22 fevereiro 2008

socialismo ou morte

poucos assuntos são tão mal entendidos, tão manipulados e tão mal interpretados como a Revolução Cubana. [1]

se Fidel é o único mito vivo da História da Humanidade [2], o mérito é dos EUA. [3]

nos tempos heróicos da Sierra Maestra, Fidel e o Movimento 26 de Julho lutavam contra a ditadura de Fulgencio Batista, por uma Cuba democrática e não tinham nenhuma animosidade contra os EUA. [4]

mesmo após a derrota de Batista, Fidel Castro declarou à Associação de Banqueiros, em 06/03/1959, que desejava a colaboração deles. também afirmou, segundo o "News and World Report", não ter "nenhuma intenção de nacionalizar qualquer indústria". [5]

para os EUA, entretanto, Cuba era uma “fruta madura”, separada da árvore nativa, sem escolha além de apenas cair ao chão. força desligada do seu vínculo e incapaz de se auto-sustentar, gravitaria na direção dos EUA, o qual, pela mesma lei da natureza, não teria como segregá-la do seu seio. [6]

por sua localização geográfica, por necessidade e por direito, Cuba deveria pertencer aos EUA. [7]

a língua dos cubanos seria a primeira coisa a se eliminar, pois a língua latina bastarda de sua nação não resistirá por nenhum tempo ao poder competitivo do forte e vigoroso inglês. e o sentimentalismo político e suas tendências anárquicas serão eliminadas depois da língua e, de maneira gradual, a absorção do povo será absoluta, o que seria devido ao inevitável predomínio da mente americana sobre uma raça inferior. [8]

sendo os habitantes de Cuba, em regra, preguiçosos e apáticos, é claro que a anexação imediata de um número considerável de elementos tão perturbadores aos EUA seria uma loucura, e antes de colocá-la, haveria um saneamento da ilha, empregando o meio que a Divina Providência aplicou às cidades de Sodoma e Gomorra. [9]

assim, seria preciso destruir tudo aquilo que os canhões alcançarem a ferro e a fogo. e também aumentar o bloqueio a fim de que a fome e a peste, sua permanente parceira, dizimem a população. [10]

enquanto o comandante-em-chefe Fidel Castro declarava: “Queremos ter boas relações com os Estados Unidos, mas submissão, não” [11], a revista Time, de 06/04/1959, trazia um artigo afirmando: “o neutralismo de Castro é um desafio aos EUA”. [12]

embora o ideal de Fidel para Cuba fosse a democracia burguesa dos EUA, acabou sendo encurralado pelo próprio EUA, em cuja estratégia geopolítica há leis de gravitação política como as há de gravitação física. [13]

os governantes norte-americanos nunca deixaram de confessar, até com uma certa candura, verem Cuba como um país a ser incorporado aos EUA. [14]

na verdade, os EUA deixaram para Fidel uma única opção: “socialismo ou muerte”.


[1] Herbert Mattews, “Nos meus 30 anos no New York Times, jamais vi um grande assunto tão mal entendido, tão mal manipulado e tão mal interpretado como a Revolução Cubana”
[2] Lula, 19/02/2008
[3] Fidel Castro, “Si se me considera un mito, es mérito de los Estados Unidos."
[4] Fidel Castro, entrevista a Herbert Matthews, New York Times, 24/02/1957
[5] Peter Taafe, “Análise da revolução Cubana”
[6] John Quincy Adams, em 1817 como Secretário de Estado, em 1825-1829 cumpriu mandato como o 6º Presidente dos EUA
[7] The New York Sun, 05/1847
[8] The New York Sun, 05/1847
[9] plano de intervenção dos EUA em Cuba, apresentado em 24/12/1897, por Breckenridge,Secretário de Guerra dos EUA
[10] plano de intervenção dos EUA em Cuba, apresentado em 24/12/1897, por Breckenridge,Secretário de Guerra dos EUA
[11] Fidel Castro, entrevista a U. S. News and World Report
[12] Lázaro Barredo Medina, “O conflito mais duradouro da era contemporânea”
[13] John Quincy Adams, em 1817 como Secretário de Estado, em 1825-1829 cumpriu mandato como o 6º Presidente dos EUA
[14] Thomas Jefferson, um dos fundadores dos EUA, 1807, “Confesso com candura que sempre vi Cuba como o país mais interessante que se podia incorporar a nosso sistema de Estado.”

Nenhum comentário: