29 setembro 2006

brava gente brasileira

na reta final da campanha, a candidatura de Lula recebe uma contribuição inesperada.

em coluna publicada pela Folha de São Paulo, em 28/09/2006, Otavio Frias Filho deixa entrever a face selvagem das Elites Brasileiras. goste-se ou não, sentencia triunfante, não existiria vida possível fora do liberalismo. prega um modelo sem meias medidas, no qual o mercado paira, onipotente e onipresente, acima de tudo e de todos. sem nenhuma misericórdia com temperos compensatórios bancados pelo contribuinte.

foi o bastante para provocar uma onda de choque e indignação, arrancando do armário eleitores de Lula, até então um tanto recatados em declarar o voto.

apesar dos sucessivos escândalos envolvendo o PT na compra de apoio político e dossiês sobre seus adversários, tudo indica ser o texto publicado pela Folha de São Paulo um caso espontâneo, sem qualquer contrapartida financeira.

de qualquer forma, é um belo exemplo de que, se o PT tornou-se a Esquerda que a Direita gosta, nossas Elites são a Direita que o PT precisa para legitimar-se com seu eleitorado.

o dono da Folha de São Paulo é um desses notáveis espécimes da classe dominante Brasileira. embora dono de jornal, tem imensa dificuldade em se entender com a linguagem escrita. é uma brava gente que desde o século XIX cultiva café, sem que até hoje sejam capazes de agregar valor à exportação do grão. também se dedicam a produzir celulose, porém continuam importando o papel no qual imprimem seus jornais.

por sua vez, não são poucos os que desejam Lula de novo, por temer o retorno da Direita. na verdade aquela que nunca se foi. apesar de considerá-la como “maldita”, o PT não só deu continuidade, como aprofundou a herança econômica de FHC. o próprio Lula se vangloria que banqueiros e grandes empresários jamais ganharam tanto dinheiro quanto em seu governo.

temos sido um país de transições controladas, em que a mudança se dá de modo a que nada se altere. assim tem sido ao longo de toda a história Brasileira. entretanto, é cada vez mais difícil manter eficaz esse arranjo.

a rigor, o segundo mandato de FHC chegou ao fim logo no primeiro mês de governo. caso seja eleito, Lula II terá tempo de tomar posse?

seja de um jeito ou de outro, nossa exasperante tradição de mudanças lentas, seguras e graduais se aproxima vertiginosamente do ponto de ruptura.

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