03 setembro 2021


A pandemia não será superada por vacinas, por mais que estas possam ser um controle de danos. 

A terceira dose (e subsequentes) e as variantes são claro indicativo de não haver solução por dentro de um sistema que em si é o problema.

Outras pandemias virão, tão destrutivas quanto as próximas crises do Capitalismo, do qual elas decorrem pela globalização das epidemias.

Em meio a tantos negacionismos, deste nascem todos os demais: a negação de que fora da auto-gestão como meio e fim, prevalecerá a extinção.

fim

Pandemia e auto-gestão #2

Então devemos retornar à situação de caça e coleta? 

Evidente que não! Isto seria tão estúpido quanto supor que auto-disciplina implica em auto-flagelação.

Auto-disciplina não é erigir para si mesmo um Estado interior, nos submetendo 24x7 pela vigilância e controle, ou nos organizarmos como um partido, com seu comitê central comandando nossas vidas.

Auto-disciplina é a única possibilidade de florescer e fortalecer nossa potência, sem a qual nenhuma luta política de emancipação pode ser levada a cabo.

Por sua vez, o surgimento de micro-organismos altamente letais tem sua origem primária nas formas de produção agrícola (incluindo a apropriação e armazenamento do excedente), bem como na criação intensiva de animais em confinamento e na substituição extensiva de florestas por pastos.

Numa sociedade fundada na auto-gestão (portanto baseada na auto-disciplina), tanto a agricultura quanto a criação de animais teriam outra configuração.

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Pandemia e auto-gestão #1

Após 18 meses, o amplo espectro político, de um extremo a outro, fracassou rotundamentente no enfrentamento à pandemia.

Por quê? Porque só é possível fazê-lo a partir do seguinte marco: 《Se a autogestão da sociedade é preparada pela autogestão das lutas, agora ela é preparada também pela capacidade de autodisciplina no combate à pandemia.

Além disto é indispensável colocar a pandemia no contexto histórico das relações sociais, determinantes para sua eclosão.

Sem auto-disciplina não há auto-gestão. Sem agricultura e pecuária, tais quais as conhecemos, não há epidemias.

Então devemos retornar à situação de caça e coleta? 

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22 agosto 2021

Luta de Classes no Afeganistão #6


Em países periféricos a existência de burguesias nacionais é uma impossibilidade histórica, ainda mais frente a contemporânea transnacionalização econômica sob o Capital Financeiro.

O Brasil é um exemplo disto, pela atual aliança indissolúvel entre os exportadores de commodities, o sistema financeiro e as mega-corporações transnacionais. 

Não há como concretamente lutar contra o Imperialismo sem confrontar as classes dominantes locais, sejam elas quais forem, pois são os sócios minoritários que materializam seus interesses em cada país.

No caso do Afeganistão, a configuração local do Imperialismo não se dá única e exclusivamente por uma ocupação militar, seja ou não dos EUA.

O determinante é como os grandes produtores de ópio, associados ao sistema financeiro e sob o véu do clero fundamentalista, estão integrados a uma rede internacional do narcotráfico, a qual é controlada pelo Imperialismo.

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Luta de Classes no Afeganistão #5

Postular genericamente que o Imperialismo é o inimigo principal pode gerar erros, levando a consequências políticas  já bem conhecidas. 

O inimigo principal é o Capitalismo, em todas as suas formas, sendo o Imperialismo uma delas.

Mas não só. 

O inimigo é todo sistema no qual os meios de produção, assim como o excedente gerado, não estejam sob efetivo controle coletivo.

O Imperialismo não é uma abstração. E a luta contra ele deve se dar através do enfrentamento concreto das configurações concretas por ele assumidas, em cada tempo e lugar.

Não se deve supor a existência de setores dominantes nacionais independentes do Imperialismo, sendo este um estágio avançado e superior do próprio Capitalismo ao promover, através da exportação de capitais, uma neo-colonização em âmbito global.

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21 agosto 2021

Luta de Classes no Afeganistão #4


Embora a produção mundial de heroína dependa de 90% do ópio afegão, sua participação no PIB do país costuma ser estimada em apenas de 6% a 11%.

Para noção de como se trata de um percentual distorcido, numa economia complexa e diversificada como a brasileira, ao contrário do Afeganistão, o agronegócio responde por 26,6% do PIB.

O resultado da Guerra às Drogas no Afeganistão foi sua consolidação como narcoestado, o que exige também um sistema financeiro capaz de legalizar a renda do tráfico. 

O difundido e ramificado meio informal de transferência de dinheiro no Afeganistão é denominado de hawala.

A depender da região, e da época do ano, o tráfico responde por de 30% a 100% do volume de recursos nele movimentado.

No Afeganistão domina a agricultura do ópio associada ao sistema financeiro, integrados às redes transnacionais do narcotráfico.

Como sempre, em países periféricos a classe dominante é indissoluvelmente comprometida com os interesses internacionais.

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Luta de Classes no Afeganistão #3

Apesar de o Talibã tenha prejudicado seriamente os senhores da papoula (em 2001), seu fundamentalismo religioso bloqueou o desenvolvimento das forças produtivas, mantendo a economia afegã sob uma burca e castrando a capacidade de luta da classe trabalhadora.

Tendo cerca de 2/3 de seus 38 milhões de habitantes vivendo abaixo da linha da pobreza, a superação desta situação não virá de um regime regressivo.

Ainda mais num país em cuja história recente ocorreram uma Revolução Democrática (1973), seguida de uma Revolução de cunho socialista (1978).

Sua localização estratégica numa encruzilhada de continentes, fazendo divisas com ex-repúblicas soviéticas, Paquistão, Irã e  China, exige destes países um relacionamento capaz de evitar persistente instabilidade em suas fronteiras.

Como ter êxito no que URSS e EUA fracassaram? Ou seja: como estabilizar o Afeganistão?

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20 agosto 2021

Luta de Classes no Afeganistão #2

Ao terem seus privilégios e interesses confrontados pela Revolução de Saur (1978), os grandes proprietários de terra e o clero fundamentalista recorreram à formação de milícias (os Mujahidins), treinadas e armadas pelo Imperialismo, pois as Forças Armadas afegãs estavam alinhadas com o processo revolucionário. 

Estes diversos grupos de "guerreiros santos" jamais se unificaram, sempre atuaram com grande autonomia, fincaram raízes na população reacionária, se constituindo como força política própria. 

Numa guerra civil a Luta de Classes se apresenta em toda sua brutalidade, com a selvagem disputa entre as diversas frações pela supremacia.

Formado em 1994, mas nascido dos Mujahidins, o Talibã emerge em 1996 como o vencedor do conflito interno armado seguido à retirada soviética (1989).

Contudo, até serem derrubados pelos EUA em 2001, tampouco o regime foi capaz de minimamente estabilizar o país.

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Luta de Classes no Afeganistão #1


Sem colocarmos a análise sob a ótica da Luta de Classes, tudo nos parecerá obscuro, confuso e indecifrável. 

Daí surgirem visões distorcidas, fazendo dos indivíduos os agentes da História, tomando meros coadjuvantes como protagonistas e trazendo ao primeiro plano conspirações acessórias.

Em 20 anos de ocupação militar, os EUA não lograram viabilizar um governo local alinhado com seus interesses, como antes a URSS também fracassara em seus 10 anos no Afeganistão. 

O custo da derrota da Revolução de Saur (1978), precedida pela deposição da monarquia em 1973, foi pago com o esfacelamento das relações sociais e produtivas no Afeganistão.

Desde então jamais se restabeleceu qualquer forma consolidada de hegemonia no país, alternando períodos de aberta ocupação estrangeira e outros de encarniçada guerra civil.

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19 agosto 2021

O Retorno

Com a invasão dos EUA em 2001, a agricultura da papoula, que  fora praticamente erradicada naquele mesmo ano pelo Talibã, voltou a florescer no Afeganistão.

É de se presumir que o cultivo tenha sido retomado nas terras dos grandes proprietários rurais, anteriormente opositores à Revolução de Saur, ocorrida em 1978 e determinante para o processo histórico posterior.

Foram estes mesmos grandes proprietários rurais, aliados ao clero, quem fomentaram a oposição fundamentalista, dando origem aos Mujahidins, berço da Al-Qaeda e do Talibã. 

Como agora agirá o Talibã? Novamente irá contrariar o negócio internacional do narcotráfico?

Os interesses econômicos em torno desta questão serão determinantes nos rumos do Afeganistão.

Revolução de Saur


De como a Revolução de Saur (em 1978 no Afeganistão) acabou derrotando a si mesma e o fundamentalismo bicou os olhos de quem o criou

• A extremada disputa interna entre as duas tendências do PDPA (Partido Democrático do Povo), com golpes e assassinatos, inviabilizaram a atuação conjunta indispensável para consolidar a Revolução. 

• Os grandes proprietários de terra tiveram seus interesses contrariados e acirraram o fundamentalismo religioso, jogando a população rural contra as mudanças implementadas pelo governo revolucionário: reforma agrária, regulação financeira, ensino público, Estado Laico, Direitos da Mulher, etc.

• Como resultado se fortaleceram os grupos fundamentalistas, berço dos Mujahidins e, depois, da Al-Qaeda e do Talibã, sempre contando com financiamento internacional dos EUA, Paquistão, Arábia Saudita e até mesmo da China.

• O governo revolucionário perdeu o passo, porque desde seu momento inicial caminhou por cima e não com as pernas do povo.

15 agosto 2021

A serpente está fumando #4


Num Brasil neo-colonial e semi-escravocrata, a Nação perde a soberania e os trabalhadores retornam ao cativeiro.

Como lutar? Qual o exemplo histórico? 

Reivindicar dentro das fazendas melhores condições de trabalho aos senhores? 

Ser coadjuvante num movimento de independência, cujo resultado é substituir uma dominação por outra?

Ou fugir para erigir quilombos, neles criando relações de autonomia? 

Mesmo sempre sujeitos aos ataques de seus ex-senhores, trata-se de condição de vida muito superior aquela das senzalas.

Qual a configuração dos quilombos contemporâneos? Quais a inúmeras experiências atuais de comunidades autônomas?

Para não serem esmagados um por vez, os quilombos precisam se articular em redes.

Também não devem se fechar sobre si mesmos, e sim se aliarem às lutas de todos os demais trabalhadores. 

Afinal, o que é a autonomia? Como caminhar para ela?

Uma das respostas possíveis: compreendida como meio e fim, a autonomia é a forma pela qual se materializa como processo a Revolução.

A serpente está fumando #3


Com Boi, Bala e Bíblia unidos sob a bandeira desfraldada de mais um golpe, os Bancos acompanham a cena com certa frivolidade. 

Embora não se eximam de assinar manifestos pró Democracia, tem contabilizada a certeza de no final das contas, sejam elas quais forem, os juros continuarão a ser pagos, religiosamente.

Afinal, é para a espiral crescente dos juros não cessar de se erguer que os golpes são dados.

Ao contrário de 1964, o Golpe de 2016 não tem qualquer compromisso quanto ao desenvolvimento das forças produtivas.

Tudo se dá pelo avesso, numa destruição não criativa sem precedentes em nossa história (inclusive do Capital Variável) e da qual não restará pedra sobre pedra.

Enquanto isto, Lula crê piamente ser de novo o avatar da classe dominante, capaz de pacificar um país coberto de escombros e cadáveres. 

Crenças à parte, assim como ocorreu com 2018, 2022 tende também se tornar para sempre um ano longe demais.

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A serpente está fumando #2


Na Guerra de Famiglias em curso um setor sonha com a 3a. via, capaz de seduzir a maior parte do eleitorado a votar contra seu próprio interesse.

Entretanto, a eleição de Bolsonaro só ocorreu com Lula alijado e o Capitão encarnando o candidato anti-sistema, apoiando-se também no imenso prestígio então desfrutado pelas FFAA.

Não só não haverá 3a. via, como a única via para viabilizar o projeto do bloco dominante é através de uma Ditadura. 

Seja a militar representada pelo General-Vice, ou a fascista cujo símbolo inequívoco é o  Capitão-Presidente.

O grande empresariado se verá forçado a despir-se de todas as suas veleidades democráticas, para se expor como é, e como sempre foi: o legítimo herdeiro do escravagismo colonial.

O agronegócio já ergueu o berrante e soltou seu grito de guerra.

Os CEO da Teologia da Prosperidade convocam seu povo abençoado à guerra santa. 

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A serpente está fumando #1


O Brasil não vai superar a situação atual de forma pacífica.

Aliás, para a maioria da população as condições normais de vida sempre estiveram longe de serem pacíficas.

Como um todo e de modo geral, a contradição entre os interesses econômicos se acirrou-se de modo insuperável. 

Como é incapaz de abrir novas frentes de negócio, algo que exigiria investimentos em Ciência, Tecnologia, Pesquisa e Desenvolvimento, o grande empresariado disputa entre si pelo saque ao patrimônio público. 

As diversas facções do Capital se engalfinham numa luta mortal, sabendo haver lugar apenas para poucos, muito poucos.

Por outro lado, um processo de expropriação desta envergadura e velocidade só pode ser imposto ao conjunto da população pela força.

Por isto foi derrotado 4 vezes nas urnas (2002, 2006, 2010, 2014), exigindo para seu avanço o Golpe de 2016 e a fraude das Eleições de 2018.

Sua continuidade se dará num desdobramento de golpes dentro do golpe.

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06 agosto 2021


 A burguesia agora se recusa a continuar chocando o ovo que ela mesmo pôs: serpentes engolem serpentes.


O Fascismo é o último recurso da classe dominante em superar a Crise de Hegemonia, em busca de re-estabelecer o exercício da dominação pela via do consentimento.

Já com a Ditadura Militar a classe dominante desiste de recompor a hegemonia, passando a exercer o poder pela violência.

Ambas opções trazem alto risco para a classe dominante.

A Ditadura Militar pelo envolvimento direto na política e na gestão pública das FFAA, "profissionais da violência".

E o Fascismo por causa do movimento de massas que o viabiliza e dá sustentação.

A classe dominante não tem pleno domínio em nenhum dos dois casos, mas no caso do Fascismo a possibilidade de sair de seu controle é ainda maior.

👉🏼 https://www.eleicaoserespeita.org/
O Brasil terá eleições e seus resultados serão respeitados

05 agosto 2021

Queimada #6

Por que lutamos?

Certamente não por pequenas vitórias efêmeras. Com certeza pela consciência e capacidade de organização para lutar melhor.

As lutas concretas do cotidiano são a forma de união política que deve ser promovida, em torno delas erguendo redes de solidariedade, inclusive de auto-preservação.

Contudo, isto só de viabiliza caso seja colocado numa perspectiva pós-capitalista. Portanto, revolucionária.

Como fazê-lo?

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Queimada #5


 Como promover solidariedade e união política na luta?

Nem sempre uma revolta conduz à revolução, de fato pode ser capturada e degenerar no fascismo. Contudo, não pode haver revolução se não há revolta.

Se estamos num ressurgimento do fascismo, é porque há muita revolta, mesmo muda e contida ou distorcida e inconsequente.

A solidariedade e a união política só tem consistência quando formadas em torno de lutas concretas do cotidiano.

Nestas lutas, por mais singelas que forem, estão todas as contradições do Capitalismo contemporâneo.

É a revolta com as insuportáveis condições de vida que leva as pessoas a lutarem.

E a Revolução não está distante e separada das lutas do cotidiano, ao contrário nasce delas como a única possibilidade de terem sucesso.

Sob o Capitalismo, absolutamente todas as lutas estão fadadas ao fracasso, de um modo ou de outro, mais cedo ou mais tarde.

Não é isto que devemos temer, tampouco é motivo para desânimo, muito menos se trata de derrotismo.

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Queimada #4


 Qual termo é o determinante: lutar ou se auto-preservar?

Se a busca de protagonismo heróico é uma das patologias da luta política, não compreender o heroísmo imanente à própria luta é fazer da preservação pessoal um limite e não condição circunstancial da continuidade da luta, mesmo que seja por outros meios.

Lutar é fazer História, mas sempre a luta se processa sob circunstâncias sobre as quais não se tem escolha.

O que deve ser preservado é a luta, ainda que através de recuos táticos ou mudança de estratégia.

Muitas vezes a preservação individual não é possível.

Quem a isto não quiser, ou não for capaz de compreender, deve se inserir no processo de luta numa posição afastada da linha de frente.

Há muitas formas de participar, embora nenhuma delas garanta seguro total de preservação pessoal.

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Queimada #3


Frente a uma situação radical, com a ascensão do fascismo à brasileira, qual seria o comportamento compatível?

É a questão cuja resposta adequada pode deflagrar um novo ciclo de lutas.

Características importantes desse comportamento seriam:

• Aprender a lutar se preservando para a luta.
• Promover relações de solidariedade e a união política dos trabalhadores.

 

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