24 fevereiro 2018

os Brasis: o colapso como sistema

24/02/2018




I

aquilo que nos acostumamos a chamar de mundo está em colapso.

II

tanto a sociedade como os indivíduos nada mais são do que duas perspectivas diferentes das relações sociais. estas são uma rede complexa de interconexões dinâmicas em constante retroalimentação. cada nó desta rede produz como efeito aquilo que denominamos de indivíduo, enquanto a rede ela própria seria a sociedade. chamamos de mundo o modo como experimentamos este conjunto de interconexões. se o mundo está em colapso isto implica que são as relações sociais que estão em colapso. ou dito de outra forma: estão num agudo processo de reconfiguração.

III

este colapso, ou esta reconfiguração, está sendo experimentado pelos indivíduos, ou as pessoas, como uma negação, como se não estivesse de fato ocorrendo. porque este colapso é o colapso de um modo de vida, de um jeito de se viver. há a ilusão do modo de vida ser o bote salva-vidas capaz de garantir a sobrevivência em meio ao grande naufrágio, enquanto o que está de fato naufragando é o modo de vida.

IV

portanto, o que está em colapso, ou em reconfiguração, é o próprio modo de vida. quanto mais a ele nos agarramos, mais experimentamos, mesmo sob o prisma da negação, o seu colapso.

V

a reconfiguração do modo de vida é inexorável, inelutável, inescapável. o capitalismo global financeirizado cruzou uma fronteira a partir da qual outro modo de vida por ele está sendo implantado, como decorrência de um outro modo de produção.

VI

o modo de produção não se restringe ao plano econômico. abrange o conjunto do que denominamos de realidade, sendo esta o resultado do próprio processo de produção. cada modo de produção produz sua própria realidade.

VII

a reconfiguração do modo de vida se dá através da governamentalidade. esta deve ser entendida não como um regime de governo e sim como um modo de vigiar e controlar, a fim de configurar as relações sociais para produzirem o feed-back arquitetado no design do sistema.

VIII

migramos de uma governamentalidade sob o modelo da economia política para um paradigma cibernético. no qual a mercadoria mais importante é a informação. seu processamento ocorre num fluxo incessante, através de uma coleta e análise 24x7 de dados, para produzir informações e gerar  inteligência. produção-distribuição-consumo já não são instâncias delimitadas, e sim superpostas e interconectadas. a palavra cibernética em sua origem grega tem o significado de "governança".

IX

como em todo o período de transição, o upgrade de uma obsoleta forma de se governar "abre uma fase de instabilidade, uma clarabóia histórica onde é a governamentalidade enquanto tal que pode ser colocada em xeque".

X

colocar em xeque a governamentalidade é desenvolver um outro modo de vida. portanto, não se trata de se ater a um modo de viver descontinuado, o que seria de todo impossível pois este tende a desaparecer sob a configuração da nova versão de processamento. muito menos submeter-se voluntariamente ao novo modo de vida imposto pelo capitalismo cibernético, incorporando a atualização de seus algorítmicos.

XI

um outro modo de vida é também um outro modo de se fazer política. assim como a governamentalidade cibernética não elimina a econômica, apenas acima dela inclui um outro nível que determina os inferiores, um outro modo de se fazer política também incorpora alguns elementos anteriores por compatibilidade, mas os reconfigura sob uma nova versão.

XII

um outro modo de se fazer política se funda não em propostas de governo, ou mesmo em propostas de sociedade ou país, mas sobretudo numa proposta de um outro modo de vida. há muito já não se trata de uma luta restrita ao plano eminentemente econômico e institucional, sendo este o principal motivo de seu repetido fracasso. a definitiva questão a ser constantemente colocada é também a única maneira de enfrentar e superar o atual colapso: qual a vida que desejamos levar?


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21 fevereiro 2018

os Brasis: o Rio da minha terra...

21/02/2018



{remake: uma memória tão seletiva quanto a indignação}

a militarização da segurança pública no Rio de Janeiro não começa agora com esta intervenção promovida por Temer, vem de antes, mesmo durante os governos Lula e Dilma. principalmente pela Ocupação do Complexo do Alemão (2010 a 2012), durante a Copa de 2014 e a Ocupação do Complexo da Maré (2014 a 2015).

"O regime está fechando suas garras contra os brasileiros mais vulneráveis e que mais precisam de Justiça"

30/03/2014: Justiça do Rio expede mandado de busca e apreensão coletivo autorizando a Polícia Civil a fazer revista nas casas dos moradores das favelas Nova Holanda e Parque União, no Complexo da Maré.

19/12/2013:  o então ministro da Defesa, Celso Amorim assina a portaria 3.461, para regulamentar o dispositivo de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), sobre a utilização das Forças Armadas em situações de manutenção da segurança pública.

{mapa da operação: siga o rastro do dinheiro}

no teatro de operações do Rio de Janeiro, a guerra contra o crime organizado deve ser travada bem longe das favelas. seu encaminhamento lógico obedece a um percurso facilmente identificável no mapa da cidade:

1. operação se inicia com um par de rosas, uma branca outra vermelha, depositadas aos pés do estátua de Tiradentes, aquele que se mil vidas tivesse, todas elas daria em prol da independência do Brasil;

2. blitzkrieg contra a ALERJ e o TJ-RJ, ocupadas simultaneamente, enquanto no Palácio Guanabara comandos descem de rapel dos helicópteros. são capturados os gestores dos 3 Poderes a serviço do crime organizado e financiado pelos grandes empresários, também seus maiores beneficiários;

3. tomada da Fetranspor, fortaleza da caixa-preta do transporte público, na qual estão depositados os segredos da Elite do Atraso carioca e fluminense, com todas as suas ligações perigosas;

4. rápido avanço até a FIRJAN, reduto de golpistas e parasitas dos recursos públicos;

5. enquanto o inimigo recua desordenadamente, forças especiais ocupam os prédios do BC no Rio, baluartes do rentismo e da financeirização;

6. tropas paraquedistas libertam os prédios da Petrobrás, do BNDES, do BB e da CEF das garras da ORCRIM Lava Jato & Associados, recuperando-as para a soberania nacional;

7. na zona Sul, blindados sobre rodas bloqueiam a Rua Von Martius, dando suporte para fuzileiros navais invadirem a sede da Rede Globo, ao mesmo tempo em que a Infantaria Ligeira aerotransportada pousa no PROJAC;

8. na Rua Evaristo da Veiga, entre a Cinelândia e a Lapa, os coronéis "mão-de-macaco" da genocida PM-RJ são levados, sem farda, e embarcados direto para prisão militar;

9. na Rua Frei Caneca, os Fuzileiros Navais cercam o Batalhão de Choque. viciada em chacinar moradores e trabalhadores indefesos, e pela primeira vez enfrentando tropas armadas e treinadas, a unidade se entrega sem qualquer resistência. seus integrantes são detidos para triagem e avaliação;

10. o BOPE sufoca a dissidência interna, prende os traidores do povo em suas próprias fileiras e adere a guerra de libertação do Rio de Janeiro. seu efetivo desbarata em questão de horas toda a rede de recepção, armazenamento e distribuição do narcotráfico na cidade: missão dada, missão cumprida.

{as FFAA como tropa de ocupação em seu próprio país}

" Os procuradores e juízes brasileiros, na cruzada anti-corrupção contra o desgoverno do PT, deram respaldo à mudar regras de exploração do Pré-sal, a nossa joia da coroa. [...]
Depois dos leilões na bacia do pré-sal, cumprida a missão de desnacionalizar a Petrobrás, a grande mídia não mais fala em corrupção. [...] 
Pior ainda: cada vez mais surgem rumores de que o presidente Temer teria sido informante de órgãos de inteligência dos EUA. [...]
Talvez até sejamos envolvidos em alguma guerra que não é nossa. A tropa que mandaremos para a República Centro Africana servirá de ensaio?"
Gelio Fregapani - 20/02/2018

como parte do setor dominante brasileiro, o alto oficialato das FFAA é, em grande parte, tão delirante e desconectado da realidade quanto aquele.

mesmo após o choque de realidade do atoleiro do Haiti e do lodaçal da ocupação das favelas cariocas... como se não bastasse a versão desonrosa de "suicídio" sobre o Gal. Urano e o infarto fulminante do Gal. Jaborandy... ainda por cima com os constantes envolvimentos de seu pessoal de baixo escalão com tráfico de drogas e armas...

paralisados no tempo e no espaço, com sua doutrina militar ainda congelada na Guerra Fria, vão se embrenhar em seu lamaçal derradeiro na selva urbana do Rio de Janeiro. mais uma vez se prestando ao ridículo papel de marionetes e fantoches de uma lumpenburguesia apátrida.

jamais admitiram seus crimes dos anos de chumbo.

jamais compreenderam o quanto foram usados por uma lumpenburguesia apátrida que os fez de porteiros e verdugos nos sangrentos porões da Ditadura Civil-Militar, enquanto mantinham suas próprias mãos imaculadas e com as unhas bem aparadas e polidas.

jamais tiveram a menor inteligência estratégica para formularem que os maiores responsáveis pela tortura são os que a financiaram: a escória do grande empresariado brasileiro. principalmente, a escória paulistana quatrocentona.

ao contrário de 1964/1968, nenhum Milagre Brasileiro ocorrerá para fornecer um alto e constante crescimento do PIB, mesmo sem repartição do bolo ainda assim sobrando míseras migalhas para a multidão de pobres e deserdados.

guerra ao terror. guerra às drogas. guerra à corrupção. guerra ao crime. guerra sem fim. a guerra como negócio. mas a única guerra que sempre foi constante e impiedosamente travada é a Guerra ao Povo Pobre, principalmente contra o Povo Negro...

se já não haverá explosão social, devido a uma sangrenta repressão, temos todos um encontro inexorável com a entropia, a necrose do tecido social. combinando-se uma superposição de colapsos: político, institucional, social, financeiro, econômico... e para culminar, a irreversibilidade de uma extrema mudança climática.

nenhum lugar para correr. nenhum retorno. ninguém será poupado. Que Deus tenha misericórdia desta nação.

"Eu pensei... Estamos aqui apontando armas para a população brasileira. Nós somos uma sociedade doente!"
(sobre a Ocupação da Maré)

{somos todos Palestinos, a Síria é aqui}

enfim é corajosamente pela primeira vez nomeado o elo perdido de ligação do Golpe de 2016 com o Império do Caos.

o General Comandante das forças Anglo-SioNazi devastando o Brasil sob o paradigma da Faixa de Gaza, com seus humilhantes check-points, seus campos de concentração de uma população inteira, seu bombardeios com fósforo branco e completa demolição vilas, da Guerra Sem Fim contra o Povo de uma Terra Sem Povo.

"A saída pela via militar estava prevista desde o início do impeachment. E a peça central sempre foi o general Sérgio Etchgoyen, nomeado para Ministro-Chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI)."
Luis Nassif - 19/02/2018

em 16/05/2017,  arkx postou:

"em 1964, o golpe foi formulado, financiado e comandado por Lincoln Gordon, então Embaixador dos EUA. quem é seu equivalente hoje?
este golpe tem um Alto Comando, dele faz parte o PGR. mas este golpe tem também um Comandante em Chefe.
o Comandante em Chefe deste golpe é um Sionista."

num delírio definitivo, os Proprietários da Humanidade intencionam deflagrar o holocausto nuclear, do qual pretendem sobreviver fazendo o upload de suas consciências para a Web of Life, ou se abrigando nos luxuosos condomínios dos bunkers subterrâneos, supondo ser possível fazer renascer o mundo a partir dos bancos de semente armazenados sob o gelo do círculo polar Ártico.

estamos buscando racionalidade onde já não há alguma! Das Kapital cruzou sua fronteira terminal, para nosostros por suposto. e sua irracionalidade intrínseca está enfim fora de qualquer controle.

as trincheiras da I Grande Guerra, o desembarque na Normandia no Dia D e os genocídios de Dresden, Hiroshima e Nagasaki terão sido apenas comedidos balões de ensaio frente ao que se aproxima.

o surgimento da singularidade científica é seu esperado Messias. o Terceiro Templo não se fará de pedras, pois já não restará nenhuma, levando sua edificação à rede virtual populada por avatares.

na barbárie da Guerra Mundial Híbrida em curso, sob as benções do Senhor dos Exércitos do Armado Deus de israHell, um abismo chama outros abismos.

Hy-Brazil deve ser destruído. mas este país está condenado a ser livre e se tornar não uma grande potência, mas tão somente a luz do mundo e o sal da terra.

isto tudo já aconteceu. déjà-vu.

o Rio da minha terra deságua em meu coração...




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15 fevereiro 2018

os Brasis: Lula aprisionado

15/02/2018


enredada nas próprias pernas, sem clareza e coragem para o rumo certo seguir, a quase totalidade das forças de Esquerda no Brasil permanece no desgaste de um giro em falso, apenas escavando um abismo sem fundo sobre seus pés, consumindo-se em dúvidas e ilusões na mais complexa e perigosa de todas as encruzilhada da História do Brasil.

os mortos se negam a enterrar os seus mortos. a veneração por uma tradição anacrônica persiste em oprimir a criatividade dos vivos, impedindo a aprendizagem de um novo idioma, para então tornar possível arrancar poesia ao futuro, ao se libertar definitivamente dos fantasmas do passado.


num país com um STF e um MPF que mantém intocáveis Gilmar Mendes, Cunha, Temer, Daniel Dantas, Aécio, Renan, Sarney, Moreira Franco e todos os inúmeros demais associados da organização criminosa responsável pelo golpe de Estado, neste país o lugar de Lula é sim na cadeia!

no Brasil pós golpe, o lugar de cada democrata é na cadeia! o lugar de cada defensor de um projeto de desenvolvimento com inclusão social é na cadeia! o lugar de todos nós é na cadeia!

e a única maneira de não acabarmos no lugar a nós reservado neste Brasil dominado por uma plutocracia colonial e escravagista é não sair das ruas.

nada muda. tudo se repete. quanto mais a situação se agrava, reincide também a vã e absurda esperança numa solução mágica. mas os velhos feiticeiros já não podem se valer de seus antigos feitiços. o mundo mudou. e a mudança prossegue em ritmo veloz.

“Pois aqui, como vê, você tem de correr o mais que pode para continuar no mesmo lugar. Se quiser ir a alguma outra parte, tem de correr no mínimo duas vezes mais rápido!”

não! não haverá Eleições de 2018. este é um evento para sempre longe demais. com Lula ou sem Lula, não será pela via eleitoral que o Golpe de 2016 será derrotado. as Eleições de 2018 ou simplesmente não acontecerão, ou serão tão viciadas a ponto de não fazer a menor diferença. seja farsa ou tragédia, o caminho das urnas está interditado.

não! nenhuma pax nos salvará. estamos no epicentro de uma Guerra Mundial Híbrida. queiramos ou não, aceitemos ou não, já estamos de qualquer jeito num guerra de extermínio. só nos cabe lutar por nossa sobrevivência. e isto só pode ser feito coletivamente e de modo organizado.

não! nenhuma instituição está funcionando normalmente. após 13 anos de Lulismo, nenhuma democratização foi promovida e agora as instituições estão dominadas pelos golpistas: STF, PGR, MPF, PF e FFAA. não restou pedra sobre pedra. obediente ao sócio majoritário global, o setor dominante brasileiro é um gestor local que fez uma opção sem volta: por um Estado Pós-Democrático a serviço de um selvagem neo-liberalismo.

não! não há saída para a crise! já não se trata de uma crise a qual se possa superar. a crise veio para ficar como regime permanente de exceção. é esta realidade que precisa ser aceita, analisada, enfrentada e combatida. só há portais de entrada: ou um totalitarismo neo-colonial e semi-escravocrata, ou um novo ciclo de lutas autônomas e emancipatórias.

sim! Lula será preso! a prisão de Lula já esta dada e decidida desde sempre pela Lava Jato & Associados. o Império não abrirá mão disto, assim como não abrirá mão da Síria. embora distantes, as situações são análogas. a Síria é aqui, a Palestina é aqui. vivemos os mais difíceis dos tempos: a queda inexorável de um Império, o mais poderoso Império já constituído em toda a História. o primeiro Império Global: o Império do Caos. este Império está ruindo. sofremos no Brasil os impactos desta queda.

não! não haverá um levante de massas desencadeado pela prisão de Lula! apenas em situações raras, nas insurgências, as massas se movem espontaneamente. mais uma vez "Olhai para o Irã": um movimento sem organicidade não pode se sustentar por muito tempo sob forte repressão;

não! Lula não pode ser preso! Lula precisa ser escoltado por uma força-tarefa para um asilo político numa Embaixada de um dos países dos (B)RIC(S), permanecendo no Brasil, mas à salvo de uma caçada implacável que o coloca inclusive sob risco de vida. o impacto político e diplomático deste fato vai ser um importante vetor para contra-balançar a correlação de forças.

sim! Lula já está preso! e não apenas ele, como praticamente toda a Esquerda brasileira. aprisionados em velhos paradigmas com validade vencida, em modelos teóricos defasados, em práticas obsoletas. esta gigantesca atualização é uma das mais urgentes tarefas a ser executada pela Esquerda. esta aprendizagem de um novo idioma, para se mover por uma cartografia ainda desconhecida, equivale a uma libertação.

"De maneira idêntica, o principiante que aprende um novo idioma, traduz sempre as palavras deste idioma para sua língua natal; mas só quando puder manejá-lo sem apelar para o passado e esquecer sua própria língua no emprego da nova, terá assimilado o espírito desta última e poderá produzir livremente nela."

voltamos 40 anos no tempo. estamos novamente em 1978, nas primeiras greves do ABCD. com todo aquele amplo, fértil e muito perigoso debate sobre como lutar para por abaixo a Ditadura.

"Fora, Temer!"
"Abaixo a Ditadura!"

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05 fevereiro 2018

os Brasis: depois de 24-JAN-2018 (II)

05/02/2018



"Vou resumir: Lula é refém que imagina que pode negociar o próprio sequestro, enquanto diz que está no cárcere por vontade própria..."

embora seja um marco importante, 24-JAN-2018 não se constitui em nenhuma inflexão no percurso do interregno pelo qual o Brasil perambula, sem ainda encontrar direção certa a seguir.

desde o impeachment estamos numa Ditadura, aprofundando-se através do arbítrio conjugado e retro-alimentado de praticamente todas as instituições. as meras formalidades mitigadoras cumprem uma função mínima de manter as aparências, para legitimar "instituições em funcionamento" e "ritos cumpridos".

trata-se agora de pura e total hipocrisia, sem o vício ter qualquer pudor de não mais prestar nenhuma consideração à virtude.

o Judiciário é o mais anti-Democrático dos poderes, completamente desvinculado da soberania popular e sem qualquer controle social. Juízes, Desembargadores e Ministros comportam-se de modo generalizado, com as honrosas exceções, como os donos da Justiça e, portanto, acima da lei. enquanto são, na verdade, servidores públicos.

um Judiciário venal, classista, corporativo e partidarizado fornece a blindagem jurídica da Democracia sem voto. por sua interpretação seletiva e arbitrária das leis se cumpre a nova Constituição, pela qual está garantida a intocabilidade dos juros pagos aos rentistas.

dada a completa financeirização da economia brasileira, todas as grandes empresas atuando no país obtém grande parte, senão a maior, de seus lucros por meio de operações no mercado financeiro.

o setor dominante no Brasil tornou-se uma nova aristocracia, sem qualquer base social e com nenhum outro compromisso a não ser com seus próprios interesses e com a continuidade de suas capitanias hereditárias.

com o selvagem assalto à renda e ao patrimônio público, acompanhado de avassaladora cassação de direitos, o setor dominante não consegue viabilizar nenhum candidato próprio. todos os seus balões de ensaio inflados artificialmente estouram muito antes de estabilizarem vôo.

os velhos feiticeiros já não podem se valer de seus antigos feitiços. FHC pretender reconstruir o "centro-democrático" em torno de Alckmin é algo tão improvável quanto Haddad ter êxito como o novo "poste" de Lula.

Rodrigo Maia, Dória, Huck, Henrique Meirelles são as muitas máscaras para disfarçar a ausência de um rosto. seu nome é iniquidade. seu projeto de país são cinco brasileiros com renda superior à metade da população.

Bolsonaro vem a ser nada mais do que uma grotesca caricatura da atual ruptura com os resquícios de Democracia. e Marina Silva apenas expressa fisicamente a débil vitalidade do setor dominante para liderar o Brasil.

seja qual for o desenlace da disputa em torno das pré-candidaturas, o cerne da questão continua intocado: o avanço de uma selvagem política econômica neoliberal é incompatível com qualquer estabilidade social. e portanto, democrática.

pois estão sendo destruídas as mínimas condições de qualquer recuperação do crescimento da economia e da recomposição da renda do trabalho. o caos e a barbárie prevalecerão.

o setor dominante se nega compreender estas inevitáveis consequências. em parte por acreditar piamente nos dogmas neoliberais, e por outro lado devido a sua completa leviandade e total descompromisso quanto ao destino do país.

para consumar sua política sem povo, a lumpenburguesia neo-colonial e semi-escravagista pretende eleger um outro eleitorado. não lhe restará opção, mesmo fazendo o próximo Presidente, a não ser fechar completamente o regime.

o Brasil marcha para uma inexorável explosão.

esta explosão se processa através de duas linhas de força: a do setor dominante e a da resistência popular.

este não é um processo linear, ocorre por ondas. daí a percepção equivocada de em alguns momentos refluir, o que só ocorre para um recrudescimento ainda mais violento.

estas ondas estão destruindo por completo a já frágil institucionalidade brasileira, desembocando num completo estado de exceção. a exemplo da travessia entre 1964 e 1968, guardadas as devidas peculiaridades.

o setor dominante brasileiro é completamente despreparado para gerir o caos e a barbárie por ele mesmo criados. ao contrário do Golpe de 1964, nem mesmo os militares terão possibilidade de fazê-lo.

entre 1964 e 1980, o alto e constante crescimento do PIB foi a grande política compensatória do déficit democrático. algo fora de questão atualmente, dado o contexto mundial de crise estrutural do Capitalismo

o Lulismo e o PT continuam completamente aturdidos, em estado de negação da realidade. não tem qualquer condição de coordenarem a linha de força da resistência popular.

Lula deveria ter urgentemente um plano de contingência para asilo político. óbvio que o asilo político traria repercussões diplomáticas, pelo reconhecimento implícito da perda de garantias individuais, caracterizando a situação ditatorial no Brasil.

gerou-se no Brasil uma situação inédita em nossa História: um impasse frente ao qual a única forma de superação será justamente através das "medidas populares". ou seja: o grande capital pagar o pato de uma crise por ele desencadeada.

para um golpe cujo objetivo foi aplicar "medidas impopulares" impossíveis de serem aprovadas nas urnas, não deixa de ser uma das cruéis ironias da História.

a complicada conjuntura com seus desdobramentos de contínuo agravamento exige um imediato reposicionamento da Esquerda.

voltamos 40 anos no tempo. estamos novamente em 1978, nas primeiras greves do ABCD. com todo aquele amplo, fértil e muito perigoso debate sobre como lutar para por abaixo a Ditadura.

"Fora, Temer!"
"Abaixo a Ditadura!"

"No mercado chegamos ao ponto que dinheiro virou fim em si, na segurança pública, o uso da força estatal assumiu contornos de disputa pelo uso da violência em si, na mídia, a mensagem virou fim em si, no judiciário, o processo também saiu de meio para fim em si, e no caso da política, Lula elevou a conciliação a fim em si...
É, então, o fim..."
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03 fevereiro 2018

os Brasis: depois de 24-JAN-2018

03/02/2018

muito embora ainda fossem acalentadas pelo Lulismo algumas cândidas esperanças quanto a um resultado diferente, 24-JAN-2018 é apenas mais uma brutal queda no deserto do real, confirmando uma sentença longamente anunciada.

a cada nova derrota sofrida, o Lulismo renova suas ilusões, reincide seus erros, repete as mesmas opções, sem jamais colocar como pauta prioritária o movimento autônomo de massas como o único poder capaz de contrabalançar a correlação de forças.

primeiro foi o Plano Levy, a Carta ao Povo Banqueiro Brasileiro de Dilma Roussef, uma desastrada e anacrônica tentativa de reeditar a Pax Lulista de 2002.

FEBRABAN, CNI, CNT, CNS, FIESP e FIRJAN emitiram protocolares notas de apoio ao governo, como se todos eles já não estivessem pactuados quanto a sua queda. os lucros dos bancos bateram novos recordes e o Brasil mergulhou de vez na recessão, da qual até hoje obviamente não conseguiu se erguer. a já estreita base social de Dilma se corroeu definitivamente, ficando desimpedida a via expressa para o golpe.

em seguida, sobreveio a patética ilusão quanto a ser possível barrar o processo de impeachment pela via jurídica, ou viabilizar alguma alternativa através de negociação política.

mesmo impedido por Gilmar Mendes de ser nomeado Ministro da Casa Civil, Lula assumiu na prática o governo e o transferiu para uma suíte de luxo do hotel 5 estrelas Golden Tulip Alvorada. as barganhas horrorosas e conchavos vergonhosos fracassaram. e o Brasil assistiu horrorizado e envergonhado a um teatro de vampiros na votação da admissibilidade do impeachment, a hipócrita encenação dirigida sem misericórdia por Eduardo Cunha.

Famiglia unida, vota unida. os grandes empresários disponibilizaram seus jatinhos isentos de IPVA para transportar o voto "SIM", buscando os Deputados de "onde fosse necessário". e as empresas "campeões nacionais" capitalizadas via financiamento público fornecido pelo BNDES, bancaram através destes mesmos recursos a compra de votos do Golpeachment.

passo a passo, a medida em que a crise se agravava e aprofundava, não apenas politicamente mas com gigantesco custo social e econômico, a única proposta do Lulismo jamais deixou de ser sua  tradicional via da conciliação permanente, mesmo com a objetividade dos fatos deixando inquestionável não mais existir qualquer viabilidade para isto.

entre o escárnio da condenação de Lula sem provas pela Lava Jato & Associados, e o deboche do julgamento do recurso pelo TRF-4, realizado indecorosamente um ano após o AVC de Marisa Letícia, o Lulismo tentou insistentemente, por todos os meios e de todas as formas, adquirir seu passaporte de ingresso no Pacto à la Brasil, o atávico acordo palaciano entre as elites.

na véspera da sentença, o Lulismo ainda julgava ser razoável alimentar expectativas otimistas, enquanto todos os sinais indicavam um cenário de uma combinada condenação por unanimidade, como etapa imediatamente anterior a determinação de execução da pena.

depois de 24-JAN-2018, algo mudou?

o Lulismo ocupou as ruas e as redes mantendo de pé a mobilização e a organização da luta contra o Golpe de 2016? ou persiste em se arrastar agachado pelos bastidores sorrateiros em busca do acordo impossível?

enquanto uma heróica resistência se processa nas redes denunciando o Judiciário, o bonitão predileto do Lulismo e candidato a poste sem alça da vez, Fernando Haddad, dá entrevista à Globo News, tão satanizada mas sempre bajulada e frequentada, para defender a candidatura Temer e presumir do STF o benefício da clemência para Lula: "Creio que o STF vai analisar com muito cuidado e, quero crer, ele vai receber o benefício".

após décadas se esquivando das bases, asfixiando o movimento popular e sabotando o surgimento de novas lideranças, como o Lulismo conseguirá recuperar rapidamente tanto tempo perdido?

atualmente o PT conta com uma bancada de 57 Deputados Federais. de quantos deles poderíamos citar espontaneamente seus nomes? quantos tiveram atuação decisiva em suas bases na luta contra o Golpe de 2016? qual a contribuição para esta luta vinda dos 5 governadores do PT, incluindo estados com maior população e recursos econômicos como Minas, Bahia e Ceará, além de uma escandalosa omissão? e aqui honre-se com louvor a Flávio Dino, não por coincidência do PCdoB.

em se tratando de colocar novamente o retrato do velho no mesmo lugar, nosotros jamais esqueceremos Getúlio Vargas: "No Brasil não basta vencer a eleição, é preciso ganhar a posse!".

a eleição se vence com o voto nas urnas. mas para ganhar a posse, e mais importante manter o mandato e concretizar as transformações, é necessário o constante e intransferível exercício da cidadania, construindo passo a passo o poder popular. e isto só pode ser feito na luta das ruas, e não simpaticamente no conforto de um estúdio da Globo News...
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