30 setembro 2006

bando selvagem

num momento caótico, um país dividido é a nossa herança. entretanto, talvez o tempo das armas esteja acabando. e a época dos homens violentos ficando para trás.

como deixar de sermos um bando selvagem, agindo em interesse próprio, para nos tornarmos uma nação?

nenhum processo de amadurecimento se dá sem ruptura e dor. principalmente para as nações.

se não há qualquer futuro possível no ódio e na desilusão, não nos livraremos do passado sem manter princípios claros e inabaláveis. até mesmo os bandidos têm seu código de ética.

sem ação cooperativa e inclusão social não existe competitividade sistêmica, sendo impossível desenvolvimento sustentável. nem os bandos sobrevivem caso não trabalhem em equipe.

na maioria dos países modernos, a idéia da nação foi projeto dos quadros dirigentes e não uma iniciativa das massas. as elites brasileiras, todavia, pouco se identificaram com a nação. aceitaram um papel subalterno de sócias minoritárias, num país constituído como uma empresa sob controle estrangeiro para atender demandas externas.


no Brasil, foram pessoas do povo que abraçaram uma certa idéia de nação. nossa construção nacional, ainda inacabada, sempre foi obra de um bando de Brasileiros selvagemente apaixonados pelo país. por isto, nossa identidade nacional não resulta de raízes gloriosas, tampouco de ambições imperiais. nossa cultura de síntese não se baseia em raça ou em religião. não somos xenófobos, nem guardamos ressentimentos em relação ao colonizador.

só que em nossa história o controle do país tem sido exercido de modo selvagem por bandos sucedendo bandos. sem que, até hoje, o povo tenha conseguido assumir o comando da nação.

após Collor e FHC, Lula é o fim de um ciclo. a definitiva falência não apenas de um modelo sócio-econômico, como de uma estrutura política, que se demonstraram incapazes de desenvolver o Brasil e proporcionar qualidade de vida aos seus habitantes.

apanhados numa encruzilhada do destino, precisamos virar uma página da História: o Brasil de poucos terá de ser o Brasil de todos.

29 setembro 2006

brava gente brasileira

na reta final da campanha, a candidatura de Lula recebe uma contribuição inesperada.

em coluna publicada pela Folha de São Paulo, em 28/09/2006, Otavio Frias Filho deixa entrever a face selvagem das Elites Brasileiras. goste-se ou não, sentencia triunfante, não existiria vida possível fora do liberalismo. prega um modelo sem meias medidas, no qual o mercado paira, onipotente e onipresente, acima de tudo e de todos. sem nenhuma misericórdia com temperos compensatórios bancados pelo contribuinte.

foi o bastante para provocar uma onda de choque e indignação, arrancando do armário eleitores de Lula, até então um tanto recatados em declarar o voto.

apesar dos sucessivos escândalos envolvendo o PT na compra de apoio político e dossiês sobre seus adversários, tudo indica ser o texto publicado pela Folha de São Paulo um caso espontâneo, sem qualquer contrapartida financeira.

de qualquer forma, é um belo exemplo de que, se o PT tornou-se a Esquerda que a Direita gosta, nossas Elites são a Direita que o PT precisa para legitimar-se com seu eleitorado.

o dono da Folha de São Paulo é um desses notáveis espécimes da classe dominante Brasileira. embora dono de jornal, tem imensa dificuldade em se entender com a linguagem escrita. é uma brava gente que desde o século XIX cultiva café, sem que até hoje sejam capazes de agregar valor à exportação do grão. também se dedicam a produzir celulose, porém continuam importando o papel no qual imprimem seus jornais.

por sua vez, não são poucos os que desejam Lula de novo, por temer o retorno da Direita. na verdade aquela que nunca se foi. apesar de considerá-la como “maldita”, o PT não só deu continuidade, como aprofundou a herança econômica de FHC. o próprio Lula se vangloria que banqueiros e grandes empresários jamais ganharam tanto dinheiro quanto em seu governo.

temos sido um país de transições controladas, em que a mudança se dá de modo a que nada se altere. assim tem sido ao longo de toda a história Brasileira. entretanto, é cada vez mais difícil manter eficaz esse arranjo.

a rigor, o segundo mandato de FHC chegou ao fim logo no primeiro mês de governo. caso seja eleito, Lula II terá tempo de tomar posse?

seja de um jeito ou de outro, nossa exasperante tradição de mudanças lentas, seguras e graduais se aproxima vertiginosamente do ponto de ruptura.

27 setembro 2006

patético momento

ele não tinha esse rosto de hoje. ainda não perdera sua face na confusão das imagens nos espelhos.

não choraremos o que houve. choraremos esse mistério. a indizível conjunção que ordena vidas e mundos em pólos inexoráveis de ruína e de exaltação.

foi no ano de 1989 que, pelos caminhos do mundo, nosso destino se perdeu. nosso grande sonho de homens esmagado pela força surda dos vermes.

mas algum destino se perde?

o que esperavas? envelhecer calmamente, orgulhoso e impenitente...

eis que agora, a força, o jogo, o acidente, esse esquema sobre-humano, novamente te trazem para aquela mesma encruzilhada, quando foste pusilânime e, como veia de sangue impuro, queimaste a pura primavera.

noite confusa. data sinistra.

que sombrias intrigas houve em tua formação? que negócio fizeste? nenhum remorso te acomete?

mas eis que agora a figueira em teu destino se intromete. voltaste para aquele instante.

se outra vez desmorona, ou se edifica, não sei... se permanece ou se desfaz... se fica ou se passa... não sei, não sei...

só sei que um dia estaremos todos nós mudos. mais nada.

então, de que valem as muitas coisas que pedes? comendas, glórias, privilégios. de que adianta só na morte se estar vivo?

vale a pena sobreviver a mais um patético momento? porque a vida, a vida só é possível reinventada.

ou isto ou aquilo... concha vazia, coral quebrado, mar solitário...

não. pelos caminhos do mundo, entre o sonho dos homens e a força dos vermes, nenhum destino se perde...

24 setembro 2006

cada povo tem a elite culpada que merece

a Esquerda não se cansa de repetir que toda a culpa é das Elites.

há uma boa dose de razão nesta acusação. afinal, as classes dominantes Brasileiras demonstram ter como inspiração os piratas que vinham ao nosso litoral com o intuito exclusivo de saquear o Pau-Brasil. desde então o espírito empreendedor continua o mesmo: conseguir se apossar do máximo no menor tempo possível.

não se trata apenas de extrativismo selvagem. é bem mais um caso de insuperável falta de visão estratégica. não há sequer a preocupação em preservar o ambiente de negócios.

a pilhagem do Pau-Brasil nunca deixou de ser um fim se esgotando em si próprio, sem jamais se cogitar os rumos do negócio após a derrubada da última árvore.

do mesmo modo, os setores contemporâneos, cuja fortuna resulta das altas taxas de juros que asfixiam a economia nacional, não consideram ser problema deles se, por causa de um modelo econômico que só a eles interessa, o país como um todo entre em colapso.

apesar de ser evidente a parcela de culpa das Elites em nossa História, não é tão fácil admitir que elas têm, no decorrer de todo o processo, um cúmplice inseparável: o Povo.

as análises da Esquerda sempre infantilizaram o Povo, cujas opções equivocadas seriam fruto da imaturidade política e do baixo nível de consciência. contudo, o Povo e as Elites são resultados do mesmo processo histórico e se igualam em seu imediatismo e no desprezo pela questão nacional.

em termos econômicos, nunca fomos uma nação voltada para seus próprios anseios. ao contrário, nos constituímos como uma empresa sob controle estrangeiro para atender demandas externas. enquanto as Elites no fundo se envergonham de terem nascido no Brasil, para o Povo a nação só existe quando a Seleção Brasileira calça as chuteiras.

nossa sociedade ainda não superou o estágio da “Casa Grande e Senzala”. o Povo ao invés de exigir seus direitos, suplica por benefícios. as Elites ainda se comportam, desde a época da Abolição da Escravidão, como se lhe fosse devido o benefício da indenização para que o Povo tenha direito à liberdade.


politicamente, o paradigma Brasileiro continua sendo o das “Capitanias Hereditárias”, no qual as Elites não cometem crimes, porque, em último caso, ordenam que se revise o código penal. além de donas do poder, encarnam em si a lei. o Povo vê a justiça não como algo que se luta para conquistar e manter, tratando-se muito mais de uma caridade a ser recebida, nem que seja pelo maroto expediente da malandragem.

invertidas as posições sociais entre Povo e Elites, nada se alteraria no Brasil, a não ser, talvez, para pior.

trazendo para o exemplo da atual eleição, apesar de até Lula admitir com certo orgulho que banqueiros e grandes empresários jamais ganharam tanto dinheiro quanto no governo do PT, as Elites se unem solidamente em torno de Alckmin.


no caso, mais que o bolso, importa o berço. as Elites podem até permitir que a gestão seja conduzida por um capataz. não admitem porém, em hipótese alguma, que o Povo não se resigne ao seu lugar.

como antes já fizera com FHC, o Povo está disposto a reeleger Lula, mesmo que também o responsabilize pela corrupção de seu governo. para o Povo o berço não importa, desde que se leve alguma vantagem no bolso.

o mesmo Povo que, por causa do Plano Real, levou FHC duas vezes ao Planalto, agora, motivado pelos programas sociais, quer repetir a dose dupla com Lula. se da primeira vez as Elites aprovaram a sábia escolha do Povo, hoje repudiam sua opção, denominando-o de “massa ignara”.


a Esquerda é crítica com as Elites, porém condescendente com o Povo e indulgente consigo mesma. mais do que as Elites e ao Povo, cabe a Esquerda a obrigação de formular um projeto para o país. até mesmo porque é ela quem defende ser um outro mundo possível.

apesar disto, uma candidatura de Esquerda, como a de HH, é incapaz de, senão da formulação de um projeto, pelo menos apresentar um programa de governo.

mais uma eleição passará. pode ser que continuem nossos eldorados. como já tivemos o do açúcar, o do tabaco, e de tantas outras commodities tiradas de nossas terras férteis, enquanto férteis, como o ouro e os diamantes se extraem, até se esgotarem, do cascalho, sem retribuição de benefícios. nossa procissão dos milagres tem sido assim, desde todo o período colonial, sem que a tenha interrompido a Independência, sequer, ou a República.

desta vez, entretanto, mergulhamos num vôo cego, imersos em uma crise de destino, a maior da nossa existência. a História está nos encarando nos olhos, indagando: “afinal, o que vocês são? o que querem ser? tem sentido existir Brasil? qual Brasil?”

diante da Esfinge, nem as Elites, nem o Povo, tampouco a Esquerda, parecem ser capazes de responder a pergunta. sem que ninguém o decifre, o Brasil devora a si mesmo.

16 setembro 2006

o Tigre e o Dragão
(em 12/12/2002)



“Aquele que não atingiu a Sabedoria, está cheio de vaidade,
fala e faz um grande ruído de seu vácuo e de sua ignorância.”

inscrição num antigo vaso Chinês

os Imperadores na Antiga China não apenas monopolizaram o direito de usar o Dragão como símbolo, como se declararam filhos do Dragão e alegaram que seu poder de governar era concedido pelo Céu. os Dragões estavam por toda parte nos palácios imperiais. qualquer outra pessoa que se associasse com o Dragão era sentenciada a morte por crime contra o Imperador.

o Tigre, por outro lado, sempre pertenceu ao Povo. as pessoas admiram sua beleza e força, encontrando nele apoio espiritual, e o usam como símbolo protetor e de boa sorte. para muitos, o Tigre tem o poder de afugentar Demônios...

embora possua asas, na maior parte das vezes o Dragão apenas se arrasta pelo fundo lamacento das águas. enquanto ondula seu corpo ao rastejar, fazendo com que a terra afunde sob seu peso, o Dragão supõe que está alçando vôo. volta e meia um vago sentimento lhe aturde. então, como se fosse um sonho, o Dragão entrevê num lapso que acima da lama e da água pairam o ar e o céu.

o Tigre mantém seus recursos ocultos e, nos relatos da mitologia Chinesa, sempre salvou vidas humanas. o caso mais famoso é o de Confúcio. contudo, sempre que o Dragão se alia a Maldade e se volta contra o Povo, o Tigre é enviado para detê-lo.

14 setembro 2006

o adiamento de uma vitória anunciada

faltavam pouco mais de duas semanas para as eleições. a campanha de Lula mal conseguia disfarçar o eufórico clima de antecipada vitória. o Presidente-candidato estava tão confiante a ponto de anunciar um transubstanciação com os eleitores: cada um deles se tornara gota de seu sangue e célula de seu corpo.

excitados com a proximidade de uma reeleição anunciada, artistas colocavam de lado qualquer preocupação com a ética, assumindo que política se faz com as mãos sujas e com o que se tem.

apesar de alguns deles nem estarem assim supersatisfeitos, alegavam não ter alternativa. afinal, em termos de corrupção não se podia dizer que o governo Lula superasse o anterior.

intelectuais ludibriados, embora confessassem entre risadas como caíram na trapaça da cúpula do PT, não se envergonhavam em se declarar à disposição para serem mais uma vez enganados.

as pesquisas demonstravam claramente o fosso abissal que se escavara no eleitorado. as camadas mais pobres e de menor escolaridade estavam maciçamente com Lula. na mesma proporção, quanto maior a renda e o nível de instrução aumentava o apoio à oposição.

mais que um simples indicador sócio-econômico, a divisão revelava como o avanço da informalidade alterara o país, deteriorando a estrutura social e tornando a maior parte da população refém de políticas compensatórias.

então, tudo começou a mudar.

como sempre ocorre nestas situações, a princípio foi quase imperceptível. entretanto, a sequência dos fatos, quando analisada em retrospectiva, dá a impressão de ter sido orquestrada, como se o destino houvesse se encarregado de conspirar contra os rumos da história.

numa mesma semana se inverteu a sorte de Lula, o que ele só foi entender quando já era tarde demais.

auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) concluíra que o Governo não comprovara despesa de R$ 11 milhões, pretensamente gastos na impressão de cartilhas com propaganda oficial. tampouco há provas da distribuição de dois milhões dos exemplares efetivamente impressos. o Planalto justificou que o material foi entregue a diretórios do PT. alguns destes, contudo, afirmaram nada terem recebido.

no caso, o que incomodava o Governo não era a denúncia em si, mas a possibilidade de se chegar ao fio da meada do uso de superfaturamento com dinheiro público para financiar campanha política privada.

com o indiciamento de Palocci pela PF, voltaria à tona uma pergunta que não podia se calar: quais exatamente eram os negócios tratados pela república de Ribeirão Preto nas reuniões realizadas em Brasília na mansão dos prazeres ?

as peças se encaixavam e remetiam para a exumação de cadáveres de torpes assassinatos...

o fato mais importante, e decisivo, para a inversão do curso das eleições, aconteceria logo a seguir. a reputação pessoal de Lula, até então inexpugnável, estava prestes a ruir. sua arrogância em breve se transmutaria na depressão que, nos momentos de adversidade, lhe é tão característica.

como um mau presságio dos tempos que chegavam, naqueles dias Lula teve que cancelar um compromisso de campanha no Rio de Janeiro. com cerca de 15 minutos de vôo, o avião que o transportava sofreu uma pane e foi obrigado a retornar à Brasília. chegara o momento de sua campanha vir ao chão.

11 setembro 2006

desconstruindo Lula: o golpe final

eleições de 1989. segundo turno. última semana. Collor e Lula estão tecnicamente empatados. campanha de Lula em alta. Collor declina. eufórica, a militância do PT ocupa as ruas das principais capitais.

na primeira eleição direta para Presidente da República após a ditadura militar, o Brasil se tornara um país urbano e industrializado. com as lutas pela redemocratização e o fim do ciclo militar, as classes dominantes perdem a iniciativa na condução do processo político.

o longo histórico Brasileiro de transições controladas chega a um impasse. pela primeira vez, há possibilidade concreta de um operário se eleger Presidente e a Esquerda assumir o poder. a iminente ruptura com a herança das “revoluções palacianas” coloca o Brasil em transe.

empresários ameaçam deixar o país. classe média tradicional, tributária das oligarquias arcaicas, entra em pânico. rumores circulam em SP: caso Lula seja eleito, haverá confisco de quartos para acomodar imigrantes nordestinos. classe média surgida com o processo de desenvolvimento abraça com entusiasmo a candidatura do PT. população dos grotões rejeita Lula. trabalhadores dos grandes centros urbanos se identificam com o líder sindical.

a sociedade experimenta à flor da pele o sentimento da realidade histórica de se estar vivendo entre dois mundos: um definitivamente morto e outro que luta para vir à luz.

Collor joga sujo. coloca no ar depoimento de ex-namorada de Lula, acusando-o de propor um aborto. na réplica, o constrangimento do pai ao lado da filha emudecida, revela que Lula acusara o golpe a ponto de vergar os joelhos.

ao se dobrar a chantagem, recusando-se a fazer com que o eleitorado encare sua própria hipocrisia em relação à questão do aborto, Lula começa a adiar, por mais uma vez, o já longo e exasperante parto daquilo que luta por nascer.

no debate final, Lula entra em cena num estado de petição de miséria. Collor aterrorizara os bastidores da campanha petista com sua intenção de expor em público a intimidade sexual de Lula.

num dos mais patéticos momentos da história política Brasileira, Lula não sobrevive e sucumbe, ao vivo, diante dos olhos perplexos de seu eleitorado.

o golpe de misericórdia vem com a edição do debate divulgada no dia seguinte pelo Jornal Nacional.

a derrota de Lula em 1989 foi, ao mesmo tempo, um fracasso político e psicológico.

Lula não teve estatura política para aceitar a vitória contra uma elite para a qual seu nome estava vetado. preferiu a rendição voluntária que assumir a Presidência num cenário de confronto.

com sua estrutura psicológica vulnerável, que entra em colapso nos momentos de crise, Lula demonstrou incapacidade de resolver um problema básico de formação de personalidade. as limitações e deficiências que, muito embora ele tenha consciência de possuir também considera impossível de superar, não podem ser publicamente admitidas, ou sequer apontadas, sob pena de sensação de humilhação e desonra.

sob a face vitoriosa do Lula atual, permanece enterrado o fantasma de 1989. Lula é hoje tão somente uma deplorável farsa de si mesmo. apesar da alta popularidade e do elevado percentual de intenção de voto, sua estatura política e sua fragilidade psicológica se degradaram de modo irreversível.

derrotar Lula não é tão impossível quanto evidências imediatas levam a supor. até mesmo porque, tanto da perspectiva do processo histórico quanto do individual, ele já é um acabado fracasso.

10 setembro 2006

a porta do futuro: "future is the mind"
(em 21/11/2004)

conversamos um pouco com um casal, durante um jantar num dos típicos restaurantes de Lisboa. eles estavam na mesa ao lado da nossa e demonstraram estar a fim de um papo.

são Belgas e falam "flamengo". ao saberem que éramos brasileiros, manifestaram muito interesse, principalmente o homem, que já era um senhor.

ele repetiu diversas vezes, em inglês, que o Brasil é o país do futuro. eu manifestei minha discordância. comentei sobre os enormes problemas brasileiros. afirmei que economicamente o Brasil tem, nos últimos anos, retrocedido no tempo.

o Belga balançou a cabeça e disse com ênfase que, sem dúvidas o Brasil era mesmo o país do futuro. e aquela simples conversa confirmava isto.

explicou seu ponto de vista: "future is not ecnomic. future is the mind. it is multicultural. it is diversity".

naquela agradável noite de verão em Lisboa, talvez o belga, inspirado pela visita ao claustro do Mosteiro dos Jerônimos e sob intenso efeito do vinho português, apenas divagasse sobre navegadores a singrar os mares e a criar a civilização transoceânica moderna.

em seu devaneio sonhava com manhãs e cavalos brancos nas margens enevoadas do Tejo, e acabou tomando o Brasil como futura realização do Quinto Império.

sendo assim, aquilo não passou de mera conversa de bar, pronta a ser relegada ao esquecimento pela dura realidade do dia seguinte.

pode ser também que o belga se referisse aos mais valiosos patrimônios Brasileiros: o povo, que tem a maior mistura genética do mundo, a imensa biodiversidade existente no país e o fantástico componente multicultural de nossa sociedade.

neste caso, fica um tanto inusitado testemunhar em Portugal, de quem fomos colônia, um belga a se ufanar pelo Brasil, mesmo que eu me esforçasse para convencê-lo do contrário.

por outro lado, o belga tem toda razão em afirmar que o futuro não é econômico, sob cujo prisma nos tornamos humanos em virtude do trabalho, e que por ser fator hegemônico trouxe a humanidade ao beco sem saída atual, cuja falência de modelos tem uma de suas mais agudas expressões no Brasil contemporâneo.


o futuro é a mente ? pode ser apenas um jeito de se pensar... seja como for, podemos estar certos de que não haverá futuro algum se não começarmos a pensar e discutir um outro caminho aqui e agora no presente.

09 setembro 2006

tudo mudará
(em 05/09/2005)
“Não haverá mais sonho. Preciso botar o pé no chão.”

“Mas creio que há possibilidade de uma coalizão de centro-esquerda,
capaz de negociar com a direita sem compra-la.”

Fernando Gabeira
( entrevista à “Folha de São Paulo”, 04/06/2005 )

houve certa vez, num passado nem tão distante, embora mais e mais remoto, uma geração capaz de ousar tomar os céus de assalto.

hoje na discreta mansidão do envelhecimento, seus mais típicos representantes tem os pescoços amarrados por gravatas floridas, crendo na obra e graça da sedutora estamparia para se transformarem em algo diverso daquilo a que se deixaram converter: meros senhores engravatados.

alardeiam como prova cabal de suposta sabedoria, vinda de um amadurecimento tardio, a conclusão de não mais haver sonhos, a não ser fincar os pés no que tomam como a realidade.

fazem-se esquecidos de ser o sonho a matriz geradora do real, e se negam a admitir que sua capitulação decorre de não terem aprendido como sonhar o bastante.

foram contemporâneos de uma classe operária desembarcada do “pau-de-arara” em São Paulo já com a intenção de chegar ao paraíso.

de uma longa trajetória de lutas, emergiu o líder sindical que enfim subiu o planalto, alçando pela primeira vez um trabalhador à Presidência da República.

num intrincado jogo de espelhos, virando tudo pelo avesso do avesso do avesso, homem e personagem se confundem no labirinto.

de tanto fingir o que é, o homem acabou por se tornar aquilo que fingia, mas que de fato era.

a mais completa impostura na sincera mentira de representar a verdade.

conduzido nos ombros da plebe ao palácio com a missão de mudar o Brasil, o presidente filho do povo operou o maior estelionato eleitoral da história do país.

entretanto, a força que o elegeu não protagoniza traições e numa cambalhota para o impossível realiza o sonho, cumprindo a promessa de campanha, mesmo que pelo mais torto dos caminhos.

a nação não mais será a mesma após o Governo Lula.

apesar dele, tudo mudou. tudo mudará.

enquanto isto, intelectuais silenciosos, guerrilheiros arrependidos e militantes perplexos teimam em tirar dos fatos apenas as lições que lhes são convenientes.

caído o muro dos paraísos, não enxergam a rota aberta para a utopia. da crítica ao elogio da ignorância se curvam reverentes a uma cultura obscurantista. na formação das raízes profundas de um Brasil de corrupção e miséria, não identificam que nunca fomos propriamente uma nação, e sim uma empresa voltada para fora e controlada de fora.

e apesar do repetido fracasso retumbante da esquerda, insistem na ilusão de uma santa aliança capaz de conciliar interesses antagônicos. a mãe de todos os enganos. negócios sem implicar em compra e venda.especialmente com a direita, que não entrega o que se comprou – apoio – e quer receber o que jamais deveria ser vendido: a alma.

a cada vez que os conformados se rendem aos escombros do velho, deles se ergue um novo ciclo, aprisionando no passado todos aqueles que não aceitarem ainda mais uma vez construir o rumo do futuro.

08 setembro 2006


isso é o que nós somos, companheiro
(em 02/07/2005)

( sobre “Flores, flores para los muertos”
de Fernando Gabeira,
publicado na “Folha de São Paulo” em 18/06/2005 )


frases esparsas num bloco de notas
pétalas caindo numa cova vazia
não falem de flores
deixem que os mortos enterrem seus mortos
não se entrega não
só se entrega prá morte de arma na mão

infâmia maior
que a grande ditadura torturando a carne
é a cotidiana corrupção de cada alma
pelos diminutos minúsculos tiranos

isso é o que nós somos
mais que corações e mentes

isso é o que nos tornamos
anos de chumbo
ditadura de burgueses do capital alheio
pacto entre os bancos e as favelas
aliança da casa grande com as senzalas

cercados pelo deserto do real
sonhos roubados convertidos em pesadelo
esperança em medo
haverá um futuro ?
o futuro precisa de nós ?

maior é Deus
pequeno sou eu
na roda da história
grande e pequeno sou eu
não tivemos a sorte de escapar
dos tempos sem sol
e da onda de lama que agora submerge
os cínicos e os servis

o que somos
dor
insuportável peso tão leve do ser

o que nos falta
como superar a dor
cálice cheio até a boca
transbordando
isso é o que nós somos
isso é a nossa dor
não a afastemos
não nos afastemos dela

carecemos da compreensão que nada nos falta
somos um excesso
uma alucinação extraordinariamente nítida
que vivemos todos em comum com a fúria das almas

isso é o que nós somos
a chance de optar
entre o que eu quero
e o que a vida quer de mim

no fundo do poço
sobrevivendo ao patético momento
triste destino
sindicalistas e investidores unidos
na tragédia histórica de transformar em farsa
o que foi escrito com sangue nas estrelas

tudo o que era sólido derreteu-se no ar
o rei morreu
morram todos os reis
a arte do possível
seja a criação do impossível
como uma das possibilidades

após o fim de tudo
fantasmas rondam o Brasil
anfitriões da utopia
anunciam nada mais a se perder
senão as correntes que aprisionam
um mundo a ganhar

isso é o que nós somos
o fim
e o começo

dos escombros do velho
novamente se ergue o clamor por mudança

o que fazer

tudo é incerto
nada é inteiro
isso é o que nós somos
nevoeiro

a hora é agora
aqui nasce o futuro

precisará o futuro de nós ?

saberemos dissipar a ilusão de uma manhã gloriosa
quando enfim retornará um rei que nunca tivemos ?

saberemos que nossos sonhos são nossas armas
e só sucumbimos quando não sonhamos o bastante ?

saberemos reconhecer a falência de todos os modelos
e que só haverá um futuro
se somos capazes de continuamente reinventá-lo ?

isso é o que nós somos
país do futuro cumprindo a profecia do passado mítico
a encruzilhada do presente nos devorando com o enigma a decifrar :
quem somos ?

isso é o que nós somos, companheiro

06 setembro 2006

o ponto cego: desconstruindo Lula (3)

mesmo sob ataque cerrado da campanha oposicionista, Lula prossegue desfrutando de índice recorde de aprovação de seu governo. o Presidente-candidato não está nem aí e já avisou: “deixa bater à vontade...”

a verdade é que Alckmin como demolidor de Presidentes saiu-se quase tão bem quanto em sua gestão da segurança pública de SP. nos dois casos mostrou exemplar falta de talento para desempenhar a função proposta.

Heloísa Helena, por sua vez, bem que gostaria de vomitar repetidas vezes em cima do Presidente. afinal, mesmo ainda não sendo tecnicamente rico, ele sempre foi suficientemente ordinário. lamentável a candidata do P-SOL não dispor de tempo bastante para isto.

quando FHC se encarregou, ele próprio, de fazer rufar os tambores da guerra, ordenando incendiar o palheiro, tinha em mente algo mais que o fogo de palha obtido.

a sede de sangue dos patriarcas do PFL não foi saciada. estes acreditaram piamente que, para virar o jogo a seu favor, bastaria xingar Lula de “ladrão”. no fundo, o que não suportam é a quebra do monopólio da corrupção. algo que detinham pelos últimos 500 anos.

o eleitorado pobre se identifica com Lula e ao olhar para Alckmin vê a cara do patrão. o raciocínio é simples: ladrão por ladrão, é melhor que seja um da nossa turma que conseguiu chegar lá.

o ponto cego das oposições é não compreenderem que, apesar do apoio maciço recebido pelas camadas de baixa renda, Lula detesta “pobre”.

Lula é daquele tipo de gente que usa as pessoas quando e como lhe convém, e não tem escrúpulos em se livrar de quem já não lhe é mais útil. Lula sorri pela frente enquanto esfaqueia pelas costas. com uma das mãos concede o Bolsa Família e com a outra mantém o beneficiário num estado de permanente miséria.

seu interesse pelos “pobres” é tão autêntico quanto sua lealdade aos companheiros de partido. seus abraços nos eleitores de baixa-renda são como beijos de Judas.

Lula agora está tomando gosto por apanhar. como baixou a guarda, é o melhor momento para acertá-lo de jeito.

05 setembro 2006

as peças e o torneiro
( a partir dos filmes
“Peões” e “Entreatos”
em 28/11/2004 )


para D. Paulo Evaristo Arns, Lula tercerizou o governo em virtude de não estar preparado para o cargo, algo que seus opositores sempre lhe acusaram e cuja pronta refutação nunca deixou de ser feita por membros das comunidades eclesiais de base.

o pobre Lula, coitado, não passa de vítima, na opinião de Carlos Lessa, de uma insidiosa conspiração universal das elites, que o estão enganando ao se aproveitarem de sua bondosa ingenuidade.

outros juram que Lula é apenas um produto do marketing político de Duda Mendonça, criador de uma impostura tão completa que nela até o próprio Lula acabou por acreditar.

sendo inaceitável para alguns que a peãozada não se resigne ordeira e pacificamente a permanecer em seu lugar, consideram Lula como um deslumbrado penetra se encachaçando com o poder, e estão ansiosos por dele se livrarem logo na primeira chance.

Frei Beto, após iniciar a polêmica sobre a diferença entre estar no governo e estar no poder, chegou a conclusão que já era mais do que hora de encerrar a questão e sair de cena silenciosamente.

enquanto José Dirceu, tendo reservado para si o papel de eminência parda, se vê cada vez mais relegado a um modesto segundo plano, Palocci sabe do status meramente burocrático do poder que parece de fato exercer.

com certeza Brizola estaria às gargalhadas, lembrando ter avisado como o “Sapo Barbudo” é aquele tipo de esquerda tão estimado pela direita.

análises mais complexas explicam o paradoxo do governo Lula realizar o programa de FHC, demonstrando que o país inteiro, com suas combinações esdrúxulas, é como uma espécie de aberração, onde uma nova classe social, formada de um lado por técnicos e intelectuais doublés de banqueiros e do outro por trabalhadores transformados em operadores de fundos de previdência, domina o conhecimento do “mapa da mina” e tem o controle do acesso aos fundos públicos.

no entreato de frustração e perplexidade, a palavra final, como não deixaria de ser, vem do próprio Lula, ao desferir um soco na mesa garantindo que na política econômica não muda nada, e não terá vez para discutir com ele quem ousar contestá-la.

o fato revela não haver despreparo num homem que, por não aceitar posar de vítima, soube mover os peões no tabuleiro político para alcançar o objetivo a que obstinadamente se determinou.

não se procure por trás dos bastidores, pois nada há a não ser Lula, ele mesmo, puxando os cordéis e redigindo o script, o torneiro mecânico que fabrica as peças da engrenagem. Lula é o “chefe”. Lula é quem manda. Lula é o manipulador.

como confessou com empáfia, Lula jamais sentiu orgulho, e muito menos se identificou, com o macacão de operário, sendo aquele tipo de gente capaz de perder os dedos para manter os anéis.

eleito em nome da mudança que agora sequer admite cogitar, Lula realizou sua ambição pessoal de se tornar presidente porém precisou para isto do voto de milhões de anônimos, muitos deles o vendo como uma última esperança antes de nada mais restar no que se acreditar.

a despeito da manipulação das lideranças, são as massas quem movimentam a máquina, e ao outra vez entrarem em ação, como a quebra de confiança terá sido profunda e definitiva, libertarão da desilusão e da apatia o clamor pela mudança, que retornará mais forte do que nunca na história do Brasil.

04 setembro 2006

desconstruindo Lula (2)

Lula e FHC sofrem do mesmo mal: paixão incontida por si próprio. não toleram concorrência no que tange a hipertrofia do ego. por isto, nada mais insuportável para a suscetibilidade de um do que as críticas do outro.

apesar da aspiração declarada de ambos ser o título augusto de príncipe máximo do Brasil, não conseguem superar o ranço batráquio.

FHC sente saudade dos tempos em que era Presidente da República, porque andava de helicóptero. Lula mandou comprar um avião novinho só prá ele. FHC não resiste a uma “buchada de bode”, desde que servida num restaurante em Paris. Lula, que já confessou sentir verdadeiro horror ao macacão de operário, é alérgico ao suor de seu rosto, quanto mais a ganhar o pão com dito cujo. ao chegar a Presidência FHC renegou tudo o que escrevera. Lula se orgulha de que, para ser Presidente, não foi preciso ler até o final um único livro.

muito embora não sejam iguais, os dois são o complemento indispensável um do outro. desconstruir o sindicalista é também expor a nudez do intelectual.

FHC já admitiu publicamente que queria ser igual ao Lula da época em que este era líder das greves contra a ditadura. o desejo inconfessável de Lula é um dia receber da elite o mesmo tratamento conferido a FHC: ser um igual entre iguais.

a combinação das virtudes de FHC e Lula formariam o estadista capaz de colocar o país nos rumos do desenvolvimento. como em sua relação atormentada preferem privilegiar os defeitos, se tornaram cúmplices em um do mais bem sucedidos fracassos de nossa História: nunca foi tão grande a distância entre o que somos e o que poderíamos ser.

são exemplos de um Brasil que renega suas raízes. homens pretensiosos inspirados por um demônio pérfido que faz com que eles, ao se verem diversos do que são, criem preferências e repugnâncias, sendo raro que sejam das boas.

02 setembro 2006

Heloísa Helena passada a limpo (2)

entrevistador: vamos à próxima pergunta. a senhora costuma dizer que aprendeu o socialismo na Bíblia. em que trecho, exatamente?

HH: olha, eu tenho que lhe dizer que você me deixa muito satisfeita com esta pergunta. eu estava esperando mesmo que me perguntassem isto. porque você sabe, não é, nem todos os que dizem Senhor, Senhor entrarão no reino dos céus. o que adianta dizer Senhor, Senhor se não se faz o que Jesus pregou? (Lucas 6:46) e o que Jesus pregou? Jesus disse: amarás ao teu próximo como a ti mesmo (Mateus 22:39). e quem não se recorda do Sermão da Montanha. bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça porque eles serão saciados (Mateus 5:6). bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus (Mateus 5:10). bem-aventurados os pobres, porque deles é o reino de Deus (Lucas 6:20). então, é como eu estou lhe falando, eu acredito na igualdade e na solidariedade entre as pessoas. e quando eu acredito numa coisa, eu defendo. por exemplo, a parábola da multiplicação dos pães (Mateus 14) nos ensina muito sobre a economia. Jesus divide os pães de um cesto entre os famintos que o rodeiam. os pães são insuficientes e os apóstolos ficam preocupados. mas, à medida que os pães são divididos e distribuídos, multiplicam-se. é isto, a riqueza tem que ser distribuída para se multiplicar. é isto que tem que ser mudado no Brasil: distribuição de renda para poder haver crescimento com justiça social.

01 setembro 2006

Heloísa Helena passada a limpo (1)

na entrevista com Heloísa Helena, no Jornal da Globo em 31/08/2006, algumas das respostas da candidata foram consideradas, por uma parcela de seu eleitorado, como aquém da expectativa.

com o intuito de sanar as dúvidas e resolver a questão, trazemos novamente a candidata aos nossos estúdios.

entrevistador: boa noite, candidata.

HH: boa noite. eu queria agradecer não apenas esta nova oportunidade, como vocês sabem ... eu sempre fui uma crítica ferrenha da Rede Globo. mas desta vez, eu tenho que dar a mão à palmatória. não somente estas entrevistas agora no Jornal da Globo, como as anteriores no Jornal Nacional, foram de um nível excelente, imparciais, trazendo perguntas sobre pontos polêmicos de cada candidato, fazendo com que ele se exponha. vocês estão de parabéns. vocês estão dando uma grande contribuição para a política brasileira e cumprindo o que se espera da mídia.

entrevistador: muito obrigado, candidata. mas vamos as perguntas. qual seria mesmo a sua postura diante de uma greve no setor público a senhora cortaria ou não o ponto dos grevistas?

HH: meu bem, eu vou responder esta pergunta em três pontos. o primeiro deles, como eu já disse anteriormente, toda greve, ela é conseqüência de reivindicações dos trabalhadores que não são atendidas. o trabalhador não faz greve porque quer, meu amor. ele faz greve, como um recurso, um recurso inalienável da classe trabalhadora, para conquistar melhores condições de trabalho e um salário digno e justo. no meu governo eu vou me antecipar à greve. sempre que as reivindicações forem justas, eu vou atender as reivindicações. a rigor, eu não vou sequer esperar as reivindicações. vou permanecer muito atenta às condições de trabalho do setor público, sempre cuidando para que sejam as melhores possíveis. portanto, as greves no meu governo, se acontecerem, serão muito raras. porque o meu governo não vai ser um balcão sujo de negócios como o governo do PSDB e do PT. este é o primeiro ponto. o segundo ponto... veja só, por que vocês não perguntaram ao Lula se ele vai cortar ponto de grevista? por que não perguntaram ao Alckmin? ah! não perguntaram porque é claro que o compromisso de Lula e Alckmin não é com a classe trabalhadora. e o meu é! é por isto que me fazem este tipo de pergunta e não a eles. Lula e Alckmin tem compromissos com o banqueiros, com os grandes empresários, com o capital internacional, com esta farra de juros exorbitantes e lucros astronômicos de bancos que está sabotando o desenvolvimento do país e condenando o trabalhador ao desemprego. mas vamos lá... está é uma pergunta polêmica e muito pertinente eu agradeço que me tenham feito para que eu possa deixar bem claro qual é a minha posição a respeito. a greve é uma questão social. e toda questão social no Brasil é tratada como caso de polícia. por isto que tem este tipo de pergunta. você vai cortar ponto? você vai chamar a polícia para descer o sarrafo no trabalhador? não, não! eu não vou tratar questão social como caso de polícia. vamos conduzir com muito diálogo, muito equilíbrio, buscando sempre a solução justa.

entrevistador: candidata, a resposta...

HH: sim, sim. olha, sei que tenho o defeito de às vezes ser prolixa. e aí chegamos lá. ao terceiro ponto, que é o seguinte. eu sou candidata e pretendo ter a honra de ser a primeira mulher a chegar à Presidência para ajudar a transformar este país na grande nação que ele está destinado a ser. e que é o que o povo Brasileiro deseja e merece. portanto, eu vou dizer a vocês que no meu governo sempre vou nortear toda decisão, por menor que seja, pelo que é justo, pelo que é correto, pelo que é melhor para a nação. então, que fique claro, se num determinado momento, e eu não sou mulher de ter medo de dizer isto aqui e perder voto, se eu tiver que cortar ponto, se esta for a decisão justa do ponto de vista do interesse da nação, então eu vou cortar ponto. assim como eu não vou ter medo de cortar juros, de fazer a reforma agrária, não vou ter medo de enfrentar os banqueiros e não vou ter medo de enfrentar os especuladores que vivem da desgraça do povo Brasileiro.