27 setembro 2006

patético momento

ele não tinha esse rosto de hoje. ainda não perdera sua face na confusão das imagens nos espelhos.

não choraremos o que houve. choraremos esse mistério. a indizível conjunção que ordena vidas e mundos em pólos inexoráveis de ruína e de exaltação.

foi no ano de 1989 que, pelos caminhos do mundo, nosso destino se perdeu. nosso grande sonho de homens esmagado pela força surda dos vermes.

mas algum destino se perde?

o que esperavas? envelhecer calmamente, orgulhoso e impenitente...

eis que agora, a força, o jogo, o acidente, esse esquema sobre-humano, novamente te trazem para aquela mesma encruzilhada, quando foste pusilânime e, como veia de sangue impuro, queimaste a pura primavera.

noite confusa. data sinistra.

que sombrias intrigas houve em tua formação? que negócio fizeste? nenhum remorso te acomete?

mas eis que agora a figueira em teu destino se intromete. voltaste para aquele instante.

se outra vez desmorona, ou se edifica, não sei... se permanece ou se desfaz... se fica ou se passa... não sei, não sei...

só sei que um dia estaremos todos nós mudos. mais nada.

então, de que valem as muitas coisas que pedes? comendas, glórias, privilégios. de que adianta só na morte se estar vivo?

vale a pena sobreviver a mais um patético momento? porque a vida, a vida só é possível reinventada.

ou isto ou aquilo... concha vazia, coral quebrado, mar solitário...

não. pelos caminhos do mundo, entre o sonho dos homens e a força dos vermes, nenhum destino se perde...

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