29 março 2018

Brasil em Transe: o fanatismo da paixão

29/03/2018

minha paixão por Lula é incondicional,
fanática, irrefletida.

“o fascismo foi a conseqüência de dois fracassos: o primeiro, dos revolucionários, que foram massacrados pelos sociais democratas e seus aliados liberais; o segundo, dos liberais e social-democratas incapazes de gerenciar efetivamente o capital.”

- não se pode derrotar o fascismo do mesmo modo que a ele se pavimentou o caminho de ascensão;

- não haverá nenhuma frente de Esquerda que não se erga de um implacável acerto de contas com os erros cometidos pelo Lulismo;

- não haverá nenhum futuro sem resgate do passado;

- não haverá resgate do passado sem auto-crítica, auto-conhecimento e auto-transformação;

- não haverá nenhuma reconstrução da Democracia no Brasil sem ser encaminhada por movimentos profundamente alicerçados na Democracia interna;

- não haverá nenhum movimento de transformação social sem haver concomitantemente um movimento de transformação individual;

- não haverá processo político que não que não seja também processo terapêutico. não haverá processo terapêutico que não seja também processo político;

- não haverá nenhuma paixão criadora sem ter sido superado o fanatismo irrefletido e incondicional.

o Brasil prosseguirá ainda por um bom tempo numa triste e dolorosa Sexta-Feira da Paixão. nenhuma Páscoa de ressurreição emancipadora à vista. apenas o girar em círculos dentro do labirinto do vale da sombra da morte.

para ressuscitar é preciso aceitar a própria morte.

romério rômulo
.

27 março 2018

Brasil em Transe: o sol mórbido do fascismo

27/03/2018

sob o peso do asfixiante sol mórbido de mais uma nova ditadura que desponta, enquanto os necrófilos saboreiam seu banquete putrefato, somente os antropofágicos atravessarão o vale dos mortos.

nada de novo sob o sol mórbido do fascismo. se há alguma única novidade em curso, seria apenas o completo acirramento das contradições, o desmascaramento sem qualquer pudor de um atávico reacionarismo, um projeto neo-colonial e semi-escravocrata sendo implementado sem mitigações. o restante não passa do adeus às ilusões provocado pela aterrissagem forçada no deserto do real. o Golpe de 2016 marca o fim do Brasil tal qual o pensávamos conhecer. não haverá retorno. ou o Estado de Exceção permanente, ou a Revolução Brasileira.

o Lulismo como o ovo da serpente. como era totalmente previsível, e foi insistentemente anunciado, os 13 anos de Lulismo só poderiam desembocar na maior de todas as crises de nossa História. nenhum "avanço", nenhum "legado". apenas manipulações estatísticas, miragens de marketing e uma completa desarticulação da capacidade da sociedade reagir ao Golpe de 2016. o qual não é também nenhuma novidade na sucessão de atentados à Democracia cometidos pela lumpenburguesia brasileira. a cada vez que a Esquerda fracassa, seus erros pavimentam o acesso ao poder do fascismo.

“o fascismo foi a conseqüência de dois fracassos: o primeiro, dos revolucionários, que foram massacrados pelos sociais democratas e seus aliados liberais; o segundo, dos liberais e social-democratas incapazes de gerenciar efetivamente o capital.” link

qual o significado política das recentes votações do STF (7x4 e 6x5) a favor de Lula? mesmo se enfim o Lulismo conseguiu costurar uma última quimera de pacto, não existe nenhuma chance de superar a crise sem a adoção das "medidas populares". ou seja: fazer o grande capital pagar o pato de uma crise desencadeada por ele e para benefício dele. o Lulismo fará isto? ou mais uma vez tentará restaurar sua conciliação permanente a serviço de uma hegemonias às avessas?

não há atalhos para a Democracia. em 13 anos o Lulismo indicou 13 Ministros para o STF. dos 11 Ministros, 7 ainda são indicações do Lulismo. portanto, a configuração majoritária do atual STF é obra do Lulismo. até hoje o STF não colocou em julgamento o pedido de nulidade do impeachment, tampouco foi pressionado a fazê-lo. jamais Lulinha Paz e Amor defendeu pública e determinadamente a nulidade de um impeachment inconstitucional.

jamais haverá reconstrução da Democracia no Brasil sem ter como alicerces:

- a nulidade do impeachment;
- a revogação de todos os atos e contratos do governo golpista;
- a punição de todos os responsáveis pelo golpe.

Lula está sendo traído? não! não está! absolutamente nada do que tem sido especulado como traição a Lula por parte de setores do PT, ou alguns parlamentares, ocorre sem ter em si o dedo do próprio Lula. se Lula alguma vez foi traído, foi por ele mesmo. Lula era um típico dirigente da burocracia sindical gerada pelo pacto populista firmado por Getúlio. mas a partir de 1978, com as greves dos metalúrgicos do ABCD, uma multidão de anônimos metalúrgicos o transformou na maior de todas as lideranças dos trabalhadores brasileiros. Lula foi gerado por circunstâncias históricas das quais ele jamais teve o controle, e a cada vez que tentou manipulá-las foi no sentido de traí-las.

a traição como método, o golpe como resultado. onde o Lulismo coloca seu dedo, a traição acontece. sendo disto como exemplo recente a implosão do PSOL, com uma candidatura Boulos ungida por Lula, nascida à fórceps e já com o teste de DNA Lulista positivo: não aceitou se submeter às prévias partidárias. ou seja: zero de democracia interna. um partido, ou um movimento, que não tem democracia interna jamais poderá ser um vetor de luta pela Democracia na sociedade.

o Brasil precisa superar o Lulismo. Lula não tem nem o vigor físico, nem o perfil psicológico, nem a postura política e muito menos a estatura ética para liderar a guerra pela libertação do Brasil. o Lulismo ainda acalenta ilusões quanto a viabilidade de alguma pax, de mais um conchavo, da reedição de seus falidos acordos. este tempo acabou e não vai mais voltar. o Golpe de 2016 não será superado pela via do Lulismo. e menos ainda por sua completa degeneração pela cúpula, através do poste sem alça e bonitão predileto: Fernando Haddad.

São Paulo Ltda. a capital política do Fascismo à la Brasil sempre foi São Paulo, o berço da “Raça Planaltina”, herdeira do empreendedorismo colonial dos Bandeirantes, sempre à caça do Eldorado da matança dos miseráveis e do holocausto do contraditório. apesar dos delírios megalômanos da Paulicéia Desvairada, São Paulo tem sido a pesada âncora afundando o Brasil no lamaçal do atraso e da dependência. com seu servilismo diretamente proporcional a seu elitismo, com seu ódio de classe e seu complexo de vira-latas, com seu  parasitismo rentista sempre sugando voraz o orçamento público.

nenhuma luz no abismo. com demasiado fundo dentro do abismo no qual ainda não paramos de cair, podemos estar certos: desta vez ou o Brasil e sua população ou são capazes de lutar por sua sobrevivência, ou estamos condenados à extinção. por que lutamos? lutamos para nos sentir vivos! re-existimos para sobre-viver!
.

22 março 2018

Os Guardiões das Águas: Povos da Água agradecem às mulheres do MST

22/03/2018


CARTA ABERTA ÀS MULHERES DO MST

Nós, os povos das águas da Mantiqueira, agradecemos às 600 mulheres militantes do MST pelo apoio à nossa causa e que, por isso, vieram à Nestlé em São Lourenço/MG, reiterar o que há alguns anos estamos dizendo: água é direito humano, bem comum!

O direito ao protesto pacífico é assegurado pelas nossas Leis, inclusive pela Constituição Federal. O Estado, por meio das forças policiais, não pode impedir a livre manifestação, nem o direito de ir e vir dos manifestantes. Por isso, solidarizamo-nos com as corajosas mulheres que vieram se manifestar a favor de nossa causa e repudiamos os atos da Polícia Militar, que tentou cercear esse direito constitucionalmente garantido!

Compreendemos que o dano ao patrimônio privado é crime e a empresa deve, se quiser, buscar a devida recuperação através da Justiça. Se comprovada a culpa, os que picharam a fábrica ou destruíram algum equipamento devem indenizar a empresa na exata proporção do dano causado e responder perante a Justiça por outros crimes que possam ter praticado.

Contudo, ainda mais, compreendemos que os danos causados pela Nestlé ao patrimônio natural dos brasileiros, como a contaminação e esgotamento das fontes de água mineral, devem ser severamente punidos e a empresa responsabilizada, na exata proporção dos danos causados. A Nestlé já é ré em vários processos e reafirmamos a necessidade de que ela continue sendo investigada por outros crimes.

A diferença entre essas duas situações está no enorme contingente de policiais postos antecipadamente a serviço da proteção do patrimônio da empresa privada e a inércia das autoridades em apurar os crimes praticados por aquela empresa. Crimes esses fartamente denunciados e documentados. A diferença está também no grande número de pessoas "de bem" que se levantam ferozmente para proteger os direitos (legítimos) da poderosa empresa multinacional, mas se calam e fingem não ver os gravíssimos crimes que essa mesma empresa pratica, há anos, contra o nosso país e, em particular, contra os Povos das Águas da Mantiqueira. É esse comportamento de subserviência ao capital estrangeiro e desprezo pelo nosso patrimônio natural que se chama 'subdesenvolvimento'.

Hoje, no dia 22/03, a Nestlé iria realizar uma cerimônia de entrega das medalhas do projeto que eles nomearam "Guardiões das Águas 2018", em clara usurpação do movimento que cada vez mais cresce, os legítimos Guardiões das Águas das Estâncias Hidrominerais de Cambuquira/MG, Caxambu/MG, Lambari/MG, São Lourenço/MG, dentre outras, consistente na união dos povos das águas da Mantiqueira em defesa de seus recursos hídricos. Não bastante sugar e roubar as nossas águas, tentaram, de forma ilegítima, usurpar o nome que é, em última análise, a identidade do nosso movimento, que cada vez mais se fortalece! Contudo, graças a ação das mulheres do MST, o evento foi cancelado!

Os verdadeiros Guardiões das Águas suspiram e agradecem!

PORQUE MULHERES E ÁGUA NÃO SÃO MERCADORIAS!


Guardiões das Águas, 22/03/2018 - Dia Mundial da Água

Em carta de apoio às mulheres do MST, que ocuparam a empresa para denunciar os perigos da privatização, ambientalistas mineiros lembram que a empresa é ré em processos e defendem novas investigações

vídeo: Os Guardiões das Águas: Beatriz Cerqueira


vídeo: Os Guardiões das Águas: Situação Jurídica - 03/2108


vídeo: Participação na Audiência Pública - Câmara Municipal de Caxambu (MG)


.

20 março 2018

Brasil em Transe: sob o signo da ressurreição

20/03/2018

foto: Ricardo Borges/Folhapress

Marielle tornou-se um símbolo. mas exatamente do quê?

mulher, negra, favelada, LGBT, ativista pelos Direitos Humanos e da causa das minorias. sim, sem dúvida!

mas devemos ir além. sempre é preciso ir além. ultrapassar falsas fronteiras erguidas apenas para bloquear nossa compreensão e, portanto, neutralizar nossa capacidade de ação.

além de tudo o mais, Marielle é fundamentalmente um símbolo do genocídio da população de oprimidos e de sua luta por emancipação e autonomia.

com seu brilho, seu carisma, com sua energia e seus sorrisos transbordantes, por sua capacidade de re-existência, mesmo após ser executada, Marielle é um símbolo daquilo que nunca fomos, mas sempre aspiramos vir a ser: um outro Brasil, justo e fraterno.

"Como descendentes de escravos e de senhores de escravos, todos nós, brasileiros, somos carne da carne daqueles pretos e índios supliciados. Esta é a mais terrível de nossas heranças. Mas nossa crescente indignação contra esta herança maldita nos dará forças para conter os possessos e criar aqui, neste país, uma sociedade solidária."
"O Povo Brasileiro", Darci Ribeiro

por que mataram? mas por que nos matam?!

porque não importa a cor de nossa pele, somos todos nós brasileiros neguinhos bastardos, sem qualquer outro sobrenome paterno, a não ser os hipócritas "dos Santos" e "de Jesus".

fomos nascidos do estupro seguidamente praticado por uma lumpenburguesia neo-colonial e semi-escravocrata contra todos nossos ancestrais. de uma curra de séculos contra o Brasil, sua terra e sua população.

esta Terra de Santa Cruz desde sua invasão-descobrimento tem sido excomungada de suas riquezas. Pau-Brasil, açúcar, ouro e diamantes, algodão, café, minério de ferro, soja, nióbio, pré-sal. água, terras férteis e biodiversidade.

a cada uma dessas execuções, um novo ciclo do Capital é financiado. a cada uma desses genocídios, muitos de nós são assassinados. já não temos mais nenhum nome próprio, senão História do Brasil...

mas não basta tão somente matar, é preciso também destruir a reputação, forjar versões, espalhar calúnias, inventar mentiras, sequestrar a imagem, apagar os registros históricos. silenciar por completo os vencidos, para que nunca tenham sequer existido.

assim se reduz uma sucessão de revoltas a uma "história sem sangue",  heróicas insurgências a uma passividade de "um povo que não se mexe". vidas entregues à rebelde insubmissão são convertidas no "jeitinho brasileiro". cada mártir da luta contra a opressão se transfigura num "herói sem caráter".

quantas vezes e de quantas formas precisamos morrer até assumirmos nossa própria História e nossa própria narrativa?

quem matou? mas quem nos mata?!

por que nos negamos a encarar a óbvia realidade?

nenhuma pax nos salvará. estamos no epicentro de uma Guerra Mundial Híbrida. queiramos ou não, aceitemos ou não, já estamos de qualquer jeito num guerra de extermínio. só nos cabe lutar por nossa sobrevivência.

por que insistimos em nos negar o nome de nossos assassinos? se todos estamos mortos de saber quem são...

são os bancos! é o narcotráfico, que sem o sistema financeiro jamais poderia legalizar seus lucros!

é o governo usurpador! são os mesmos desde sempre, aqueles que jamais honraram com seus sobrenomes sua descendência negra!

é a "solução final" para erradicar a todos os goys! é uma sociedade de castas, na qual alguns são os "eleitos" enquanto os demais se tornaram obsoletos e descartáveis!

é o espectro da dominação total, de uma Nova Ordem Mundial que através da estratégia da Guerra sem Fim já não pode mais dissimular sua palavra de ordem: viva la muerte!

quem morreu? mas quem morreu?!

olhai para aqueles caixões. estão fechados. mas não é preciso se abrirem as tampas. dentro deles estão nossas ilusões.

chegou a hora de dizer adeus não apenas a elas, mas a nós mesmos.

a morte de Marielle a isto simboliza: nossa ressurreição.
.

19 março 2018

Brasil em Transe: o despertar dos mágicos

19/03/2018


via WhatsApp:

Estamos vivendo um caos, tempos absurdos. desde Junho de 2013 o sistema político está em decomposição, em ruínas. O que diriam cinco ou seis anos atrás de uma eleição com Bolsonaro e Luciano Huck? Apenas uma piada de mau-gosto...

Eu sinto dentro do meu peito assim uma coisa muito forte. Ela foi executada de uma forma escancarada. Aí fica esta urgência: temos que fazer alguma coisa.

Ao mesmo tempo em que bate uma necessidade de ir prá ruas, parece que tudo tem um quê de farsa. Apesar do apelo de estar envolvidx politicamente com a época em que estou existindo, são tantas narrações que não é possível identificar no que acreditar e o que devo fazer.

Porque cada acontecimento está atrelado em questões históricas e políticas que são muito mais complexas do que as aulas de História que eu tive. São questões de uma consciência política que eu não tenho. Mas que estou tentando ter agora. E aí, é muito difícil eu entender o que eu faço agora.

Coloquem-se um pouquinho no meu lugar: O que é ser jovem num tempo em que o mundo está caindo aos pedaços exigindo uma recriação com urgência.

Como eu passo por isto? O que eu faço com isto? Com este monte de coisa que está vindo prá mim?

Mas quando eu fui hoje na manifestação, foi muito bonito. Meu corpo se arrepiou inteiro, meus olhos de encheram de lágrimas. Com a força que estava ali. Muitas mulheres chorando. Aquilo ali me afeta. E não posso ficar alheix a tudo isto. Como eu vou ser alheix à época que estou existindo?

O mundo me exige uma posição que eu não sei ainda como responder.

Como se o mundo me falasse: "Diz aí!" E eu fico tipo: "Dizer o quê? Sobre o quê? O que a gente está falando? Que conversa é esta?" Sabem... É assim que me sinto.

E eu preciso conversar. Mas muitas pessoas mais velhas são alheias ou ingênuas. E outras mais experientes politicamente têm opiniões formadas demais. E estou precisando de alguém que esteja disposto não a me vender uma opinião, e sim contribuir para eu construir minha própria opinião.

Vocês tem alguma coisa prá me falar. Eu queria conversar isto com vocês.

áudio de jovem participante da manifestação em solidariedade a Marielle
Rio de Janeiro - 15/03/2018
.

16 março 2018

Brasil em Transe: execução de sentença

16/03/2018


calor infernal no Rio de Janeiro. um calor muito estranho, parece sair do interior das paredes, dos objetos, do solo, das pessoas. como se estivéssemos confinados dentro de um forno de micro-ondas, cozinhando lentamente a todos nós e a tudo ao redor.

mergulhamos outra vez nos porões de chumbo de uma ditadura que nunca acabou: "tortura, assassinato, não acabou 64!".

choque e pavor. a lei do abate em ação. nunca houve nenhuma Comissão da Verdade. Fleury, Ustra e a Operação Condor se auto-anistiaram e ainda habitam entre nós.

jovens consternados se abraçam aos prantos. suas lágrimas copiosas se misturam ao suor espesso. agora sabem como é uma ditadura: matam na cara-dura, na frente de todo mundo, e ainda passam recibo assinado.

como sempre fizeram com o povo pobre, com os negros e índios, com as favelas e as periferias: "arregaçaram a cabeça da neguinha".

todos nós, brasileiros, somos carne da carne daqueles pretos e índios supliciados. esta é a mais terrível de nossas heranças.

em manifestações deste tipo é preciso estar junto com as pessoas, embrenhar-se no aglomerado, tomar parte da multidão para sentir na pele o clima atravessando o ar e impregnando os corpos.

durante a caminhada após o velório na Cinelândia em direção ao ato na ALERJ, seguindo depois até a Candelária, tomando toda a extensão da Av. Rio Branco até desaguar em frente a Câmara Municipal, outra vez na Cinelândia, muitas pessoas associaram aquela gigantesca manifestação aos atos de Junho de 2013.

mais uma vez a convocação foi feita não por partidos e organizações, e sim pela própria vida, unindo corações e mentes na certeza de atender ao compromisso irrecusável com um momento histórico.

uma professora que leciona no Complexo da Maré, de onde Marielle pertence, passa a informação da favela ter sido praticamente cercada, com dois helicópteros sobrevoando durante o dia.

curiosamente não havia policiamento na manifestação, em momento algum. como não havia polícia, não aconteceu qualquer tumulto. quem ordenou que a PM se abstivesse de suas habituais truculências? por acaso assassinos psicopatas respeitam luto?

"que coincidência! não tem polícia, não tem violência!"

enquanto recuaram a polícia no Centro, fizeram a contenção na favela para impedir a adesão dos moradores: "sem hipocrisia, essa polícia mata pobre todo dia!"

se a execução política é consensual, ninguém ainda sabia expor com exatidão os motivos e os mandantes, apesar das diversas linhas de raciocínio.

concordam que foi trabalho de profissionais, não de PM e milicianos. mas teria sido? o que exibem as imagens dos vídeos das câmeras de segurança?

Marielle não era considerada um alvo. não fez denúncias específicas ou sobre nenhum assunto inédito. sua atuação na fiscalização da intervenção ainda era inicial.

afinal, a quem serve? quais os usos políticos do fato? quais narrativas irão de consolidar?

como reagirão os generais da intervenção militar no Rio de Janeiro? afinal, o generalato nem sequer ainda assumiu tratar-se de uma operação militar, muito embora dela estejam no comando.

algum dia as FFAA serão capazes de fazer sua própria Comissão da Verdade e reconhecerem que sempre foram a milícia privada do grande capital? o braço armado da lumpenburguesia. uma força de ocupação a serviço dos mega interesses globalizados.

as vozes ecoam num coro: "não acabou, tem que acabar! eu quero o fim da polícia militar". seria um gancho para a intervenção se legitimar, ao operar um pontual expurgo na polícia para mostrar serviço e angariar apoio popular?

após as ocupações militares anteriores, nas favelas a população aprendeu com a opressão cotidiana não haver diferença entre as fardas da PM ou das FFAA, pois ambas estão ali não para proteger o cidadão, e sim para matá-lo.

quem tem experiência de viver em periferia sabe muito bem que a visão de uma carro da polícia inspira terror e ameaça de vida: "carne negra à venda. vendo barato. disque 190"

para os moradores das favelas, a intervenção militar vem de antes, desde os megaeventos, mesmo desde ainda mais distante no tempo. a ditadura sempre perdurou, o entulho autoritário ficou por toda a parte. tortura nunca mais?

a execução de Marielle, junto com o trabalhador motorista Anderson como o sempre inevitável "dano colateral", aponta para similaridades com Edson Luís em 1968, Manoel Fiel Filho em 1976 e o Atentado do Riocentro, em 1981.

1968 já chegou novamente para nós, já temos um novo Edson Luís. enquanto avança o estado de exceção permanente, persiste a negação em se dar adeus às ilusões. nenhum processo eleitoral pode recompor a fissura institucional causada por um golpe de estado.

em 1976, Manoel Fiel Filho foi assassinado no DOI-CODI em SP. consta que por causa deste crime Geisel enquadrou a indústria da tortura e do extermínio, mais tarde chegando a exonerar o comandante do II Exército, para consolidar sua ascendência sobre as FFAA.

como Geisel usou o fato político a seu favor, a quem agora interessa capitalizar a morte de Marielle? aos interventores?

afinal o que aconteceu no Riocentro em 1981? a bomba explodiu acidentalmente, ou foi detonada pela contra-inteligência?

existe de fato uma divisão nas FFAA? de um lado os aliados do general sionista, verdadeiro comandante em chefe do governo usurpador, e de outro os supostos "legalistas" liderados pelo atual Comandante do Exército?

há mesmo uma fissura na base da PM carioca, fartos de serem não apenas a polícia que mais mata mas também a que mais morre?

é verdade que a intervenção está no momento mais preocupada em operar para conter os grupos autonomamente atuando dentro da polícia?

a execução de Marielle será a fagulha a por pelos ares o barril de pólvora do Rio de Janeiro?

são inúmeras as perguntas. mas podemos também ter algumas certezas.

TODOS NÓS JÁ ESTAMOS MORTOS. isto tudo já aconteceu. déjà-vu.

nossa luta não é para alterar o futuro, e sim para mudar o presente.

just about live.

apenas sobre viver.

.

10 março 2018

Brasil em Transe: o avanço do alzheimer político

10/03/2018


"Dissemos que o golpe não passaria e passou. Dissemos que a condenação de Lula não ocorreria e ocorreu. Dissemos que o TRF da 4ª Região não ousaria confrontar as massas coonestando a condenação partidária de Moro e ousou. Pensávamos que o STJ daria um freio de arrumação e não deu."

agora dizem que Lula não será preso. e se for preso, consistirá apenas num show midiático e será libertado após pouco tempo.

continuam apostando tudo nas Eleições de 2018, mas se elas acontecerem será como farsa.

não é sem motivo que o Alzheimer tornou-se uma patologia epidêmica em nossa época. a verdade não quer mais ficar oculta, por isto cobra seu preço com o passar dos anos. progressivamente o que era comportamento disfuncional se cristaliza numa doença.

enquanto o Lulismo persiste em acertar o prognóstico daquilo que não tem qualquer probabilidade de ocorrer, aqui postamos desde 17/05/2015:

confesso: não tenho esperança. os cegos falam de uma saída. vejo. após os erros terem sido usados como última companhia, à nossa frente senta-se o Nada.

ou em 18/05/2015:

“Alzheimer” tornou-se uma das grandes patologias contemporâneas. progressivamente a pessoa se desconecta da realidade e de si mesma, passando a habitar um mundo de esquecimento e solidão.  o debate político está em estágio avançado de Alzheimer, inteiramente desconectado da realidade, girando no vazio de si mesmo.

ainda em 19/05/2015:

ainda dá tempo de superar o Alzheimer político, só que nem o Governo, nem o PT e nem os que se auto-iludiram com o Lulismo irão fazer isto. vai ser preciso ainda descermos mais fundo no poço.
arquivemos este comentário: 19/05/2015. faço votos que desta vez eu me surpreenda e esteja equivocado.

mais em 11/06/2005:

pesquisas e terapias recentes indicam ser possível superar a desconexão e a dissociação do Alzheimer: através da música! é pela arte que não apenas nós mesmos mas toda a sociedade consegue se curar e se auto-transformar.

um projeto de Brasil jamais virá de gestores tecnocratas. é preciso ter paixão pela nação e pelo povo. é preciso reacender em cada um de nós as chamas da juventude, agora temperadas pelas lições da experiência. nossa maior criação artística há de ser este povo e esta nação que estamos destinados a construir.


afinal, o que mais Dilma precisa para agir como a Presidente da República de um país sob um golpe de Estado? o que todos deveríamos saber que ainda não foi revelado?

outra vez em 04/05/2016:

com o Brasil em transe, os surtos delirantes se propagam. tudo agora são performances. tudo é excessivamente simbólico. o choque de realidade gerado pela farsa dantesca encenada pela insurreição dos hipócritas no teatro de horrores da Câmara, na votação do impeachment, tornou tudo surreal.

o espelho quebrou. a identificação acabou. a representação morreu. a identidade se perdeu.

enquanto o velho país se recusa a morrer, o novo Brasil luta decididamente para nascer. o dragão agoniza. a fênix alça vôo. não há retorno.

há um pólo fascista e paranóico: Bolsonaro, Janaína Paschoal, medalhas para torturadores. há um pólo libertário e transformador: ALESP ocupada por secundaristas, uma descentralizada e autônoma profusão de atos e manifestações contra o golpe, a emergência de um novo tipo de militância já não mais separado de um novo tipo de vida.

entre os dois pólos o território das neuroses, onde vagam seus variados distúrbios. com a hiper conexão que torna tudo obscenamente escancarado, o Alzheimer político entra em colapso. os afetados pela Síndrome do Crepúsculo anseiam voltar para uma casa que já não existe. Édipo já não pode esconder seu desejo mais secreto: arrastar-se de volta para o protetor e aconchegante útero materno. mas como retornar de uma viagem definitiva? é preciso vir à luz. todos buscam uma saída, mas só é possível distinguir portais de entrada.

não há mais saídas. não vamos sair desta crise. nem no plano social, nem no âmbito pessoal.

ou afundamos através do portal que conduz ao Estado de exceção, materializando alguma forma de neo fascismo. ou radicalizamos o compromisso com a Democracia, refundando uma República autenticamente baseada na participação popular. e este é o único portal que pode nos conduzir a algum futuro.

chegou a hora de rejuvenescer.
.

Brasil em Transe: candidatura bipolar

10/03/2018

Boulos começa com o "pé direito" sua carreira política: caindo de paraquedas no PSOL, ungido por Lula e através de um Colégio Eleitoral, sem ser amplamente referendado pelas bases através de um processo de prévias.


tem tudo certo para dar errado.

o vídeo de 03/03/2018 com mensagem de Lula saudando a pré candidatura Boulos, já surge como um importante documento da História de um Brasil perdido, sem a menor noção de como retomar seu rumo e incapaz de aprender com seus próprios erros.

para contextualizar adequadamente, suponha-se FHC gravando mensagem de apoio a uma candidatura alternativa à Lula pelo PT. Haddad, por exemplo.

teria sido altamente elogiável, caso Lula tivesse tomado a mesma prudência que sempre adotou em seu trato com a lumpenburguesia brasileira. aguardando eticamente a oficialização de Boulos como candidato pelo PSOL.

em 06/01/2018, aqui postei: agora é a vez de Boulos fazer sua opção na fatídica encruzilhada de um interregno: ser ou não ser. ou melhor: qual vir a ser?

parece que tanto Boulos quanto o PSOL já tomaram sua decisão: entre ser e não, oPTaram por não vir a ser. permanecerão paralisados na encruzilhada de uma candidatura bipolar.

Boulos é a maior liderança popular surgida no Brasil, depois de Lula em 1978. entretanto, ao ocupar o PSOL como teto para sua ambição parlamentar, Boulos lança já em ruínas uma candidatura que poderia vir a ser um importante fator de superação de um sistema político falido.

por sua vez, Marcelo Freixo, um dos principais operadores de Boulos dentro do PSOL, sai com o alicerce de sua credibilidade política profundamente trincado.

Freixo anteriormente fizera o diagnóstico correto da crise da Democracia brasileira ser a crise da Esquerda brasileira: uma crise de identidade.

agora reproduzem exatamente os mesmos vícios que conduziram a esta crise de identidade: o caciquismo das cúpulas burocratizadas, a falta de transparência no debate, a negação da democracia interna, a alienação das bases partidárias do processo decisório.

tudo isto por conta de eleições que sequer ainda sabemos ao certo se ocorrerão, mas temos absoluta certeza que caso ocorram serão um farsa.

todo o fato é revelador do esgotamento da forma-partido como instrumento de organização e de luta. estamos no grau zero. tudo terá que ser reinventado num processo de reconstrução.

entre os inúmeros motivos para se admirar e apoiar Guilherme Boulos, entre eles não estará sua candidatura à Presidência em 2018.

sua insubstituível contribuição para a reconstrução da Democracia seria continuar inteiramente focado nos movimentos sociais de base.
.

07 março 2018

Brasil em Transe: a alucinação dos amputados

07/03/2018


recentemente Wanderley Guilherme dos Santos, e também Leonardo Boff, conclamaram a uma intervenção militar, como única saída para o atual caos e impasse no Brasil.

Moniz Bandeira já fizera o mesmo, mas recuperou o senso crítico antes de morrer, admitindo ter o Brasil como única alternativa um movimento de massas, com as massas e para as massas.

embora o Golpe de 2016 tenha provocado uma aterrissagem forçada no deserto do real, intelectuais Lulistas prosseguem com seus delírios, como amputados alucinando desesperadamente membros fantasmas.

não é necessário convocar os militares, desde o início é um setor das FFAA no comando do governo usurpador. um outro setor acaba de ocupar o Rio de Janeiro, a partir de onde firmarão a base para o assalto à Brasília, a começar pelo Ministério da Defesa.

se 1968 demorou 21 anos para acabar, 2018 será para sempre um ano longe demais, como aqui escrevo desde 2015. já estamos em março, e o ano não consegue começar.

enquanto isto, o Lulismo continua sonhando com a Eleições de 2018, com diversos corvos e urubus pactuando entre si a herança de Lula.

após ter destruído o PT, o Lulismo agora vai implodir o PSOL e arruinar a carreira política de Boulos. mas a definitiva ironia é o Lulismo estar sepultando Lula em vida.

ao invés de convocar o poder militar e ficar dando palpites eleitorais, faria muito melhor Wanderley Guilherme dos Santos se cumprisse seu papel insubstituível de intelectual, como a implacável consciência crítica do processo político.


.

Brasil em Transe: em algum lugar do passado

07/03/2018


o mulato de alma branca FHC começou sua vida "fazendo pesquisa sobre negro", e agora, frente ao "cenário cada vez mais tenebroso que nubla o nosso país", termina por reconhecer: a Democracia liberal representativa se perdeu em algum lugar do passado.

" Se eu pudesse reviver a história eu tentaria me aproximar não só do Lula, mas de forças políticas que eu achasse progressistas em geral. Que ajudasse a governar. E acho que o PT deveria ter feito a mesma coisa."

talvez FHC já saiba aquilo que todos deveríamos também estar sabendo. os militares estão prestes a assumir por completo o governo.

em 1964, Brother Sam bancou a conta, assim como até hoje paga as despesas do enclave territorial sionista no Oriente Médio.

assim que Jango foi deposto o boicote foi suspenso, a inflação cedeu, o crescimento retornou e o bolo cresceu, muito embora jamais tenha sido dividido.

quando se dissipou o céu de brigadeiro, e no mar revolto da crise do petróleo os almirantes não mais podiam navegar, Brother Sam cobrou a conta. os generais não souberam mais o que fazer. do Brasil Grande restou a hiperinflação...

novamente sem poder contar com Brother Sam para bancar seu wargame no comando em chefe do Brasil, como os militares pretendem derrotar o atual impasse?

há apenas uma única estratégia: através, finalmente, das "medidas populares".

fazer com que o Golpe de 2016, dado justamente para aplicar as "medidas impopulares" jamais referendadas nas urnas, redunde no grande capital pagando a conta da crise por ele deflagrada.
.