10 agosto 2025

Os bons burgueses


Os bons burgueses

Texto excelente! E arrasador!

Petra Costa, Walter Salles (uma vez Júnior, jamais Senior), Eduardo Moreira... 
Alguns dos nomes próprios de uma fração da classe dominante brasileira, cada qual crente de si mesmo como sendo um "bom burguês".
Contudo, a única bondade autêntica de um burguês é aquela dizendo respeito à acumulação de Capital. 

O Júnior Walter Salles (cujo sufixo generacional tem sido sistematicamente extirpado pela mídia) chega a ser a encarnação da composição do Capitalismo no Brasil: finanças e extrativismo entrelaçados numa só pessoa.
É um dos três cineastas mais ricos do mundo. Não por conta do cinema que produz. Mas na condição de grande acionista de um conglomerado financeiro e também de uma mineradora de nióbio (a qual controla cerca de 80% do mercado mundial desta commodity). 

Júnior conseguiu reduzir um assasinato político, e todo seu complexo contexto histórico, em mero drama familiar. Por certo esta abordagem foi decisiva para a premiação recebida em Cannes. 

《Em Democracia em Vertigem, por exemplo, a voz de Petra conduz o espectador pela narrativa de declínio da Nova República como se estivéssemos assistindo à história de uma paixão traída. Dilma Rousseff é apresentada como heroína trágica, Lula como mártir silencioso, e o golpe de 2016 como um acontecimento quase inexplicável, como se a história fosse uma força impessoal que nos arrasta, e não a luta entre interesses concretos de classe.》

Embora o Golpe de 2016 tenha destroçado ilusões sobre a democracia liberal representativa, o progressismo ainda está aqui. E o progressismo também tem um nome próprio: Lula. 
O Lulismo repete a tragédia histórica do Getulismo. Enquanto o mito do Pai dos Pobres não foi superado, a Esquerda no Brasil girou em falso cavando um abismo sob seus pés.
Petra e seus filmes foram tragados por esse abismo, contemporaneamente escavado em nome do mito Lulinha Paz e Amor. 

Em seu abraço de morte com o "progressismo" a diretora cinematográfica Petra se tornou um personagem. Mais exatamente o de Júlio Fuentes no filme "Terra em Transe".
Representante no filme de uma hipotética burguesia nacional, o "bom burguês" acaba por ser confrontado com a hipocrisia de suas pretensas boas ações: "Olhe, imbecil! A Luta de Classes existe. Qual é a sua classe? Vamos, diga!".

《Petra Costa filma o colapso da democracia burguesa brasileira do ponto de vista de quem sempre esteve em sua cúpula. [...] A democracia que ela defende nunca foi vivida pelas massas. O projeto que ela lamenta nunca foi construído pelos de baixo. A esperança que ela cultiva é, na verdade, uma restauração: a volta dos gestores educados, das instituições respeitáveis, da política mediada por vozes suaves e documentários premiados.》

No cenário atual da burguesia bondosa se destaca o astro Eduardo Moreira.
Convencido do "Brasil247" ainda  não ser um site progressista o suficiente, ele decidiu criar seu próprio canal de notícias e análises.

O conhecimento liberta? Sim! Porém só aquele oriundo da experiência de lutas concretas. Caso contrário, não há emancipação possível.  Tão somente manutenção do sistema de dominação, sob a ilusão de contestá-lo. 

O público-alvo de Eduardo Moreira é o mesmo dos filmes de Petra Costa. 《Sua audiência é a classe média urbana, escolarizada, fragilizada pela ascensão da direita, mas ainda comprometida com a estrutura que lhe deu lugar no mundo.》

Um meio de comunicação configurado como tecido conjuntivo das lutas concretas, deve atuar para "noticiar as lutas; apoiá-las; pensar sobre elas".
E não só. Principalmente para tornar viável os participantes das lutas produzirem e divulgarem conteúdo.

《Esse cinema não pode ser produzido nos moldes da Netflix, nem inscrito nos circuitos de legitimação da indústria cultural. Ele exige outro modelo de produção: autônomo, coletivo, enraizado nas lutas reais. Exige outras  nóformas de circulação: redes comunitárias, cineclubes, espaços populares, mídias independentes. Exige outra linguagem: uma forma estética que não seja a do consolo, mas a da denúncia, da convocação, da organização.》

Por outro lado, todo processo autêntico de luta emancipatória coloca em questão a auto-transformação de seus integrantes. 
Sendo esta a parte mais difícil. E na qual temos repetidamente derrotado a nós mesmos.

Vídeos:
 
• "Em busca do NÃO: A Origem"
O beco sem saída atual da Esquerda tem sua origem em disputas internas ocorridas no seio da vanguarda do movimento de massas entre 1979/1989.
Os burocratas oportunistas e os pelegos conciliadores venceram. E continuam vencendo. 

•  "Companheiro Bancário"
A greve de bancários no Rio de Janeiro em 1979.

Comentário ao artigo: 
"Petra Costa e a Estética da Derrota: A Função Ideológica do Cinema Progressista"
Sua obra não expressa uma ruptura com o sistema, mas uma tentativa de restaurar sua legitimidade pela via da estética.