27 novembro 2017

os Brasis: Rio de Janeiro em estado de guerra

27/11/2017


ilustração: a Batalha da Av. Presidente Vargas, 20/06/2013.

é no Rio onde o Golpe de 2016 exibe sua face mais descarada. é no Rio onde o Golpe de 2016 bate com maior impacto. na guerra de extermínio travada pela lumpenburguesia brasileira contra todos os Brasis, é no Rio que seus efeitos são maiores e mais profundos.

Rio de Janeiro: uma cidade e um Estado em guerra. o genocídio de pobres, pretos e moradores das favelas e das periferias. o fim da indústria naval e da cadeia de gás e petróleo. a destruição dos serviços públicos e a falência do Estado. a explosão da miséria e da violência. a promiscuidade do aparato repressivo com o narcotráfico. o Legislativo tomado por quadrilhas. o Judiciário a serviço de interesses privados. o colapso da Democracia representativa.

neste caos atual se converteram todas as maravilhas prometidas pelo mundo encantado do Lulismo, no qual o Rio de Janeiro se transformaria na sede triunfal de seu modelo de cidade.

apesar de todas as evidências em contrário, comprovadas pelas experiências de suas edições anteriores em outros países, os mega eventos foram anunciados como uma freeway em direção ao Brasil do Séc. XXI, levando o país a ser um respeitado player global.

supostamente um valioso trunfo não apenas político, tanto pelo marketing de popularidade, como também econômico, na suposição dos investimentos em infraestrutura retornarem como acelerado crescimento do PIB. além disto, pela forte demanda por mão-de-obra se daria o milagre do pleno-emprego, mesmo sendo de baixa remuneração, pouca qualificação e curta duração.

contudo, os mega eventos se concretizaram como um previsível mega fracasso, tão humilhante quanto os 7x1 do Mineirazo. ao invés de turbinarem o PAC, grande parte dos recursos abasteceu os propinodutos, escoando pelos ralos dos paraísos fiscais ou simplesmente foram desviados para aplicações especulativas no mercado financeiro.

agora jaz em ruínas o Hotel Glória, criadouro de mosquitos e vendido a um fundo de investimento árabe. teria sido um símbolo glamouroso do empresariado-companheiro, enfim o nascimento de uma "burguesia nacional", mas acabou tomado por Abu Dhabi e ameaçado pelo Aedes aegypt.

foram constantes e combativos os protestos no Rio contra a farsa dos mega eventos, desde Junho de 2013 até a Copa de 2014, período no qual ecoou fortemente o grito das ruas: "da Copa eu abro mão, quero mais dinheiro prá saúde e educação". apesar desta palavra de ordem, não deixaram de ser então estigmatizados como "complô da CIA para desestabilizar o nosso governo".

ao invés de usar o vigor das ruas contra-balançar a correlação de forças com a cleptocracia, o governo Dilma lançou sobre o movimento uma feroz repressão, através de uma força-tarefa coligada, estadual e federal, promovendo uma ampliação da criminalização dos movimento sociais.

a insurgência destituinte do "Fora Cabral e Eduardo Paes!", apesar de reforçada com o poder criativo de outros movimentos ("Aldeia Maracanã", "Cadê o Amarildo?", "Ocupa Câmara" e "Ocupa Cabral") e integrada com a greve dos professores e dos garis, mesmo assim acabou esmagada, o que só escavou ainda mais o abismo da crise de representação.

aquilo que na época não se logrou alcançar a partir da soberania do movimento popular, hoje se dá pelas vias tortas e viciadas de um Judiciário venal, corporativo, seletivo, classista e partidarizado: parte da cúpula político-empresarial do Rio de Janeiro está atrás das grades.

é no Rio que a total fratura entre os poderes constituídos e o poder instituinte se mostra mais visível e contundente, expondo de modo escancarado os limites óbvios, mas nem sempre tão visíveis, da Democracia representativa.

a mesma fratura existente a nível nacional: uma total crise de representação, com os três poderes e as instituições completamente tomadas pela Guerra de Famiglias, já sem qualquer vínculo com alguma residual "soberania popular".


remonta a 1998 um dos mais nefastos destes "acordos", consistindo também numa das origens da crise de representação e da demolição do sistema político no Rio. militante histórico na resistência à Ditadura desde 1964, Vladimir Palmeira ganhara a convenção do PT para disputar o governo estadual, contudo a direção nacional fez uma intervenção para impor o apoio a candidatura de Anthony Garotinho, depois eleito naquele mesmo ano ainda pelo PDT.

a partir de então, de acordo em acordo o PT do Rio foi convertido em mera linha auxiliar do PMDB. ao repetidamente renovar os pactos de uma governabilidade baseada no fisiologismo e no curto-prazo, desembocou-se na ingovernabilidade sistêmica e numa grave crise econômica.

assim como o Brizolismo havia parido uma perigosa linhagem afetada por mutações regressivas (Marcello Alencar, César Maia, Garotinho e Rosinha), o Lulismo gerou uma dinastia paralela progressivamente se aprimorando em assaltar os recursos públicos: Sérgio Cabral, Pezão e Eduardo Paes.

do mesmo partido e igreja do ex Vice-Presidente José Alencar, o atual prefeito carioca Marcelo Crivella ocupou o Ministério da Pesca e Aquicultura no governo de Dilma Roussef. para tanto tinha como única experiência e qualificação na área ser "pescador de homens", estes apanhados para doravante darem provas de sua fé com generosos sacrifícios na Fogueira Santa.

atualmente a ALERJ vive cercada por grades duplas e reforçadas, protegida pela Força Nacional e pelo Batalhão de Choque com seus carros blindados. a população ao se manifestar em frente as suas escadas tem sido sistematicamente enxotada pelo aparato repressivo, com artilharia de bombas de efeito moral, nuvens de gás lacrimogêneo e de pimenta e saraivadas de balas de borracha.

situado nas redondezas da ALERJ, o TJ-RJ se notabiliza não somente pelos super-salários de seus desembargadores, como principalmente por sua absoluta blindagem quanto a necessidade de se fazer justiça, conservando-se em perfeita "harmonia" com os outros poderes.

apesar da versão confortável fazendo da desgraça do Rio obra simplesmente da Lava Jato & Associados, os benefícios fiscais distribuídos pelo governador-amigo dos amigos empresários
foram tão abundantes a ponto de superar a arrecadação com o ICMS.

grande parte do Executivo, Legislativo e Judiciário do Rio deveriam estar presos. o mesmo ocorre no plano Federal. sem detrimento das medidas legais cabíveis e necessárias, ainda assim seria cair na ilusão fácil de bastar a via da Justiça Penal para "purgar a sociedade de todos os seus males".

neste sentido a própria Lava Jato & Associados já desmascarou a si mesma, ao revelar sua parte principal, e também sua maior beneficiária, como justamente os Associados: a lumpenburguesia brasileira associada aos mega interesses transnacionais.

por outro lado, sem as medidas legais cabíveis e necessárias, mas não suficientes, apenas se alimenta a serpente do proto-fascismo, pois este oferece como única solução viável a via autoritária. como nenhum autoritarismo é capaz de superar a fratura da crise de representação, somente a Democracia participativa tem o poder de fazê-lo, a hipótese fascista traz tão somente um agudo agravamento do problema.

portanto o nó da questão é mais complexo: o sistema de poder está irremediavelmente comprometido, pela completa ruptura entre poderes constituídos e o poder instituinte: a soberania popular anterior ao poder constituinte.

para se desatar este nó é preciso abandonar qualquer ilusão quanto alguma conciliação. a ruptura já se deu e nenhum jogo ganha-ganha tem o poder de restaurá-la. alguém terá que perder, e sofrer um duro revés. por enquanto, os derrotados permanecem sendo os Brasis e suas populações.

olhai para o Rio de Janeiro. tudo sob o céu está mergulhado no caos e coberto por ruínas. nenhuma pax nos salvará. apenas a Antropofagia nos une.

“Nossos problemas nunca serão resolvido pelos bandidos ou seus aliados, porque eles representam uma classe que não é a nossa. Eles tem um lado, que não é o nosso. Olimpíada, Copa, mega-eventos... Dessa porra toda eu abro mão, meu parceiro. O que eu quero na vida, meu mano, é meu povo com saúde, dignidade, educação.”
“O Bandido do Rio”- PH Lima




vídeo: PH LIMA RAP O BANDIDO DO RIO


vídeo: Há dez anos denunciamos os esquemas do PMDB, mas nada foi feito


vídeo: Lula como cabo eleitoral de Sérgio Cabral


.

19 novembro 2017

os Brasis: furar as bolhas!

19/11/2017


"O diálogo não é a conversa entre iguais, mas sim a conversa real e concreta entre diferenças que evoluem na busca do conhecimento e da ação que dele deriva. Diálogo é resistência."

é preciso furar as bolhas. escapar delas, circular entre elas. visualizar outros pontos de vista. encarar outras perspectivas. dialogar com outros discursos. falar outras línguas. pensar fora da caixa. fugir da estreiteza das molduras. dar umas voltas. tomar um ar. viver.

as bolhas sempre existiram. elas são bem anteriores a web. a bolha virtual tem sua raiz nas bolhas do cotidiano. agora umas retroalimentam as outras.

comentário: ok! mas o que isto tem a ver com a situação atual do Brasil? nada! mas somente caso se olhe em torno e várias pessoas de camadas sociais diferentes não estejam grudadas no celular, até mesmo num vagão de metrô rumo a periferias soturnas e distantes.

o efeito-bolha na Internet é incessante. um algoritmo em constante adaptação e sempre se aperfeiçoando. a cada like. a cada compartilhamento. a cada google. a cada post.

sempre somos nós mesmos!

gerando gratuitamente os dados. apenas para alimentar o processamento que nos mantém aprisionados em bolhas de membranas espelhadas, refletindo um mundo customizado à nossa imagem e semelhança.

"Nós não vivemos, após 2008, uma brusca e inesperada “crise econômica”, nós assistimos apenas à lenta falência da economia política enquanto arte de governar, com a ascensão de uma nova ciência de governo: a cibernética."

assim como a economia política reinou sobre os homens deixando-os livres para cuidarem de seus interesses, e a cada negócio que faziam se tornavam menos livres, a cibernética estimula a comunicação: quanto maior for nossa conectividade mais deixamos de interagir uns com os outros.

mas se há plena liberdade para se mover pelo ciberespaço do universo de hiperlinks, como sentir as correntes que ainda nos prendem?

comentário: as bolhas se encarregam de seu próprio serviço de patrulhamento interno. seus habitantes são cada qual policial dos demais. o terror é a norma. filtrar a admissão. adaptar os neófitos. expurgar os dissidentes. interditar o contraditório. eliminar a divergência. suprimir a crítica. não se espere a ascensão de nenhum outro fascismo, além daquele já em vigor em nas bolhas.

a sociedade em rede é um onipresente e onisciente panóptico distribuído, interconectando o concreto e o virtual, o digital e o analógico. as dualidades da economia política se transmutaram num sofisticado e complexo sistema de coleta e processamento de dados, capaz de executar controle e vigilância em regime de missão crítica 24x7.

ao mesmo tempo em que caem as fronteiras do Estado Nação soberano, ergue-se por toda parte uma teia molecular de infinitas delimitações e isolamentos.

sob a promessa de aproximar pessoas, nunca foram tantas as separações. nichos e guetos se proliferam. mesmo que os campos de concentração deste admirável mundo novo sejam percebidos como reconfortantes grupos de afinidades nas redes sociais.

"É possível imaginar o deserto humano que foi necessário criar para tornar desejável a existência nas redes sociais? O Facebook é seguramente menos o modelo de uma nova forma de governo do que a sua realidade já em ação."

numa permanente Contra-Revolução Zumbi, a vampirização on-line da energia vital   mais do que reduzir pessoas a máquinas, como no paradigma do capitalismo industrial, ou mesmo transformar máquinas em pessoas, como sonham as mentes mais elétricas do Vale do Silício, constitui cada um de nós como ciborgues.

comentário: vide a invasão instantânea dos pokemóns, colocando uma horda de teleguiados para caçá-los, enquanto na verdade os usuários do jogo on-line estão é sendo caçados pelos artífices dos pokemóns.

se no paradigma da economia política o modelo de cidadão foi o de consumidor, no capitalismo cibernético passa a ser o de usuário. ao mesmo tempo multi sensor de input, dispositivo de saída dotado de processamento com armazenamento local e veículo driveless controlado à distância.

na IoT (Internet of Things) as pessoas são mais uma dessas coisas, assim a reificação se completa sob a égide C3I (Comando, Controle, Comunicação e Inteligência).

o capitalismo cognitivo e a informática de dominação estão reconfigurando as populações como CiB-Org, organismos cibernéticos formados por circuitos integrados e conectados ao sistema global de fluxos de informação.

comentário: o capitalismo se tornou logístico. parem as máquinas! não estarão tão preocupados. bloqueiem os fluxos! imediatamente aplicam a Lei Anti Terrorismo.

não há “indivíduos” dentro de uma “sociedade”, e sim pontos de intercessão, nós numa imensa e complexa rede. tudo e todos são relações sociais. circulação e processamentos se cruzando e se interconectando incessantemente, gerando uma rede infinita como um fractal. em cada nó desta teia rizomática, nós mesmos surgimos, nossa subjetividade é produzida.

o sujeito passa a ser subsidiário dos fluxos e não seu autor.

eternamente plugados, como uma colméia de drones sem nenhuma rainha-mãe, o trabalho já não pode cessar. o trabalho se torna imaterial.

a completa negação do ócio vem com as próprias experiências de vida sendo ininterruptamente disponibilizadas na web, para sofrerem pronta monetização. a mercantilização da vida se completou. o tempo de vida coincide com tempo de trabalho não remunerado.

"O que se esconde, com a Google, sob a capa de um inocente interface, de um motor de busca de uma rara eficácia, é um projeto explicitamente político. Uma empresa que mapeia o planeta Terra, expedindo equipes para cada uma das ruas de cada uma das suas cidades, não pode ter objetivos estritamente comerciais. Jamais se faz cartografia daquilo que não se pretende conquistar."

o confinamento solitário em bolhas transparentes experimentado como hiperconectividade, redunda numa avassaladora epidemia de ansiolíticos: os enxertos e implantes psicofarmacológicos indispensáveis para que todos estejam sempre ok. haja Rivotril!

prospera a indústria do bem estar. as técnicas de auto-ajuda e o coaching se popularizam. o evangelho da prosperidade promete o paraíso material e as seitas espirituais pregam a paz interior.

mesmo nas delegacias há psicoterapeutas. as discussões de relacionamento são feitas em grupo na web. multiplicam-se os programas de TV relacionados à saúde. os exames médicos periódicos se tornam rotinas obrigatórias na empresas.

comentário: um hemograma mais simples ou uma dosagem hormonal complexa se baseiam em faixas obtidas por estatística. o resultado fora destas faixas indica uma tendência a se desenvolver processos patológicos. entretanto, assim como a água ferve a 100º C apenas nas CNTP, as faixas estatísticas utilizadas nos exames não são válidas sob novas condições ambientais. assim, como distinguir uma tendência à patologia, sob os parâmetros anteriores, do que já pode ser um processo de adaptação as novas condições climáticas? quais seriam as faixas de “normalidade” para as novas condições climáticas?

por todos os lados o comando, o controle, a comunicação e a mensagem são os mesmos: conforme-se. resigne-se. não se rebele. fique bem. aceite. entregue. confie. morra, mas continue vivo. é assim que precisamos de vocês.

quase todas as citações e referências deste texto podem ser buscadas nos links abaixo:

- "Fuck off Google", Comitê Invisível;
- "Antropologia do Ciborgue", Donna Haraway, Hari Kunzru e Tomaz Tadeu.

vídeo: O Círculo - Trailer Oficial Legendado

.

14 novembro 2017

Capital Industrial x Financeiro





os Brasis: não esquecemos, não temos misericórdia.

14/11/2017


GGN e DCM mais O Cafezinho estão procedendo a demolição controlada da Lava Jato & Associados. não restará pedra sobre pedra. em todos os níveis tudo virá abaixo. até se atingir as raízes profundas do Deep State, para expor quem formulou, financia e comanda o Golpe de 2016 no Brasil.

uma heróica força tarefa da blogosfera da resistência travando nas redes  uma parte decisiva da épica Batalha do Brasil. no epicentro de uma Guerra Mundial Híbrida deflagrada pelo Império contra o mundo multipolar, ou lutamos ou não sobreviveremos.

"Fazer os cidadãos petrificados compreenderem que mesmo que não entrem em guerra, já estão nela de qualquer jeito. Que ali onde é dito que é isso ou morrer, é sempre, na realidade, isso e morrer."
"COMO FAZER?", Tiqqun

as informações já divulgadas até o momento são mais do que suficientes para um imediato afastamento e prisão preventiva dos integrantes da Republiqueta de Curitiba. somando-se a
isto as acusações sobre o governo usurpador, rejeitado por exatos 99% dos brasileiros, configura-se um quadro no qual claramente se impõe:

- a nulidade do impeachment;
- a revogação de todos os atos e contratos do governo golpista;
- a punição de todos os responsáveis pelo golpe.

então, cabe indagar? por que ainda não aconteceu?  afinal, quem deu este golpe? quem sustenta Temer no governo?

quem deu e sustenta o golpe não foi a manada de patos amarelos, estes apenas a massa de manobra para legitimar o "clamor das ruas";

tampouco foi o PSDB e o PMDB, estes apenas seus operadores políticos;

nem mesmo a Republiqueta de Curitiba, estes seus operadores jurídicos;

também não foi a Globo, esta sua principal agência de psyop, especializada no controle de corações e mentes.

o golpe foi dados pelos grandes empresários brasileiros, associados aos mega interesses transnacionais.

exatamente o 1% que ainda apoia Temer. exatamente o 1% que enriqueceu e mantém sua fortuna privada sugando as tetas dos recursos públicos, enquanto para os demais prega o Estado Mínimo.

qual entidade empresarial, ou mesmo um único grande empresário brasileiro, que já se manifestou contra o desmonte do Brasil promovido pelo Golpe de 2016?

o desGoverno Temer é o governo que mais representa os Donos do Dinheiro no Brasil: esta lumpenburguesia que vê o Povo sob a ótica da escravidão e a Nação da perspectiva de colônia.

Guinle, Simonsen, Klabin, Lafer, Gerdau, Bouças, Marinhos, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Mendes Júnior, Odebrecht, Moreira Salles, Setúbal, Aguiar, Villela, Sarney, Lemann, Armínio Fraga, Goldfajn, Safra, Steinbruch, Henrique Meirelles...

são os legítimos herdeiros dos primeiros "empresários" que aqui aportaram para pilhar e saquear. escravizando os povos originários, envenenando o solo, nenhuma intenção em desenvolver uma sociedade.

assim percorremos uma viagem redonda até desembarcarmos no Golpeachment. ao longo da História a procissão das mesmas Famiglias, sempre expropriando o patrimônio público em benefício de seus interesses particulares.

desde a madeira, açúcar, algodão, ouro e diamantes, café, minério de ferro, soja, frango e boi. os repetidos ciclos das commodities baratas e sem valor agregado. até a era do capital improdutivo, fazendo da SELIC a mais rentável commodity.

um imutável fluxo exportador para alimentar a fome de lucros fáceis das grandes traders globais: Vitol, Glencore, Cargill, ADM, Gunvor, Trafigura, Mercuria, Noble Group, Louis Dreyfus, Bunge, Wilmar International, Arcadia, BlackRock...

as idéias dos liberais brasileiros sempre estiveram fora de lugar. se antes combinaram liberalismo com escravatura, agora associam Estado Democrático de Direito com um Judiciário fora da lei.

o modelo do grande empresariado brasileiro ainda é o Visconde de Mauá: a união da mão de obra escrava com o capital internacional, compatibilizando no mesmo lugar latifúndio, manufatura e escravidão. o retorno do trabalho escravo sob Temer nada mais é do que a volta de algo sempre presente: o eterno retorno do reprimido com uma escravidão nunca superada.


sem compreender quem é nosso inimigo principal, jamais o Golpe de 2016 será derrotado. enquanto nos deixarmos iludir com o jogo de espelhos, confundidos por heterônimos e pseudônimos, tomando os operadores pelos formuladores, vagaremos pelo deserto das miragens infinitas.

é preciso nomear com definição e determinação. para que todos saibam, de uma vez por todas. nosso inimigo principal não é a Globo, a "classe média", os patos amarelos, o PSDB e o PMDB, etc... nosso inimigo principal é a lumpenburguesia brasileira. o inimigo interno sempre sabotando e traindo o Brasil e sua população.

são a eles que devemos conceder nosso perdão para continuarem nos golpeando mais uma vez? e de novo. e novamente. e outra vez. num retorno eterno de farsas e tragédias sem qualquer possibilidade de redenção? sempre os mesmos fracassos e capitulações?

ou chegou o momento dos Brasis finalmente bradarem: não esquecemos, não temos misericórdia. quem deve morrer são nossos inimigos.



.

08 novembro 2017

os Brasis: dois patinhos no atoleiro

08/11/2017


muito embora não se esbarrassem, o pato amarelo e o pato vermelho viviam se encontrando.

e nem poderia ser diferente, afinal pertenciam ao mesmo setor social. aquela camada amorfa, sempre em crise de identidade, perdida em suas insuperáveis contradições. a abominável classe que odeia a si mesma: fascista, violenta e ignorante.

apesar do pato vermelho se imaginar muito diferente do pato amarelo, seus modos de vida não eram assim tão dessemelhantes. o terno elegante no cabide. o carrão reluzente na garagem. a mesinha de centro com tampa de vidro na sala. os segredinhos sujos dentro do armário.

ao notar que o pato amarelo estava acabrunhado, o pato vermelho pataqueou:

- "bem feito. não era só tirar a Dilma... agora aguenta!"

- "mas quem votou no Temer foi você", retruca prontamente o pato amarelo. "eu não tenho culpa. eu votei no Aécio!"

- "vai lá bater panela, vai. por que agora não está batendo panela prá tirar o Temer?", provoca o pato vermelho.

- "vai prá Cuba! e leva contigo a corja esquerdista!", berra cada vez mais exaltado o pato amarelo.

- "eu te odeio, fascistinha de merda!", grita o pato vermelho, ao se proteger da investida do pato amarelo.

- "tá com peninha de pobre e bandido? leva eles prá sua casa!", com o bico em riste avança o pato amarelo.

sabendo ser inútil intervir, nosotros observávamos aquela dupla de patinhos no atoleiro. se antes o pato amarelo achou que bastava tirar a Dilma, agora era a vez do pato vermelho acreditar piamente ser apenas uma questão de colocar de novo o Lula-lá.

mesmo com toda sua pataquada, a pataria só engana a ela mesma. estão todos em busca de um candidato para chamar de seu. um Salvador da Pátria a quem possam delegar a responsabilidade sobre suas vidas.

e nem adianta o pato vermelho perdoar o pato amarelo, para reunir todos os patos sob o mesmo refrão: "pato unido, jamais será vencido!"

pouco importa a cor do pato, no fim das contas seríamos outra vez nós todos, os patos, quem iriam pagar a conta.

deixem de ser patos, seus patos! duck, you sucker!.
.

04 novembro 2017

os Brasis: fazer-se movimento em marchas e caravanas

04/11/2017


do mesmo modo que Lula se agigantou até se transformar num mito, acabando por se sobrepor ao  PT, talvez agora o Lulismo tenha se tornado tão hegemônico a ponto de Lula não mais conseguir separar-se dele.

ainda perplexa com sua queda no vasto deserto do real, uma nostálgica Ex-querda sonha com um futuro impossível moldado à imagem de um passado que jamais existiu. persiste em manter de pé a miragem de seu muro de Berlim para demarcar claramente seu mundo de antagonismos primários. "nós" e "eles". Lula x FHC. PT x PSDB. Lulismo x anti-Lulismo. golpismo x conciliação.

é preciso um brutal esforço para cortar e recortar a complexidade social, até reduzi-la a uma diminuta dimensão capaz de ser encaixada na moldura de uma conveniente análise binária.

nosso maior problema deixa de ser os oligopólios da cleptocracia brasileira, sócia minoritária das grandes corporações pós nacionais, e sim: a classe média. e o maior inimigo continua sendo, não o sistema financeiro especulativo global, e muito menos o capitalismo, e sim: a Globo.

como se não tivesse sido durante o Lulismo o grande marco inaugural da abertura do pré-sal ao capital trans nacional: o Leilão de Libra, em 21/10/2013; como se fossem as mesmas empresas "campeães nacionais" capitalizadas via financiamento público, aquelas que através deste mesmos recursos compraram os votos do Golpeachment; como se em 13 anos o Lulismo não houvesse indicado 13 Ministros (dos quais 7 ainda permanecem) indicados para um STF garantista do impeachment; como se Dilma não tivesse sancionado a Lei Anti Terrorismo.

enquanto sataniza a "classe média", o Lulismo perdoa os golpistas para acenar-lhes com a reedição das velhas alianças. embora agora prometa regular a mídia, nada anuncia quanto ao engodo de um mercado auto regulamentado. quanto mais Lula se atira nos braços do povo, mais o Lulismo aspira a vê-lo novamente de mãos dadas com a elite.

numa de suas mais nocivas anomalias, mesmo desde antes assumir o governo federal, o Lulismo desenvolveu sua própria burocracia e seus empreendedores do negócio da política, alimentados pelos cargos comissionados, pelos patrocínios, financiamentos, verbas publicitárias e contratos diversos. uma aguerrida militância em prol dos interesses do próprio bolso.

"Em 1991, 14,9% dos petistas tinham renda entre dez e vinte salários mínimos, já em 1997, o percentual de membros do partido que tinham essa faixa salarial era de 27%, passando para 34% apenas dois anos mais tarde, em 1999. Já aqueles militantes com renda entre vinte e cinquenta salários passou de 6,2% em 1991, para 23% em 1997."

desaparelhada do poder pelo Golpe de 2016, esta nomenklatura não medirá esforços, tampouco pudores, para outra vez se alojar nos orçamentos palacianos. são os que mantém vivas as quimeras da era dourada em que supostamente Lula era "o cara". a fantasia perversa de um Brasil impulsionado pela exportação de commodities em direção ao mundo mágico dos mega eventos, com a "nova classe média" se endividando infinitamente para adquirir bens de consumo Made in China.

esta Terra do Nunca do Lulismo deixou de existir com a Crise de 2008, e sua sobrevida artificial, mantida pelos aparelhos dos incentivos e desonerações fiscais, encerra-se com Junho de 2013.

uma de suas heranças renunciadas é um Brasil sem industrialização. em 2014 a participação da indústria no PIB já recuara para 10,9%. abaixo dos 11,9% em 1947. a importação de manufaturados atinge 81,7% em 2014, acima dos 80,8% de 1930.

houve um tempo em que ninguém poderia destruir o PT, a não ser seus próprios e repetidos erros. este tempo passou. a destruição já aconteceu. não haverá retorno.

mas o retrocesso do Brasil a um status pré Revolução de 1930 é também uma volta para o futuro. o neo colonialismo e a semi escravidão são a condição normal na Pós Democracia. um retorno que é ao mesmo tempo um avanço, combinando mais uma vez de forma desigual o arcaico e o pós-moderno. uma excêntrica seta do tempo movendo-se nos dois sentidos simultaneamente.   

o Golpe de 2016 arrasta o Brasil ao epicentro de uma grande guerra global híbrida e assimétrica. a linha de frente de batalha está em todos os lugares, sem que nenhum desses lugares seja a linha de frente principal. o Império não tem lugar. administra esta ausência fazendo pairar por toda a parte a ameaça palpável da intervenção policial. a Nova Ordem Mundial é a Arquitetura do Caos. não se trata de impor a ordem, e sim de gerir o caos. mais uma grande desintegração está em curso. para além de uma modernidade líquida, rumo a uma pós-modernidade volátil. quanto maior a fluidez, maior a governabilidade. sem limites. sem fronteiras. sem resistência. sem opacidade.

"O que está nos acontecendo atualmente resume-se mais ou menos assim: a contrainsurreição, de doutrina militar, tornou-se princípio de governo."
"Aos Nossos Amigos", Comitê Invisível

o Império não paira acima de nossas cabeças, dominando o mundo do alto de seu ilimitado poder. a dominação se tornou a trama do tecido social geradora de nossas subjetividades. 

como reconhecer o inimigo? o que é ser de Esquerda?

já não existem pessoas, partidos e mesmo movimentos emancipatórios. o que existe são propostas e ações de emancipação. o que existe são relações sociais emancipatórias. isto faz com que pessoas, partidos ou mesmo movimentos sejam altamente contraditórios, heterogêneos e multifacetados. dependendo das relações sociais que os constituem, algumas vezes vem a ser poderosos instrumentos de controle e não de emancipação. o inimigo está por toda a parte. o inimigo somos nós.

se o que "é" de Esquerda já não pode sê-lo, como então tornar-se de Esquerda?

não existe mudança no meio social de cada um de nós que também não nos provoque uma mudança subjetiva, em nós mesmos. e vice-versa. cada mudança em nós mesmos desencadeia mudanças em nosso meio de convivência.

é exatamente por resistir a este duplo processo, a esta práxis instituinte, que quase todos os "revolucionários" acabam miseravelmente se tornando contra-revolucionários.

quem muda o mundo são as pessoas. e o que muda as pessoas são as experiências de vida que elas são capazes de gerar e compartilhar intensamente.

por que lutamos? lutamos porque é assim que nos sentimos vivos.

é justamente esta energia vital que o Império visa neutralizar, para dela se apropriar num processo de incessante atenuação e dissipação, a fim de colonizar todo o tempo de vida transformando-o em tempo de trabalho escravo. este neo colonialismo associado a uma semi escravidão constituem a permanente Contra-Revolução Zumbi, fazendo da anomia a norma das relações sociais.

este é o espectro que nos ronda neste admirável mundo novo: um suicídio sem a morte. como operários mortos-vivos nas colmeias de Das Kapital, o atual estágio do capitalismo com total financeirização da economia e mercantilização completa da vida. somos todos descartáveis e os indesejáveis dever ser eliminados.

"Como Fazer? Não "O que fazer?" Como fazer? A questão dos meios. Não a dos fins. Mais que de novas críticas, é de novas cartografias que necessitamos. Cartografias não do Império, mas das linhas de fuga para fora dele. Como fazer? Precisamos de mapas."
"COMO FAZER?", Tiqqun

a grande marcha do MTST em SP e as Caravanas de Lula pelo interior do Brasil são exemplos de como as linhas de fuga para além do atual colapso brasileiro se dão através de um fazer-se movimento. um contínuo processo de deslocamento "através de uma geografia política que não conhecemos".

neste processamento é liberada uma imensa energia social, o único antídoto para a Contra-Revolução Zumbi. a energia vital deve se conectar a um processamento de luta emancipatória, para alimentar este processamento e dele ser continuamente retro-alimentada. caso contrário se enfraquece, decai para tornar-se cativa da epidemia de ansiolíticos.

não é a consciência e a solidariedade que impulsionam a luta, como condições anteriores. é a luta que gera a consciência e é na luta que se experimenta a solidariedade. não é “o povo” que produz a luta, é a luta que forja seu Povo sem Medo. do mesmo modo, as novas formas de organização não são preexistentes e serão geradas pela luta. a luta constitui novas coletividades não existentes até então.

não se vivencia e se compartilha a intensidade deste tipo de experiência, como a Grande Marcha e as Caravanas, sem ser profundamente afetado. e nem mesmo Lula está incólume a isto.

como dispositivo de controle, o Lulismo agirá para capturar esta energia e redirecioná-la para a via institucional e parlamentar, numa tentativa de reconquistar seu paraíso perdido e voltar a ser governo.

dos vários impasses nos quais estamos mergulhados, este é um dos mais perturbadores: o choque entre a criatura e o criador, entre personagem e autor. talvez Lula e o Lulismo já não possam mais conviver na mesma pessoa.

seja como for, para nosotros a questão há muito deixou de ser "O que fazer?". e a resposta ao "Como fazer?" vem pelo fazer-se movimento em marchas e caravanas.
.

02 novembro 2017

os Brasis: entre verdades impossíveis e narrativas imprecisas, a busca de alguma compreensão

02/11/2017


texto a seguir elabora conexões com o comentário "Tenho insistido sobre dois pontos", de Policarpo.

conjuntura: talvez a mais forte característica do processo em curso no Brasil seja o retorno do debate político, algo que só tem paralelo em sua intensidade no ocorrido durante o período da luta pela redemocratização, a partir de 1977 indo até a primeira eleição direta pós Ditadura Civil-Militar, em 1989. dentro da conjuntura imediata, há uma retomada da mobilização contra o Golpe, interrompida após a Ocupação de Brasília (24-MAI-2017). um novo ciclo se abre. mais uma volta nas espirais.

estamos sendo arrastados pelo rio revolto da política, já não mais comprimida entre as margens da conciliação e do golpismo. é o próprio rio que nos acena, vindo ao nosso encontro, atendendo ao nosso chamado. o que faremos, nós que uma vez ousamos nos chamar de Brasileiros? correremos, fugiremos, arrepiados de pavor? ou nos colocaremos em nossa canoinha de nada, nessa água que não para, de longas beiras? eu vou! por que não? e, nós, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro - o rio.

sobre os dois pontos: uma "abordagem política realista" implica a permanente reavaliação da correlação de forças, pois esta é dinâmica e se altera sob a constante pressão do movimento popular. neste sentido, "os espaços e, principalmente, os instrumentos tradicionais da política" são claramente insuficientes para alterar a correlação de forças. a via institucional e parlamentar não deve ser negligenciada e desprezada, mas compreendida com secundária e complementar. porque se trata não exatamente de "uma partida de xadrez, e sim um cenário de guerra". o principal campo de batalha das lutas contra o Golpe de 2016 situa-se na permanente retroalimentação entre as redes e as ruas: ação e comunicação. neste sentido, a guerra de narrativas também interfere na correlação de forças geral.

“A guerra civil é a matriz de todas as lutas de poder, de todas as estratégias de poder e, por conseguinte, também a matriz de todas as lutas a propósito do poder e contra ele.”
entreouvido numa das aulas de Foucault

sobre as três lições: sendo o alvo principal do Golpe de 2016 "a Democracia", posto "as derrotas eleitorais sucessivas", fica evidenciado não estarmos em luta "contra forças políticas democráticas". vivemos a emergência no Brasil de um Estado Pós-Democrático, no qual "a soberania popular, o voto, a regra da maioria e o principio da representação" já não são a normalidade democrática. o que era exceção no Estado Democrático de Direito se torna regra na pós democracia, com a normalização da violação dos limites democráticos equivalendo ao desaparecimento destes mesmos limites. disto decorre a suspensão dos direitos fundamentais e a aplicação do direito penal do inimigo. confirma-se assim "um cenário de guerra" contra os indesejáveis e descartáveis, dos quais é cassada a cidadania, já que dentro do modelo neoliberal de "cidadania" apenas gozam de "direitos" os inseridos no mercado: úteis na produção de mercadorias e dóceis para consumi-las.

" Fazer os cidadãos petrificados compreenderem que mesmo que não entrem em guerra, já estão nela de qualquer jeito. Que ali onde é dito que é isso ou morrer, é sempre, na realidade, isso e morrer."
"COMO FAZER?", Tiqqun

uma outra lição: não sairemos deste Golpe pelo mesmo caminho a que até ele chegamos. não haverá retorno a uma limitada Democracia Representativa e ao finado Estado Democrático de Direito. se já não há saídas, temos diante de nós dois portais: ou entramos num regime abertamente autoritário, ou compreendemos ser o próprio conceito de representação política o que precisa ser questionado e superado. o que torna uma Democracia forte não são exatamente instituições sólidas e permanentes. e sim a forte e constante presença do Poder Instituinte, inclusive no seu aspecto destituinte. é ao se auto-organizar que a sociedade muda a si própria, através de uma práxis instituinte.

"En contraste con el Estado moderno, el Imperio no niega la existencia de la guerra civil, la gestiona."

sobre os erros do PT e dos governos Lula e Dilma: afirmar que "o Golpe não é resultado dos erros do PT" é contraditório com a constatação dos fatos: "fomos incapazes de evitar nossa derrota acachapante: sem resistência ao ataque, e fomos a reboque dos acontecimentos e fomos incapazes de sequer organizar a retirada". o que não quer dizer que o Golpe de 2016 seja única e exclusivamente resultado dos erros do Lulismo. de todos estes erros, inclusive os já admitidos por Lula ele mesmo, o maior deles foi não compreender que sua estratégia de conciliação permanente tinha data de validade. este prazo expirou em Junho de 2013, que longe de ser um raio em céu azul foi o definitivo aviso de incêndio. outro erro é não aceitar ser 2018 um ano longe demais. a luta contra o Golpe de 2016 deve ser travada aqui e agora, não vai ser decidida mais tarde por algum candidato hipotético numa eleição viciada. nem o jogo do xadrez do golpe, e muito menos a guerra civil híbrida em que já mergulhamos, irão pacientemente aguardar enquanto fazemos planos para 2018. ocupar hoje os territórios do futuro e fazer-se movimento em marchas e caravanas.

A guerra civil é um processo em que os personagens são coletivos e em que os efeitos são, acima de tudo, a aparição de novos personagens coletivos. A guerra civil não se limita a colocar em cena elementos coletivos, ela os constitui. A guerra civil é o processo através e pelo qual se constitui um certo número de coletividades novas, que não tinham surgido até aí.”
"A Sociedade Punitiva", Foucault


Policarpo
seg, 30/10/2017 - 12:08

Tenho insistido sobre dois pontos que considero fundamental e que em minha opinião tem sido negligenciado no debate político atual.

Os dois pontos que levanto são: primeiro, a necessidade de uma abordagem política realista (que não significa nem conformista, nem resignada e muito menos anti-utópica) e, segundo, a necessidade de saber utilizar e valorizar os espaços e, principalmente, os instrumentos tradicionais da política (que não significar desvalorizar ou negligenciar os novos espaços e ou os novos instrumentos).

A primeira grande lição que devemos tirar é que o Golpe de Estado nasce, antes de tudo, de uma necessidade e, como ensina o filósofo florentino, "as necessidades podem ser muitas, mas a mais forte é aquela que te obriga a vencer ou morrer". Depois da quarta derrota eleitoral consecutiva estava claro para as forças golpistas que não havia alternativa, que o caminho democrático das urnas parecia estar bloqueado e que, portanto, nenhum esforço deveria ser economizado, nenhum escrúpulo de consciência poderia ser levado em conta, se queria obter de novo aquilo que as urnas não os podia dar.

E, como consequência disso, a segunda grande lição que devemos sacar do Golpe de Estado é que ao contrário do que imaginamos (ou do que gostávamos de acreditar) não estamos lutando contra forças políticas democráticas.

E a terceira é que fomos incapazes de evitar nossa derrota: não pudemos resistir ao ataque, e como não escolhemos nem o campo de batalha e nem as armas políticas sofremos uma derrota acachapante, fomos a reboque dos acontecimentos e fomos incapazes de dispor de recursos se quer para organizar a retirada.

Sim, isso não é uma partida de xadrez, isso é um cenário de guerra para o qual não nos preparamos e não pudemos sequer lutar. O primeiro movimento foi bastante claro a confusão e a desorganização na retirada.

Mas como tudo na vida esse momento já ficou para trás e agora o tempo, se bem aproveitado começa a correr em nosso favor e em contra das forças golpistas que apesar de ter muito claro o objetivo final começa a cometer muitos erros e ser escrava e se enredar em sua própria narrativa e contradições, a maior e mais clara, de não saber jogar o jogo democrático.

O Golpe não é resultado dos erros do PT, mas, justamente o contrário, ele é resultado dos acertos do PT. Ele é uma imposição para as forças políticas contrárias ao PT e seu campo político.

Quando as forças antipetistas põe em movimento a estratégia do Golpe de Estado o alvo não é o PT, como adversário político, o alvo é a própria democracia, mesmo essa franzina e severina, ela opera contra o mais básico e o mais fundamental de seus mecanismos, a soberania popular, o voto, a regra da maioria e o principio da representação.

Insisto na imagem do filme da Vida de Brian, paremos de ser a frente judaico da palestina e sejamos todos maria madalenas

vídeo: Monty Phyton - A vida de Brian - Reunião de Ativistas


vídeo: A frente popular da judeia - Monty Python -A vida de Brian


vídeo: Unificação dos Movimentos de Esquerda - Monty Phyton: A Vida de Brian

.