetivo institucional da política monetária é o controle da inflação. não há menção a atividade econômica ou emprego.

no decreto, de número 3.088, o artigo 1o reza: “Fica estabelecida, como diretriz para fixação do regime de política monetária, a sistemática de ‘metas de inflação’”. E o art. 2o: “Ao Banco Central do Brasil compete executar as políticas necessárias para cumprimento das metas fixadas.”

trata-se de um instrumento de regulação do Sistema Financeiro, e este não poderia ser regulado a não ser por lei complementar, como está previsto no Art. 192 da Constituição.

o conceito de metas de inflação é produto de um contorcionismo semântico de primeira grandeza.

a melhor das artes de empulhação consiste em dar nomes de senso comum a fatos complexos apenas subentendidos.

o senso comum acha que "metas de inflação" é o que o nome diz, isto é, a simples intenção de se ter uma determinada taxa de inflação no futuro.

por isso, quando se pergunta a alguém se ele é a favor ou contra as "metas de inflação" do Banco Central, a reação imediata é favorável. como ser contra metas de inflação? isso parece tão sensato quanto a "responsabilidade fiscal", outro engodo da demagogia neoliberal.

inflação é uma distorção do equilíbrio da moeda, e ter como alvo uma distorção é como ter um alvo para gripe.

a inflação é apenas uma variável entre as dezenas que se entrecruzam para compor o complexo tecido econômico.

amoldar toda a condução da política econômica em torno de uma única variável é de uma simplificação extrema.

a moeda é apenas uma referência contábil dentro da vida econômica de uma sociedade, e dentro dessa única referência se reduz o que já é uma redução, a moeda, para uma redução ainda menor, a meta de inflação.

custa a crer que alguém possa considerar tal coisa lógica. mas a idéia simplória atrai as mentes simplistas.

entretanto, a contradição semântica não é o aspecto pior do conceito de "metas de inflação".

a utilização deste modelo transforma a inflação, que é consequência e não causa, em eixo central da política econômica, desprezando-se os elementos fundamentais que são emprego e crescimento.

o modelo matemático que está por trás das "metas" não passa de uma engenharia de favorecimento ao capital financeiro, em detrimento do setor produtivo.




crescimento do PIB



o lulismo neoliberal não suporta que se compare o crescimento do PIB brasileiro com o do restante do mundo. pois ao se fazer isto, fica evidente que o desempenho de Lula é apenas medíocre, mesmo contando com condições externas extremamente favoráveis durante seus primeiros 6 anos de mandato.











de 2003 a 2008 o Brasil cresceu a uma média anual de 4,1%, enquanto o mundo cresceu a uma taxa média de 4,4%. países considerados em desenvolvimento experimentaram nesse mesmo período taxas médias de crescimento acima de 8%.










desmascarada sua defesa da performance do governo pela revelação que a estatística em relação ao restante do mundo é desfavorável para Lula, lulistas neoliberais alegam que o desempenho do Brasil só pode ser comparado ao do próprio país.












entretanto, ao se comparar o desempenho do Brasil ao longo da história, também fica também evidenciada a performance medíocre de Lula.



















ao se comparar todos os mandatos presidenciais brasileiros desde 1890 até 2006 (o último mandato presidencial concluído) tem-se:



















- crescimento do PIB (média): Lula 3,3% -> Brasil 4,5%;














- hiato de crescimento (diferença entre o crescimento mundial e o do Brasil) : Lula -1,5%(negativo) -> Brasil 1,2%;






- FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo, indica a taxa de investimento produtivo): Lula 3,5% -> Brasil 4,2%.













inconformados com a correta relativização dos dados estatístico em comparação com o próprio Brasil, proposta por eles mesmos, mas que acaba os contradizendo, lulistas neoliberais ponderam que é preciso levar em conta os anos de 2007 e 2008.




















































entretanto, ao se incluir os PIB de 2007 (5,7%) e 2008 (5,1%) e se considerar a expectativa, otimista, de 0% para 2009, ainda assim a média do segundo mandato de Lula permanece tão medíocre quanto no primeiro mandato: 3,6%.
































é assim que nada mais resta para os lulistas neoliberais, a não ser reduzir toda a discussão política ao campo que lhes convém: uma simples e direta comparação com os governos FHC.





























lulistas neoliberais não tem um projeto para o Brasil. seu projeto é meramente eleitoral. por isto reduzem o debate político a uma perene comparação com o período FHC.













superávit primário

a partir de 1999, por imposição das exigências do FMI, o governo federal passou a ser obrigado a realizar o chamado superávit primário – gastar em despesas de manutenção administrativa e em investimentos menos do que se arrecada.

conforme a imposto pelos acordos assinados com o FMI, o superávit primário, em proporção ao PIB, deveria se manter acima de 3%.

apesar de todos essa “responsabilidade fiscal”, quando FHC entrega o governo a Lula, a dívida em títulos públicos, que em janeiro de 1995 era de R$ 62 bilhões, já se situa em torno de astronômicos R$ 700 bilhões!

o governo Lula não apenas manteve a política neoliberal de superávit primário, como se tornou um recordista! o superávit primário de 4,84% em 2005 é o mais elevado registrado.

superávit primário no governo Lula:

2003 : 4,32%;
2004 : 4,60%;
2005 : 4,84%;
2006 : 4,32%;
2007 : 3,98%;
2008 : 4,06%.

em 2008, mesmo com a crise global se acentuando, ainda assim o governo neoliberal de Lula praticou um superávit primário maior do que no ano anterior.

apesar disto, a dívida em títulos públicos ultrapassa a gigantesca cifra de R$ 1,2 trilhão!

para 2009, apesar de todos os indicadores apontarem para a necessidade de remover de uma vez por todos o entulho de FHC, mantido por Lula, a meta de superávit primário foi estipulada em 3,80%.

o superávit primário é apenas um instrumento neoliberal para cercear o crescimento econômico. as medidas corretas para a redução da dívida interna são a combinação da queda dos juros com o crescimento econômico.


participação relativa dos salários no PIB

lulistas costumam apontar o aumento do salário mínimo e estatísticas de geração de empregos para defender o desempenho do governo Lula.

a verdade sobre os salários no governo Lula é que ao se comprar 2002 e 2006, verifica-se que a participação relativa dos salários no PIB se reduziu.

o emprego cresceu 17,6%, o salário real caiu 14,7% e a massa salarial se manteve estável. no período o PIB teve crescimento acumulado de 14,1%.


renda per capita e distribuição funcional de renda

a relação entre a renda per capita do Brasil com a mundial se reduziu de 79,6% em 2002 para 74,8% em 2006.

entre 2003/2006 a renda per capita mundial cresceu a média real de 3,7%. no Brasil cresceu 2,1%

lulistas costumam apontar uma ligeira diminuição do coeficiente de Gini para fundamentar sua defesa que a concentração de renda caiu no Brasil durante o governo Lula.

o coeficiente de Gini é calculado a partir dos dados do PNAD do IBGE (Pesquisa por Amostra de Domicílios).

essa pesquisa subestima a renda do capital (juros e lucros, principalmente) e indica apenas a distribuição dos rendimentos de trabalhadores assalariados e autônomos. expressa portanto, em sua maior parte, uma distribuição intra-salarial de renda.

o que deve ser analisado é a distribuição funcional de renda, reveladora do padrão de desigualdade entre as várias classes sociais.

um dos indicadores da distribuição funcional de renda é a relação entre a salário médio e o PIB per capita.

entre 2003 e 2006, a variação média anual do salário real foi de -2,1% enquanto a do PIB per capita foi de 1,9%.

a perda de -3,9% revela que no primeiro mandato de Lula a distribuição funcional de renda piorou.


superávit comercial
`
”Lula acumulou um superávit comercial de US$ 227 Bilhões
e aumentou as exportações de US$ 60 Bilhões/ano (2002)
para US$ 198 bilhões/ano (2008)
acumulando um crescimento de 230% em 6 anos.”


um cenário externo favorável fez com que a balança comercial (exportações menos importações) brasileira evoluísse positivamente entre 2002 e 2006.

entretanto, a conta de serviços (juros, remessas de lucros) apresentou no período uma elevação contínua.

a partir de 2007 o cenário externo se altera. além disto, devido as altas taxas internas de juros e uma abertura financeira e comercial extremamente liberal, há um crescimento das importações. por isto, o saldo comercial recua para US$ 40 bilhões e o resultado das transações correntes despenca para US$ 1,5 bilhão.

apesar dos sinais negativos em relação as contas externas, o BC mantém a Selic em 11,25% entre setembro de 2007 e março de 2008, sendo elevada a partir de abril de 2008, até atingir a 13,75% em setembro de 2008.

os resultados são trágicos. as contas externas fecharam 2008 com o recorde deficitário da conta de serviços e rendas de US$ 53 bilhões, puxado especialmente pelas remessas de lucros e dividendos (US$ 33,9 bilhões).

o saldo comercial do país continua em queda vertiginosa, fechando o ano em US$ 24,7 bilhões.

com esses resultados, o déficit das transações correntes em 2008 saltou para US$ 28,3 bilhões, o que nos levará a uma maior dependência de capitais estrangeiros para fechar o rombo externo.

de janeiro a junho deste ano, as exportações de básicos representaram 42% do total exportado pelo país. em 2008 respondiam por 35%.

as vendas de manufaturados seguem o movimento contrário. no primeiro semestre de 2008, respondiam por 48% das vendas internacionais, mas neste ano caíram para 43%.

caso a tendência prossiga, será a primeira inversão na pauta de exportações desde 1978.

a reprimarização das exportações brasileiras tem como uma de sua causas principais a política de juros altos do BC neoliberal de Lula, que induz a movimentos especulativos contra o Real.

como o Brasil segue o receituário neoliberal e não adota controle de fluxo de capitas, o resultado é a apreciação da moeda brasileira, com a conseqüente perda de competitividade internacional e a desindustrialização da economia brasileira. 






desindustrialização

"O crescimento econômico verificado no governo Lula 
é qualitativamente superior ao de qualquer outro período da história do Brasil."

estudos recentes do Iedi apontam sinais de desindustralização da economia brasileira.

hoje, predominam na estrutura industrial setores com vantagens competitivas ligadas à exploração de recursos naturais, uma característica que se acentuou com a grande valorização recente dos preços de commodities, o que levou os ganhos dos setores produtivos associados a esses bens e ampliou seu peso na indústria brasileira.

em síntese, mesmo sendo dotado de um parque industrial amplo e diversificado, verifica-se nos últimos anos um processo de desindustrialização, que é fruto da combinação perversa de taxa de juros elevada e câmbio valorizado. Essa combinação inibe a expansão do investimento e das exportações, corroendo a competitividade e levando a perdas de produtividade na indústria.

o desenvolvimento está associado a uma estrutura produtiva diversificada e voltada para atividades econômicas intensivas em tecnologia como requisito para um crescimento sustentável.

com a política monetária de Lula, pratica pelo BC neoliberal brasileiro, o Brasil progride...em direção ao passado!

paulatinamente voltamos à condição colonial de fornecedores de produtos básicos baratos para o mundo!


financeirização da economia brasileira

"Tivemos, sim, um aumento dos lucros do setor produtivo,








que triplicaram no primeiro mandato de Lula.





E isso mostra que o tal 'privilégio' dado ao setor financeiro
simplesmente não aconteceu. "











com a política monetária de Lula baseada em juros altos e apreciação do Real, as empresas brasileiras perdem competitividade no exterior, prejudicando as exportações que entram em processo de reprimarização.







além disto, como exportadores tem a maior parte de seus custos em R$ e suas receitas são em US$, com a apreciação do Real, os lucros tendem a diminuir.

para compensar as perdas causadas pela apreciação do Real, as empresas passaram a recorrer a operações no mercado financeiro (entre elas o infame swap reverso, oferecido pelo próprio BC!) desviando-se do foco de seu negócio e praticando investimentos puramente especulativos.

com isto, seus lucros passam a vir mais de operações financeiras do que de suas atividades operacionais.

embora as empresas mantenham sua taxa de lucro, a conseqüência é a financeirização da economia brasileira.

numa economia financeirizada há um desalinhamento entre a taxa de lucro e a taxa de investimentos.

em outras palavras: o esperado seria que com a lucratividade ascendente, um sinal de aumento nas vendas e mercado aquecido, a empresa reinvestisse parte do lucro para aumentar a produção, vender mais e manter a alta lucratividade.

porém, como o lucro vem do financeiro e não do operacional, as empresas não tem motivo para reinvestir em aumento da capacidade de produção!

no segundo semestre de 2008, com a inversão da posição cambial e a desvalorização do Real, as empresas amargam pesados prejuízos.

Sadia, Aracruz e Votorantim são apenas os casos mais trágicos, segundo informações do próprio governo, mais de 200 empresas foram duramente atingidas em virtudes de operações no mercado financeiro. 

























Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)







”A LRF foi uma necessidade gerada pela irresponsabilidade
com que os políticos brasileiros administravam os recursos públicos.
Somente quem deseja o pior para o país
é que pode querer a volta da situação anterior à da existência da LRF.
A LRF representou um avanço no controle das finanças públicas "

ao contrário do que o seu nome induz, a LRF não é muito mais de irresponsabilidade social do que de “responsabilidade fiscal”.

a melhor das artes de empulhação consiste em dar nomes de senso comum a fatos complexos apenas subentendidos.

o senso comum acha que "responsabilidade fiscal" é o que o nome diz, isto: responsabilidade com as finanças públicas.

por isso, quando se pergunta a alguém se ele é a favor ou contra uma "Lei de Responsabilidade Fiscal" a reação imediata é favorável.

através da LRF os município e estados são submetidos a política econômica neoliberal do governo federal.

o objetivo da Lei – que não se aplica ao governo federal - é impedir que governadores e prefeitos resistam ao neoliberalismo do governo central.

a LRF, apesar de se denominar de “responsabilidade fiscal”, não impõe nenhum limite ao pagamento de juros”.

lulistas neoliberais defendem a LRF não porque sejam a favor de rigor com os gastos públicos, e sim porque também defendem o interesse dos sistema financeiro.

a LFR foi apresentada por FHC. em sua aprovação, em janeiro de 2000, o PT foi contra em bloco, na Câmara e no Senado. após a aprovação da LRF, o PT ingressou no STF com uma ação de inconstitucionalidade.

velhos tempos em que a LRF era defendida apenas pelos tucanos e neoliberais. hoje, com Lula no governo, são lulistas neoliberais que se encarregam de defendê-la.



lucros astronômicos dos bancos

” Então, como o volume de operações de crédito no país
quase dobrou(de 22% para 43% do PIB)
é claro que os lucros dos bancos cresceram neste processo.”

lulistas neoliberais são defensores dos altos lucros dos bancos. por isto não querem mudanças no BC!

por isto precisam explicar os astronômicos ganhos do sistema bancário por outros motivos que não sejam a Selic e as tarifas bancárias.

a rentabilidade dos bancos não tem sido afetada pelas oscilações da economia brasileira. a única diferença está na fonte de lucros das instituições financeiras. em períodos de menor crescimento e maior instabilidade econômica, os ganhos são inflados pelas operações com títulos públicos, que ficam mais rentáveis com o aumento da taxa básica de juros. com um maior dinamismo da economia, o lucro vem da cobrança de tarifas, impulsionadas pela expansão das operações de crédito.

em 2002, quando as especulações em torno das eleições presidenciais levaram o dólar perto de R$ 4, os principais bancos privados do país tiveram uma rentabilidade sobre patrimônio líquido de 28%. naquela ocasião, a elevada taxa Selic – oscilando em torno de 20% ao ano - favorecia os ganhos com aplicações em títulos públicos. as receitas com operações de tesouraria representavam 34% do faturamento total, enquanto o peso das tarifas era de apenas 11%.

já em 2007, a rentabilidade desse grupo de instituições chegou a 35%, sendo que o peso das tarifas no faturamento subiu para 18%, e os ganhos com tesouraria, ao contrário, caíram para 23% da receita total.



emprego ou desemprego?



“A taxa de desemprego em Dezembro de 2002 foi de 10,5%,

sendo que em Dezembro de 2008 ela estava em 6,8%.
Assim, a taxa de desemprego caiu 35% durante o período 2003/2008.”

"No governo Lula houve geração líquida de 7,7 milhões de empregos formais
entre 2003-2008."


dados sobre o alarmante nível de desemprego, cfe. pesquisa do IBGE para junho de 2009:

- desemprego aberto: 8,1%
- sub-emprego (renda inferior a 1 salário mínimo): 17,2%

ou seja, temos ¼ da força de trabalho do país desempregada ou recebendo menos do que 1 SM!

na verdade, cfe. o IBGE, o subemprego (renda inferior a 1 SM) quase dobrou no governo Lula!

- Janeiro/2003 - 9,8%
- Junho/2009 - 17,2%

desemprego e subemprego devem ser avaliados conjuntamente! pois habitualmente há migração de um índice para o outro. sendo que o índice de subemprego, pela metodologia do IBGE que apenas considera o “desemprego aberto”, é tão ou mais importante quanto o índice de desemprego.

a metodologia utilizada pelo IBGE é a de “desemprego aberto”: 
“são classificadas como desocupadas na semana de referência as pessoas sem trabalho na semana de referência, mas que estavam disponíveis para assumir um trabalho nessa semana e que tomaram alguma providência efetiva para conseguir trabalho no período de referência de 30 dias, sem terem tido qualquer trabalho ou após terem saído do último trabalho que tiveram nesse período. ”

portanto: não considera as pessoas que simplesmente desistiram de procurar trabalho no período de referência.

desemprego IBGE: 06/2009 = 8,1%

a metodologia utilizada pelo Dieese é mais abrangente.

desemprego aberto: pessoas que procuraram trabalho de maneira efetiva nos 30 dias anteriores ao da entrevista e não exerceram nenhum trabalho nos sete últimos dias;

desemprego oculto pelo trabalho precário: pessoas que realizam trabalhos precários - algum trabalho remunerado ocasional de auto-ocupação - ou pessoas que realizam trabalho não-remunerado em ajuda a negócios de parentes e que procuraram mudar de trabalho nos 30 dias anteriores ao da entrevista ou que, não tendo procurado neste período, o fizeram sem êxito até 12 meses atrás;

desemprego oculto pelo desalento: pessoas que não possuem trabalho e nem procuraram nos últimos 30 dias anteriores ao da entrevista, por desestímulos do mercado de trabalho ou por circunstâncias fortuitas, mas apresentaram procura efetiva de trabalho nos últimos 12 meses.

desemprego Dieese: 06/2009 – 14,8%


salário mínimo

para junho de 2009, o salário mínimo necessário, de acordo com a Constituição Federal, deveria ser de R$ 2.046. enquanto o presente salário mínimo, uma das jóias máxima do marketing lulista, é de apenas R$ 465.

ao se examinar o salário mínimo ao longo da história (em valores reais cfe.calculado pelo Dieese) se desmascara mais um dos falsos milagres do marketing oficial lulista.

- Vargas = R$ 899,25
- José Linhares = R$ 727,32
- Dutra = R$ 494,03
- Vargas = R$ 829,83
- Café Filho = R$ 1.274,48
- Nereu Ramos = R$ 1.139,53
- JK = R$ 1.238,17
- Jânio = R$ 1.189,69
- Jango= R$ 1.008,37
- Castelo Branco = R$ 889,05
- Costa e Silva = R$ 718,15
- Junta = R$ 693,83
- Médici = R$ 654,69
- Geisel = R$ 582,91
- Figueiredo = R$ 601,31
- Sarney = R$ 436,48
- Collor = R$ 287,58
- Itamar = R$ 276,21
- FHC = R$ 273,00
- Lula = R$ 375,07

nova classe média

o que é necessário para numa pesquisa sobre mercado de consumo alguém estar nas classes D ou C?

se um morador de uma favela carioca construir mais um cômodo em sua residência e adquirir alguns eletrodomésticos “produzidos na China” ele sai da classe D para a classe C?

se a intenção for de fato analisar o que ocorre no Brasil coma festejada “mobilidade social” ocorrida sob Lula, poderíamos chegar a constatações bastante desalentadoras!

qual a metodologia para a classificação sócio-econômica utilizada no Brasil? o que é preciso para sair da classe D para a C2?

- variáveis selecionadas e pontos cfe. qtde (1-2-3-4)
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• TV em cores (1-2-3-4)
• vídeo cassete ou DVD (2-2-2-2)
• automóveis (4-7-9-9)
• rádios (1-2-3-4)
• banheiros (4-5-6-7)
• empregadas domésticas (3-4-4-4)
• máquina de lavar roupa (2-2-2-2)
• geladeira e freezer (4-4-4-4)
• nível de instrução do chefe de família (1-2-4-8)

- pontos de corte das classes
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classe A1 - 42/46 pts.
A2 - 35/41
B1 – 29/34
B2 – 23/28
C1 – 18/22
C2 – 14/17
D – 8/13
E – 0/7

exemplo de classe D com 13 pts
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• TV em cores (1)
• vídeo cassete ou DVD (0)
• automóveis (0)
• rádios (2)
• banheiros (4)
• empregadas domésticas (0)
• máquina de lavar roupa (0)
• geladeira e freezer (4)
• Nível de instrução do chefe de família (2)

exemplo de classe C2 com 15 pts
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• TV em cores (1)
• vídeo cassete ou DVD (2)
• automóveis (0)
• rádios (2)
• banheiros (4)
• empregadas domésticas (0)
• máquina de lavar roupa (0)
• geladeira e freezer (4)
• nível de instrução do chefe de família (2)

ou seja:

através de um crediário, adquirindo um eletro-eletrônico “produzido na China”, se dá a “mobilidade social” ocorrida no governo Lula!


“governabilidade”


“Se o próprio demônio, Satanás ele mesmo, fosse presidente do Senado
e apoiasse o governo Lula,
o PT teria que defender o demônio.”


enfim, todas as máscaras no chão!

se o demônio ele próprio apoiar Lula, o PT, a Esquerda e todos os brasileiros tem que defender o demônio!

após 6 anos e meio de Lula, após Lula trair 23 anos de luta do PT, eis a questão: apoiar ou apoiar o demônio.

faltou explicar o principal: o que levaria o demônio a apoiar Lula? que tipo de pacto Lula fez com o demônio para ser apoiado por ele?

entretanto, em acordos como estes são negociadas a alma do Brasil e as almas de todos nós.

Lula traiu 23 anos de história do PT. Lula traiu o movimento popular. Lula traiu a si próprio. e Lula arrastou a esquerda brasileira, o PT e todas as forças progressistas do país para a uma crise em que a falta de perspectiva é tão cruel que a opção que resta ao lulismo se resume a apoiar ou apoiar o demônio!

sim! existe o lulismo! não se trata mais de apoio político a Lula. não mais se trata de militantes ou simpatizantes do PT. e sim de seguidores de Lula. sem crítica. e sem condições.

para Lula, o grande dilema não é ter vendido sua alma ao diabo. e sim não ter absoluta certeza se o diabo efetivou a compra.

no rumo para 2010, o que vemos agora, com Sarney se tornando a “garantia de estabilidade”, é apenas o inicio. Lula, e com ele o PT e a política brasileira, vão descer ao fundo do fundo do fundo poço.

mais uma derrota que Lula impõe a democracia. mais e mais Lula se torna o grande neo-coronel. mais uma descaracterização que Lula impõe ao PT. mais e mais o PT se converte no neo-PMDB. mais uma infantilização e regressão do debate político. mais e mais a discussão política se reduz a um embate entre os seguidores e os que execram Lula. mais distante o Brasil de se tornar uma nação. mais e mais nos tornamos um Estado disputado por gangues patrimonialistas. mais distante de qualquer proposta para 2010. mais e mais estamos pautados por acordos fisiológicos voltados exclusivamente a manutenção do poder.

que percamos todos nós todas as esperanças. e quem quiser que apoie Sarney. ou até mesmo o demônio. não haverá nenhuma misericórdia para nenhum de nós. cada um por si. Deus contra todos. e que ninguém se salve.
“Ou então – será que pode também ser que, 
quando um tem noção de resolver a vender a alma sua, 
que é porque ela já estava dada vendida, sem se saber; 
e a pessoa sujeita está só é certificando o regular dalgum velho trato – 
que já se vendeu aos poucos, faz tempo?
Todos não vendem? 
Digo ao senhor: o diabo não existe, não há, 
e a ele eu vendi a alma… 
Meu medo é este. 
A quem vendi? 
Medo meu é este, meu senhor: 
então, a alma, a gente vende, só, é sem nenhum comprador”[1]



[1] Guimarães Rosa, “Grande Sertão: Veredas”





a grande tragédia política brasileira


lulistas cometem um erro. um erro de conseqüências catastróficas para o Brasil.

o erro catastrófico dos lulistas não está, de modo algum, em apoiar Lula. não há nenhum problema no apoio a Lula. e muito menos em defender o governo. e menos ainda em evitar qualquer possibilidade de volta dos tucanos.

o erro catastrófico dos lulistas está em apoiar a política econômica neoliberal que Lula herdou e de FHC e mantém até hoje!

FHC pretendia desenvolver o Brasil às custas de investimentos externos. o resultado foi que o governo FHC se tornou um dos períodos mais medíocres da história brasileira no que tange a desenvolvimento e inclusão social.

Lula pretende desenvolver o Brasil mantendo intocado o cerne neoliberal da economia.

mas não há qualquer conciliação possível entre desenvolvimento com inclusão social e neoliberalismo.

e o neoliberalismo na economia se traduz em: juros altos, utilização da taxa de juros como único instrumento para controlar a inflação, BC independente da missão se preservar o emprego e o crescimento econômico, regime de metas de inflação, superávit primário, livre fluxo de capitais, LRF, DRU...

mantido os fundamentos neoliberais (como até o momento nos dois governo de Lula), alguns avanços pontuais podem ser obtidos, mas no geral não haverá desenvolvimento. e muito menos inclusão social.

lulistas que defendem desenvolvimento com inclusão social deveriam ser os primeiros a propor e defender mudanças na política econômica.

este é o erro catastrófico dos lulistas: fazer coincidir seu apoio a Lula com um apoio automático à política neoliberal de Lula.




[1] Guimarães Rosa, “Grande Sertão: Veredas”
[2] Marilena Chauí, “Crítica e Ideologia”
[3] Guimarães Rosa, “Grande Sertão: Veredas”





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